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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

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Entenda a motivação dos irmãos Brazão para encomendar morte de Marielle

Orientação de moradores em áreas de milícia e projeto sobre regularização fundiária irritaram os irmãos Brazão
25/03/2024 | 10h00

Por Igor Mello e Karla Gamba

Orientações de Marielle Franco a moradores de áreas de milícia em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio de Janeiro, foram o estopim para que os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, respectivamente conselheiro do TCE–RJ e deputado federal, encomendassem a execução da vereadora do PSOL.

Segundo as investigações da Polícia Federal, o destino de Marielle foi selado após um miliciano infiltrado pelos irmãos Brazão no PSOL relatar que ela havia orientado moradores a não ocupar áreas griladas por criminosos. O próprio executor do crime, o ex-policial militar Ronnie Lessa, contou que isso foi revelado a ele na reunião onde recebeu a proposta para cometer o crime. Após saberem das conversas de Marielle com moradores, os irmãos Brazão — que já tinham descontentamentos com Marielle por outras questões ligadas à regularização fundiária em áreas de milícia — decidiram matá-la.

“Ali DOMINGOS BRAZÃO, segundo LESSA o mais verborrágico da dupla, passou a limpo todo o contexto da demanda e indicou que havia alocado um infiltrado de nome LAERTE SILVA DE LIMA nas fileiras do PSOL para levantar informações internas do partido. Segundo LESSA, DOMINGOS lhe relatou, de forma superficial, que LAERTE o alertou que Marielle Franco, em algumas reuniões comunitárias, pediu para a população não aderir a novos loteamentos situados em áreas de milícia”, diz trecho da delação premiada de Ronnie Lessa”.

Laerte Silva de Lima é um miliciano da favela do Rio das Pedras, réu na primeira fase da Operação Intocáveis, ao lado de Adriano da Nóbrega, o Capitão Adriano, chefe do Escritório do Crime.

Votação na Câmara irritou Chiquinho Brazão

Outro elemento que levou o clã Brazão a mirar Marielle foi a votação do Projeto de Lei Complementar 174/2016, O texto prorrogou o prazo de vigência de duas outras leis que facilitavam a regularização de imóveis e terrenos em áreas controladas por milícias.

Marielle se opôs ao texto, que foi aprovado com apenas 27 votos favoráveis — apenas um voto acima do mínimo necessário para aprovar um projeto desse tipo, segundo o regimento interno da Câmara dos Vereadores.

Em depoimento, Arlei de Lourival Assucena, que atuava como assessor de plenário de Marielle na Câmara, conta que após a votação Chiquinho Brazão demonstrou “irritação fora do comum e jamais vista” com a vereadora, tendo cobrado ela de maneira ríspida — o que contrariava sua postura habitual, definida pelo assessor como “discreta e tranquila”.

O depoimento do assessor destaca que o projeto de lei era muito importante para os interesses da família Brazão no mercado imobiliário ilegal em áreas de milícia. Caso fosse rejeitado, não só os planos dos irmãos de construírem um loteamento no Tanque, bairro da Zona Oeste, seriam frustrados, como as autorizações para regularizar outras áreas perderiam a validade.

Marielle temia tema por considerar ‘vespeiro’, diz assessora

Outra assessora de Marielle na Câmara, Rossana Brandão Tavares, disse que a vereadora evitava exercer protagonismo nas discussões sobre regularização fundiária por saber que era um tema de interesse de milicianos.

Segundo Rossana, que era a responsável pelo tema no gabinete de Marielle, a vereadora “não gostava de mexer nessa temática por entender que se tratava de um verdadeiro “vespeiro”, já que notadamente milicianos tinham interesses em tal temática”. Contudo, acabava entrando em algumas discussões por demanda de movimentos sociais a quem era ligada.

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