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Sindicatos entram em conflito, mas greve de professores federais pode acabar na segunda (27)

Proifes está inclinado a assinar acordo de reajuste salarial oferecido pelo governo, enquanto Andes tenta barrar ação
25/05/2024 | 18h00

Por Bruno Lucca e Mariana Brasil

(Folhapress) — Um atrito entre entidades que representam professores de universidades federais pode colocar fim já na próxima segunda-feira (27) às negociações salariais com o governo Lula (PT), motivo de greve há quase dois meses.

A Proifes (Federação de Sindicatos de Professores e Professoras de Instituições Federais de Ensino Superior e de Ensino Básico Técnico e Tecnológico) afirma que tende a assinar um acordo oferecido pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.

O Andes (Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior), porém, rechaça a possibilidade e tenta deslegitimar a autoridade da Proifes para fechar um acordo.

O Ministério da Gestão disse ter apresentado no último dia 15 sua proposta final aos docentes. Ela prevê reajuste de 9% nos salários para 2025 e 5% para 2026. Um encontro foi convocado para segunda-feira, às 14h, somente para “assinatura do acordo”, segundo a pasta de Esther Dweck.

Os servidores pediam reajuste de 7,06% já em 2024, de 9% em janeiro de 2025, e de 5,16% para 2026.

O ultimato do governo foi tratado como antidemocrático pelo Andes. A Proifes, contudo, sinalizou boa vontade para assinar o acordo e encerrar as negociações. Isso culminou em ataques mútuos.

“Repudiamos qualquer tentativa da Proifes ou qualquer outra organização que não seja o Andes e o Sinasefe [Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica] de falar em nome dos milhares de docentes federais”, afirmou o Andes.

A entidade entrou com uma ação para a Proifes ficar impedida de atuar como representante dos grevistas e a acusou de ser servil aos interesses federais.

“Em todas as categorias há disputa por protagonismo sindical. A atitude do Andes, de querer nos excluir do debate, abre um precedente muito perigoso”, disse à reportagem o presidente da Proifes, Wellington Duarte. “Eles possuem um conceito deturpado de democracia.”

Sindicatos: embate

O histórico de embate entre as duas organizações é longo. A Proifes foi criada por dissidentes do Andes em 2004, e desde então há uma disputa por protagonismo entre ambas.

Nas últimas grandes greves de professores federais, em 2012 e 2015, foi a Proifes a responsável por assinar acordo com o governo e encerrar as negociações. Em todas as oportunidades o Andes foi contra.

Andes critica governo

Em entrevista coletiva nesta sexta (24), em Brasília, representes do Andes reafirmaram que não vão aceitar a proposta do governo de reajuste salarial de 0% para 2024.

“Eles não alcançam as perspectivas que colocamos na proposta de 2024. A nossa postura de continuidade na negociação é inquestionável. Precisamos de respostas do governo sem ultimato”, disse o presidente do Andes (Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior), Gustavo Seferian.

Até o momento, 58 instituições federais da base do Andes estão em greve.
Os representantes sindicais citaram a baixa popularidade do presidente Lula e classificaram como “falta de inteligência” a ausência de diálogo com a categoria. “O governo federal deveria evitar esse tiro no pé para que não venha cada vez mais a se expor nesse sentido”, disse Seferian.

Em sua fala, o presidente do Andes destacou ainda que o governo não apresentou a minuta do acordo para a categoria e que a postura da gestão é antisindical. “A partir de um PowerPoint e promessa de boca, como que uma promessa dessa vai se estabelecer? Isso mostra o descaso, para construir uma farsa no dia 27, uma tentativa de golpe a essa greve.”

No e-mail com o ultimato enviado pelo Ministério da Gestão foi dito que a proposta deveria ser assinada pelos “professores e professoras que quisessem”. Até a data estabelecida pela pasta, as entidades e as bases sindicais do país estão com assembleias marcadas para definir a posição oficial de cada base.

O tom da gestão ao longo do processo tem incomodado as entidades, que reclamam de contrapropostas insuficientes, demora para envio de respostas às reivindicações e falta de acolhimento e recepção pelos membros do governo.

Procurado, o Ministério da Gestão afirma que apresentou às entidades dos servidores federais da educação uma proposta de reajuste dividida em duas parcelas: docentes — em média 9% para janeiro de 2025 e 3,5% em maio de 2026; Técnicos Administrativos em Educação — em média, 9% em janeiro de 2025 e 5% abril de 2026.

Após cinco rodadas de negociação, o governo afirmou que essas eram suas propostas finais.

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