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Projeto desenvolve desenhos para ilustrar sintomas da dengue para PcDs no Rio

A iniciativa é fruto de uma parceria entre a FioCruz, a SMPD e a SMS do Rio de Janeiro
29/03/2024 | 17h56

Por Gabriel Gomes*

A Universalização, com a saúde sendo um direito de cidadania de todas as pessoas, é um dos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Porém, muitas pessoas, como as pessoas com deficiência (PcDs), ainda enfrentam dificuldades de diferentes tipos para garantir o direito.

Uma das principais barreiras para muitas pessoas com deficiência é a dificuldade de se comunicar na hora que precisa de um atendimento ou interpretar uma informação sobre a saúde.

Justamente pensando nisso, no momento em que muitos estados do Brasil vivem uma epidemia de dengue, um projeto desenvolve quadros de desenhos que ilustram os sintomas da doença, como dor, febre e vômito para pacientes da Unidade Básica Zilda Arns, no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro.

A iniciativa, chamada de “O uso de Comunicação Aumentativa e Alternativa em serviços de Saúde”, é fruto de uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da FioCruz, e as secretarias municipais da Pessoa com Deficiência (SMPD) e da Saúde (SMS) do Rio de Janeiro.

Projeto

O projeto para facilitar a comunicação de pessoas com deficiência nos atendimentos em saúde iniciou em 2021, quando o Brasil vivia a pandemia de COVID-19. “As informações eram tão complexas que poucas pessoas teriam a oportunidade de entender, independente se eram pessoas com deficiência ou não… Entendemos a necessidade de produzir uma maneira de comunicação que atendesse a todas as pessoas”, explica a subsecretária da Pessoa com Deficiência do Rio, Flavia Cortinovis.

“Como você vai fazer, educar e ajudar na prevenção se você nem se comunica com a pessoa?”, questiona a pesquisadora da FioCruz Laís Silveira Costa, responsável pelo projeto.

Na época, a SMPD, em parceria com a FioCruz, começou a desenvolver as chamadas “pranchas”, que são folhas A3 ou A4 com desenhos, em comunicação alternativa, com todas as informações e processos sobre a doença (Antes, a Covid e agora, a dengue). Também foram feitas cartilhas com informações sobre a vacinação.

A ideia das “pranchas” é baseada na Comunicação Aumentativa e Alternativa, direito assegurado pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei 13.146/2015). Esse conceito busca assegurar a ampliação das habilidades de comunicação de pessoas com dificuldades no desenvolvimento e uso da linguagem.

O resultado e a experiência obtidos durante a pandemia de Covid-19 incentivaram o desenvolvimento e continuidade do projeto na epidemia de dengue. “Como aprendizado da Covid, a gente já conseguiu ter uma resposta infinitamente mais rápida para a dengue porque quando a gente tem uma velocidade que ao mesmo tempo que eu coloco uma informação na mídia sobre a precaução, eu faço em linguagem acessível”, explica Flavia Cortinovis.

 

Dengue

A cidade do Rio de Janeiro, até o final da última semana, registrou 73 mil casos prováveis de dengue e cinco mortes pela doença neste ano. Diante do quadro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) classificou a situação como uma epidemia.

Com alto número de casos, o projeto das pranchas de comunicação alternativa estão tendo, na epidemia de dengue, resultados além do público-alvo: as pessoas com deficiência. O projeto, no momento de divulgação de diferentes informações sobre a doença, tem impactado boa parte dos cidadãos que procuram a Unidade Básica Zilda Arns.

Mães de crianças e adolescentes com deficiência na escola Francisco de Castro — Maracanã

“Em um momento crítico como esse de uma epidemia, uma iniciativa rápida que permite a comunicação não só das pessoas que enfrentam barreiras complexas na comunicação, mas todo cidadão que está na Unidade básica, é um benefício para toda a população”, afirma a pesquisadora Laís.

“Isso é muito bacana porque quando você busca soluções para pessoas que enfrentam barreiras maiores, acaba-se gerando soluções que acolhem todas as pessoas”, completa Flávia.

Complexo do Alemão

Unidade Básica Zilda Arns, no Complexo do Alemão. Foto: Voz das Comunidades

A Unidade Básica Zilda Arns, onde o projeto das pranchas está sendo inicialmente desenvolvido, está localizada na Estrada do Itararé, uma das principais vias de acesso ao Complexo do Alemão. A escolha do lugar, em uma comunidade carente, não foi à toa.

“O Complexo é um pouco do retrato de tantos outros brasileiros. Esse local representa tantas outras localidades com características muito parecidas”, disse a subsecretária Flavia Cortinovis.

“A gente precisa ter mais práticas, mais gente envolvida, mais pessoas conhecendo que é possível a gente fazer dessa maneira e não deixar ninguém para trás. Aliás, não deixar ninguém para trás é o lema da Agenda 2030 da ONU e em 2024, a gente ainda está se esforçando para não deixar ninguém para trás. Assim, dá para entender o porquê da realização do projeto no Complexo do Alemão”, completa.

A Unidade Básica Zilda Arns está localizada na Estrada do Itararé, 951 — Complexo do Alemão, Rio de Janeiro.

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