Por Gustavo Cabral *
A pandemia de Covid-19 tem sido uma dolorosa lição sobre a importância da antecipação e preparação diante de novos agentes patogênicos. Reagir a emergências de saúde não é mais suficiente; é imperativo que estejamos prontos para enfrentar futuras pandemias.
A história nos ensina que a colaboração entre disciplinas pode levar ao desenvolvimento bem-sucedido de medicamentos e vacinas, e é essencial que apliquemos esforços semelhantes para proteger a saúde global.
Desde o surgimento da Covid-19, a comunidade científica tem trabalhado incansavelmente no desenvolvimento de vacinas. Apesar dos esforços contrários dos grupos negacionistas, essas vacinas desempenharam um papel crucial na prevenção de milhões de mortes e na contenção da propagação do vírus.
Enquanto enfrentamos a tragédia da Covid-19, a dengue continua a assolar o Brasil. Nos primeiros três meses de 2024, foram registrados mais de dois milhões de casos apenas no país. A inclusão da vacina Qdenga no Calendário Nacional de Vacinação em fevereiro de 2024 é um avanço crucial na luta contra essa doença.
Além da Covid-19 e da dengue, uma série de outras doenças como “varíola dos macacos”, Ebola, Zika, Chikungunya, HPV (Papilomavírus humano), HIV (Vírus da imunodeficiência humana), poliomielite, hepatites, entre outras, representam ameaças significativas à saúde pública global.
HPV
As infecções pelo HPV, pertencente ao grupo de infecções sexualmente transmissíveis (IST), são as mais comuns em todo o mundo e representam a principal causa de câncer de colo de útero, além de diversos outros tipos de tumores em homens e mulheres. No entanto, essas doenças podem ser prevenidas, pois existem vacinas aprovadas pelas agências reguladoras, como a ANVISA, que oferecem esperança na redução da incidência de doenças relacionadas ao HPV. Estudos realizados na Escócia mostraram uma redução significativa, chegando até mesmo à total ausência de casos de câncer do colo do útero em meninas vacinadas contra o HPV.
Ebola
Os recentes surtos do vírus Ebola têm sublinhado a urgência de desenvolver vacinas eficazes contra essa doença avassaladora. A vacina Ervebo, aprovada pela agência reguladora americana, a FDA (Food and Drug Administration), surge como uma luz de esperança no combate a futuros surtos desse vírus, que amedronta a humanidade devido à sua extrema letalidade.
Varíola dos macacos
Existem diversas outras vacinas fundamentais, como aquela que foi fundamental contra a “Varíola dos Macacos”, cujos casos têm registrado um aumento recente. Este cenário ressalta, mais uma vez, a importância da vacinação no controle de surtos. A vacina JYNNEOS (Smallpox/ Monkeypox Vaccine), aprovada pela FDA, emerge como uma ferramenta crucial nesse esforço de proteção contra a doença.
Paralisia infantil
Vamos fazer uma viagem no tempo e abordar um vírus que foi responsável por inúmeras tragédias de paralisia infantil? Sim, estamos falando da poliomielite. Os esforços globais para erradicar essa doença resultaram em uma significativa redução nos casos. No entanto, surtos isolados em diversos países ressaltam a importância contínua da vacinação. A imunização contra a poliomielite é uma medida facilmente aplicável e essencial para evitar a propagação desse vírus e proteger as populações vulneráveis.
Hepatite B
Vamos abordar outra doença viral preocupante, causada pelo vírus da hepatite B, que pode ser devastadora, mas que pode ser prevenida com facilidade através da vacinação. Sem a imunização adequada, a infecção pelo vírus da hepatite B pode resultar em uma série de sintomas graves, incluindo dores abdominais intensas, icterícia, urina escura e, em casos crônicos, pode levar à insuficiência hepática e até mesmo ao desenvolvimento de câncer hepático.
No entanto, todos esses cenários podem ser facilmente evitados, pois a vacina contra o vírus da hepatite B tem demonstrado ser altamente eficaz na redução do impacto da hepatite viral, oferecendo uma camada vital de proteção para a saúde pública.
Importância da pesquisa
Por fim, enquanto a comunidade científica e de saúde continua a lutar para transmitir a importância fundamental da vacinação como a melhor defesa contra doenças infecciosas, é imperativo direcionar nossos esforços para persuadir não apenas o público em geral, mas também as autoridades responsáveis, sobre a necessidade urgente de investimentos contínuos em saúde pública e pesquisa científica.
Devemos continuar a batalha pelo desenvolvimento de vacinas para diversas doenças que ainda não contam com esse suporte. Além das vacinas, estratégias de saúde pública, como a vigilância genômica de doenças infecciosas e modelagem para identificar populações de alto risco, são essenciais.
Não devemos subestimar a importância da educação, conscientização social e engajamento da mídia na divulgação da ciência e saúde pública. É crucial que haja um investimento constante no desenvolvimento científico, independentemente dos momentos de crise, para que possamos estar preparados para enfrentar desafios futuros.
Diante desse cenário, os esforços para acelerar o desenvolvimento de vacinas e garantir sua acessibilidade global são cruciais para proteger a saúde da sociedade, independentemente de sua cor, origem ou condições financeiras.
*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no ICB-IV da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.
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