Com Igor Mello
Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados cassado por corrupção, articulou com o filho de Domingos Brazão, Kaio Brazão, um lobby para tentar reverter a prisão e salvar o mandato de Chiquinho Brazão (Sem partido-RJ) na Câmara dos Deputados.
Isso ocorreu após a prisão dos irmãos como mandantes da execução de Marielle Franco (PSOL-RJ). O cacique político ainda manteve articulações em prol da pré-candidatura de Kaio a vereador no Rio de Janeiro.
A articulação aparece em conversas em aplicativos de mensagens obtidas pela Polícia Federal com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) e também são confirmadas em depoimento de Kaio, mostra relatório ao qual a coluna teve acesso.
O documento foi entregue ao ministro Alexandre de Moraes, relator do Caso Marielle no STF.
Segundo os relatos, Cunha — que historicamente mantém uma relação muito próxima com a família — foi um dos primeiros políticos procurados para formular uma estratégia de defesa de Domingos e Chiquinho.
Em depoimento, Kaio conta que o ex-presidente da Câmara se reuniu com ele, sua mãe Alice Kroff, e com sua tia Lúcia, irmã de Domingos e Chiquinho Brazão.
Na conversa ele quis saber, entre outras coisas, quem era o advogado representando os irmãos em Brasília. Após o encontro, ele passou a articular na Câmara a revogação da prisão de Chiquinho.
A manobra fracassou por pouco, depois que o governo Lula se empenhou diretamente em mobilizar sua base para manter o acusado de encomendar o assassinato de Marielle e de seu motorista Anderson Gomes preso.
Cunha negociou candidatura de Kaio Brazão
Além de auxiliar os irmãos, a investigação também mostra que Cunha continuou tendo um papel de protagonismo nas articulações em torno da pré-candidatura de Kaio à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.
Quando seu pai e seu tio foram presos, Kaio estava com sua pré-campanha a todo vapor e avaliava por qual partido ia concorrer. Ele decidiu permanecer no Republicanos, depois de negociar uma candidatura pelo União Brasil com o presidente da Assembleia Legislativa do RJ, Rodrigo Bacellar.
A influência de Cunha aparece nessa decisão, mostra uma conversa entre Kaio e Waguinho, prefeito de Belford Roxo e presidente estadual do Republicanos. Ele é marido da deputada federal Daniela do Waguinho, ex-ministra do Turismo no governo Lula. Na conversa, Waguinho mostra grande deferência por Kaio e sua família.
“Bom dia prefeito !! Tudo bem com Sr?”, escreve Kaio em 14 de março. Waguinho então responde: “As ordem. Posição de sentido”, brinca, fazendo referência à continência prestada por um militar a um colega mais graduado.
Kaio então ri e responde: “Eu que estou meu padrinho”. Os dois continuam em contato ao longo de março, até que Waguinho afirma em 2 de abril: “Oi filhão. Eu e Eduardo Cunha estamos achando melhor você ficar no republicanos. Essa semana vou na sua casa”.
A orientação de Cunha e Waguinho foi cumprida e Kaio permaneceu no Republicanos.
A investigação da PF encontrou ainda indícios de que o ex-presidente da Câmara articulava um esquema de corrupção com o miliciano Robson Calixto Fonseca, o Peixe, assessor de Domingos Brazão que também foi preso sob acusação de participar da articulação para executar Marielle.
“Ademais, no bojo da IPJ n.º 38/2024 há a interação de PEIXE com EDUARDO CUNHA em um possível contexto de malversação de verba pública, cuja investigação deve ser aprofundada em outro apuratório, ante sua dissonância com o escopo do presente feito”, diz o relatório da PF.
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