Por Bruna Fantti
(Folhapress) — O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), voltou a criticar na quarta (10) a postura do Itamaraty no caso dos filhos de diplomatas abordados pela Polícia Militar em Ipanema, na zona sul da capital, na última quinta (4). Para familiares dos adolescentes, a abordagem teria sido racista.
“Quando eles [Itamaraty] querem, eles ligam. Enviar um ofício posterior não quer dizer nada depois de ter avacalhado a polícia. Totalmente dispensável o ofício deles”, afirmou.
O Itamaraty enviou um ofício ao governo do Rio de Janeiro pedindo investigação sobre o episódio. Antes, divulgou nota pública dizendo que esperava “apuração rigorosa e responsabilização adequada dos policiais envolvidos na abordagem”.
As declarações do governador foram dadas após questionamentos de jornalistas a respeito do caso na inauguração de uma base do programa Segurança Presente no acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim. Procurado, o Itamaraty não se manifestou a respeito das declarações.
Castro também mencionou o que os jovens e uma testemunha teriam dito à polícia. O inquérito está sob sigilo.
“No depoimento dos garotos, eles falam que os cinco foram revistados e que haveria tido uma truculência só com três deles. No depoimento um funcionário não relata isso. O que estamos fazendo é deixar o devido processo legal fazer o julgamento. E se tiverem que passar por reciclagem ou serem punidos, serão punidos dentro do erro que cometeram”, afirmou.
O governador disse ainda que muitas das reclamações de moradores da região de Copacabana, Ipanema e Leblon são motivadas por roubos e furtos cometidos por jovens. “Crucificar a polícia antes de a Corregedoria terminar o trabalho dela é um erro”, acrescentou. Na terça (9), Castro já havia criticado a postura do órgão.
“Eles [Itamaraty] preferiram botar nota pública antes de saber o que aconteceu. Acho até que isso é uma coisa que a gente tem que tomar cuidado, porque atacar a polícia antes de saber o que aconteceu é muito fácil”, disse o governador, na ocasião.
A Corregedoria da PM apura possível crime militar, e o inquérito de racismo é conduzido pela Deat (Delegacia de Atendimento ao Turista). Os dois policiais envolvidos no caso, já ouvidos pela Corregedoria, devem prestar depoimento nesta quinta (11).
Como foi a abordagem da PM
Os quatro adolescentes, de 13 e 14 anos, voltavam da praça Nossa Senhora da Paz após jogar futebol e, ao chegar a um prédio, foram empurrados para a garagem e revistados.
“Um dos meus netos estava com os meninos vítimas da violência racista da polícia do Rio”, escreveu o jornalista Ricardo Noblat nas redes sociais. “Testemunha do episódio, o porteiro do prédio da rua Prudente de Moraes foi chamado a depor. Está assustado, e com razão.”
Segundo a mãe do jovem branco, Rhaiana Rondon, os quatro amigos moram em Brasília e estavam no Rio para passar férias, acompanhados dos avós de um deles, em uma viagem planejada havia vários meses.
“Foram abruptamente abordados por policiais militares, armados com fuzis e pistolas. Sem perguntar nada, encostaram os meninos no muro do condomínio”, disse Rhaiana. “Com arma na cabeça e sem entender nada, foram violentados. Foram obrigados a tirar os casacos e levantar o saco.”
Ainda de acordo com o relato, os adolescentes foram questionados sobre o que faziam na rua. Os três filhos de diplomatas não entenderam a pergunta, por serem estrangeiros, e não conseguiram responder. O filho dela respondeu, e em seguida o grupo foi liberado.
“Antes alertaram as crianças para não andarem na rua, pois seriam abordados novamente”, afirmou a mãe. “A abordagem foi racial e criminosa.”
A Polícia Militar afirmou, em nota, que os PMs envolvidos usavam câmeras corporais e as imagens serão analisadas para verificar se houve excessos na abordagem.
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