Por Brasil de Fato
Crianças, mulheres e idosos carbonizados, pelo menos 45 mortos e mais de 200 feridos.
Este foi o resultado do ataque israelense ao campo de refugiados montado na cidade de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, neste domingo (26), que desrespeitou decisão emitida pela Corte Internacional de Justiça e gerou indignação internacional.
“O massacre em Rafah deixou 45 mártires, incluindo 23 mulheres, crianças e idosos. Outros 249 ficaram feridos”, disse o Ministério da Saúde do território palestino.
Funcionários da Defesa Civil de Gaza afirmaram que viram diversos corpos “carbonizados” pelo incêndio provocado pelo bombardeio.
Imagens divulgadas pelo Crescente Vermelho palestino mostram cenas caóticas dos profissionais da saúde tentando retirar os feridos, incluindo crianças.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha informou que um de seus hospitais de campanha estava recebendo um grande “fluxo de feridos em busca de atendimento para lesões e queimaduras” e que suas equipes estavam “fazendo todo o possível para salvar vidas”.
Imagens registradas por equipes da AFP na manhã desta segunda-feira mostram pedaços carbonizados de barracas e famílias palestinas observando a destruição.
“Nós havíamos terminado a oração da noite (…) nossos filhos estavam dormindo, de repente ouvimos um grande barulho, vimos fogo por todos os lados. As crianças gritavam, o barulho era assustador”, disse uma sobrevivente que pediu para não ser identificada à AFP.
O ataque aconteceu algumas horas após o Hamas disparar foguetes contra a capital israelense, Tel Aviv e outras áreas do centro do país, todos derrubados por Israel.
Os ataques do Hamas ocorreram após os israelenses ignorarem a decisão proferida pela Corte Internacional de Justiça (CIJ), sediada em Haia, na Holanda, contra as operações em Rafah, e seguirem com os bombardeios.
O chefe do governo de Israel, Benjamin Netanyahu, classificou o ataque ao campo de refugiados em Gaza como ‘acidente trágico’.
A declaração do primeiro-ministro de Israel foi dada nesta segunda-feira, 27, em discurso no Parlamento. “Apesar de nossos esforços máximos para não prejudicar civis inocentes, na noite passada, houve um trágico erro”, disse. “Estamos investigando o incidente e obteremos uma conclusão porque esta é a nossa política”, acrescentou.
Indignação internacional
O massacre despertou fortes reações internacionais, sendo condenada por França, Egito, Jordânia, Kuwait e Catar.
O Egito denunciou um “ataque contra civis indefesos” e a Jordânia acusou Israel de cometer “crimes de guerra”.
O Kuwait afirmou que o ataque demonstra os “flagrantes crimes de guerra e o genocídio” cometidos por Israel, enquanto o Catar chamou o bombardeio israelense de “violação perigosa do direito internacional”.
A Frente Popular para a Libertação da Palestina afirmou que “o holocausto de Rafah é responsabilidade conjunta dos Estados Unidos e da ocupação”.
“O exército de ocupação [israelense] cometeu um dos massacres mais atrozes da história da humanidade ao bombardear tendas repletas de deslocados em Rafah, que instalaram as suas tendas junto a uma sede da Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados — UNRWA, numa tentativa de se refugiarem da guerra de extermínio em curso.”
A ONU apelou a Israel para realizar uma investigação “completa e transparente” sobre o atentado. O presidente francês, Emmanuel Macron, disse que “estas operações devem parar”.
“Não há áreas seguras em Rafah para civis palestinos. Apelo ao pleno respeito pelo direito internacional e a um cessar-fogo imediato”, escreveu ele na rede social X.
O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, disse estar “horrorizado com as notícias vindas de Rafah sobre os ataques israelenses que mataram dezenas de pessoas deslocadas, incluindo crianças”.
“Estamos investigando. Qualquer perda de vidas civis é grave e terrível”, disse o porta-voz do governo israelense, Avi Hyman, em entrevista coletiva, garantindo que Israel “tenta limitar as vítimas civis”.
Israel declarou que está investigando o “grave” bombardeio que, segundo o Exército, teve como alvo milicianos do Hamas.
Contexto
O atual genocídio palestino cometido por Israel na Faixa de Gaza começou em outubro do ano passado, mas as condições no território palestino já eram consideradas “sufocantes” pela ONU antes disso.
O bloqueio israelense de 17 anos — para obrigar o Hamas, partido que ganhou as eleições palestinas em 2006, a abdicar do poder — gerou taxas de desemprego de 45% e insegurança alimentar que atingia 64% da população.
A ONU calculava que mais de 80% dos moradores de Gaza dependiam de ajuda externa para sobreviver.
Em 7 de outubro, integrantes do Hamas ingressaram em Israel e realizaram o ataque mais violento já sofrido pelo país, deixando cerca de 1,2 mil mortos e capturando 240 reféns. A resposta do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu foi considerada desproporcional pela comunidade internacional.
Bombardeios diários no que é considerado um dos territórios mais densamente povoados do mundo vêm causando a morte de dezenas de milhares de palestinos e destruindo toda a infraestrutura de Gaza.
O número de vítimas fatais ultrapassou 36 mil palestinos — cerca de 70% mulheres e crianças —, com mais de 8 mil pessoas desaparecidas debaixo dos escombros.
Foram destruídos 35% dos prédios e praticamente todos os mais de dois milhões de habitantes foram forçados a deixar suas casas.
No outro território palestino ocupado, a Cisjordânia, a violência ilegal praticada por colonos israelenses é diária, com mais de 500 mortos.
Desde o início do conflito, milhares de palestinos foram presos e o governo anunciou que outros milhares vão ser detidos este ano.
A ONU alerta para o desastre humanitário, acusando Israel de usar a fome coletiva como arma de guerra e ressaltando a possibilidade real de que centenas de milhares de palestinos venham a morrer por falta de alimentos.
A Corte Internacional de Justiça ordenou a interrupção imediata dos bombardeios em Rafah, para evitar a morte de civis, decisão ignorada por Israel.
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