Por Heloísa Villela
Enquanto o dono da Grendene sugere aos funcionários que doem suas cestas básicas ao povo do Rio Grande do Sul, os catadores de Brasília compram água e mantimentos para enviar aos colegas que perderam tudo.
“A gente sabe que eles não podem catar nada agora, está tudo debaixo dágua”, disse Aline Sousa Silva, diretora da Centcoop (Central de Cooperativas de Material Reciclável do Distrito Federal).
Aline Sousa Silva ficou conhecida no Brasil todo quando colocou a faixa presidencial em Lula no dia da posse, em janeiro do ano passado.
A iniciativa de ajudar os companheiros do Sul partiu de duas cooperadas. Lady Laura, diretora-administrativa da Centcoop, e Eliane Ribeiro da Silva, diretora-financeira da organização.
“Na pandemia, muita gente se mobilizou para ajudar os catadores que não podiam sair de casa para trabalhar e agora é a mesma coisa, só que pior porque eles perderam suas casas, não tem o que comer, não tem água potável”, disse Lady Laura.
A diretora-administrativa destacou que a iniciativa é uma corrente do bem para ajudar não apenas os catadores, mas todos que estão precisando de ajuda nesse momento.
Catadores: mobilização nos estados
Além das compras que fizeram, por conta própria, eles estão arrecadando donativos para enviar ao Rio Grande do Sul. Brasília tem 46 cooperativas de catadores com cerca de 3.500 cooperados e outros 5.000 autônomos. Eles estão mobilizando catadores de outros estados para entrar nessa corrente. “Todos nós vamos partir desse mundo e não vamos levar nada material”, lembra Aline.
Ela também olha para o que está acontecendo no sul do Brasil e alerta que são muitas as calamidades ambientais nos últimos anos. Segundo Aline, é uma resposta do planeta ao comportamento humano, e catar e reciclar os resíduos do nosso consumo ajuda, mas não resolve o problema.
“O consumo desenfreado está no centro da crise. Nossa Política Nacional de Resíduos Sólidos é maravilhosa. Manejar os resíduos de forma adequada, reciclar, são sequências fundamentais para minimizar os impactos desse consumo desenfreado. Mas não resolve. É preciso mudar hábitos”, diz Aline.
“O garimpo do ouro continua porque tem gente que quer comprar anel de ouro, e outras coisas. A perfuração de petróleo se multiplica porque a demanda por embalagens de plástico só aumenta”, acrescenta Aline.
Para ela, se esses hábitos de consumo não mudarem, se a maneira de viver não for alterada, se a destruição das matas, florestas, cerrado, biomas continuar, enchentes como essa que o Rio Grande do Sul enfrenta agora vão se repetir, cada vez com mais frequência e força.
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