Por Adele Robichez, José Eduardo Bernardes e Larissa Bohrer — Brasil de Fato
O Brasil enfrenta uma “epidemia de adoecimento mental” no ambiente de trabalho, agravada por anos de retrocessos nas políticas públicas de proteção ao trabalhador. O alerta é de Pedro Tourinho, presidente da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, na última segunda-feira (28), Dia Mundial da Segurança e Saúde no Trabalho.
Tourinho revelou que apenas em 2024, o Brasil registrou 470 mil afastamentos relacionados a transtornos como depressão e ansiedade. “A pressão que massacra o trabalhador hoje está relacionada a cobrança de metas irrealizáveis, baixa clareza nas tarefas do processo de trabalho, relações de assédio frequentes nos ambientes de trabalho e questão dos horários e jornadas de trabalho”, explicou. Para ele, o fim da jornada 6 x 1 é uma das discussões “mais importantes do país neste momento”.
A crise, no entanto, não é acidental. Segundo Tourinho, ela é fruto de escolhas políticas. Durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), houve “um ataque sistemático” às normas de saúde e segurança no trabalho. “Foi um período em que toda a agenda de proteção à saúde do trabalhador foi duramente atacada. Isso favoreceu, evidentemente, o avanço de práticas que não eram comprometidas com a saúde e a segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras”, denunciou.
O presidente da Fundacentro lembrou que o Brasil, historicamente, já figurava entre os países com mais acidentes de trabalho no mundo. Em 2024, foram registrados cerca de 740 mil acidentes, com 2,4 mil mortes registradas. Ele ressalta que os números reais podem ser ainda maiores devido à situação crescente de informalidade no Brasil e à subnotificação.

Cuidar da saúde mental é de extrema importância para manter uma boa qualidade de vida. (Foto: Reprodução)
Mudanças climáticas agravam riscos
Além do desmonte das proteções legais, as mudanças climáticas colocam novos desafios à segurança dos trabalhadores. Tourinho destacou que o trabalho ao ar livre, especialmente no agronegócio e na construção civil, já se tornou inseguro em determinadas épocas do ano devido às altas temperaturas.
“O Brasil já tem uma história muito consolidada de identificação do adoecimento dos trabalhadores do setor sucroalcooleiro, nos canaviais, com dezenas de óbitos por exaustão relatadas no trabalho na lavoura de cana. Isso, infelizmente, com a mudança climática, tende a se estender para outros contextos de trabalho rural e a céu aberto de modo geral, inclusive no contexto urbano”, afirmou.
Reconstrução é urgente
Diante desse cenário, Tourinho comemorou a autorização de 65 novas vagas em concurso público para a Fundacentro, após mais de uma década de sucateamento, anunciadas pela ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck. “Não tenho dúvidas de que isso vai significar não só a recuperação das perdas que nós tivemos nos últimos anos, como a sustentabilidade de uma unidade tão importante para as próximas décadas por via um gesto muito claro do presidente Lula, do ministro [do Trabalho] Luiz Marinho, de reconstruir de fato um ambiente de trabalho mais seguro e mais saudável”, avaliou.
Para o presidente da Fundacentro, a construção de melhores ambientes de trabalho é parte essencial da luta por dignidade e justiça social. “O trabalho é onde realizamos nossos planos e sonhos, onde conquistamos o dinheiro para construir nossas vidas. No entanto, também é um espaço de sofrimento, silêncio, submissão e violência. Por isso, é fundamental sempre pensar na saúde e segurança do ambiente de trabalho”, concluiu.
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