Aos 59 anos, Kamala Harris é o nome mais provável para assumir a candidatura do Partido Democrata na corrida eleitoral pela Casa Branca, sucedendo o presidente Joe Biden, que desistiu da campanha nos Estados Unidos.
Primeira mulher negra a ocupar a vice-presidência estadunidense, Kamala Harris é filha de mãe indiana e pai jamaicano e tem uma longa carreira no judiciário do país. Ela foi procuradora dos estados de São Francisco e da Califórnia, onde também se elegeu senadora, em 2016.
Nas eleições de 2020, era um dos nomes cotados para ser candidata à Presidência e liderou pesquisas internas dos democratas, mas desistiu após perder apoios importantes dentro do partido.
Após a desistência, o Democrata viu em Harris a possibilidade de atingir o eleitorado feminino e negro, apesar das divergências da ex-senadora com essa população, e a escolheu como vice, na chapa liderada por Joe Biden na corrida eleitoral pela Presidência, que acabou vencendo as eleições de 2020.
Contradições de Kamala
Kamala se define como progressista, mas já adotou posturas criticadas pela esquerda. Segundo críticos, ela não agiu de forma suficientemente assertiva como procuradora em casos que contribuíram para prisões injustas de réus negros e pobres.
Ela também é mal avaliada pelo campo progressista em relação aos seus posicionamentos sobre a liberação do uso recreativo da maconha, a pena de morte e a imigração. Apesar de prometer eliminar os centros de detenção para imigrantes caso eleita, ela já chegou a fazer declarações desincentivando migrações aos EUA.
Ainda assim, Kamala é a principal voz do atual governo democrata em defesa do aborto e dos direitos reprodutivos, o que promete atrair votos entre eleitores jovens caso a sua candidatura se concretize.
O último teto de vidro
A vice-presidente poderá escrever uma nova página na história dos Estados Unidos se conseguir quebrar o teto de vidro com o apoio de Joe Biden para concorrer à Presidência.
Ela já o fez ao tornar-se, em janeiro de 2021, a primeira mulher, a primeira pessoa negra e de origem asiática a ser vice-presidente do país.
Em março de 2023, Biden já tinha declarado que sua colega de chapa havia “quebrado um teto de vidro após o outro”.
Neste domingo, após receber o apoio de Biden, se apressou em declarar que sua intenção era “conseguir a nomeação” do Partido Democrata para “derrotar Donald Trump”.
Kamala conta que quando garota se manifestava pelos direitos civis ao lado do pai jamaicano, professor de economia, e da mãe indiana, pesquisadora sobre o câncer de mama.
A ‘garotinha’ no ônibus
Em 2019, esta californiana atacou duramente Joe Biden por ter se oposto, no passado, a uma política de transporte de crianças negras para escolas em distritos brancos, com o objetivo de acabar com a segregação racial.
“A garotinha [no ônibus] era eu”, disse ela. Esse desabafo não salvou sua campanha fracassada, interrompida antes mesmo da primeira votação das primárias.
Joe Biden então a convidou para se juntar a ele, expondo-a aos ataques de seu opositor republicano, Donald Trump.
Em 2020, o republicano chamou-a de “monstro” e “mulher raivosa”, termos que evocam estereótipos racistas sobre as mulheres negras.
Após o desastroso debate de Joe Biden contra Donald Trump em 27 de junho, o bilionário de 78 anos voltou a atacá-la.
Muito acostumado a encontrar apelidos para zombar de seus rivais, Trump a chamou de “Jovial Kamala” porque ela ri alto e sua equipe de campanha a descreve como esquerdista convicta.
Formada pela Universidade de Howard, fundada em Washington para acolher estudantes negros, Kamala Harris orgulha-se da sua carreira profissional, que encarna o sonho americano.
‘Como se atrevem!’
Após dois mandatos como promotora distrital em San Francisco (2004-2011), foi eleita duas vezes procuradora-geral da Califórnia (2011–2017), tornando-se a primeira mulher e a primeira pessoa negra a chefiar os serviços judiciais do estado mais populoso do país.
Ela foi criticada por sua abordagem severa aos pequenos crimes que, segundo seus detratores, prejudica as minorias.
Em janeiro de 2017, tomou posse no Senado em Washington, onde se tornou a primeira mulher do sul da Ásia e a segunda senadora negra da história.
Já vice-presidente, dedicou seu discurso de vitória às mulheres que lutaram pela igualdade no país.
Em 2022, Kamala Harris defendeu fervorosamente o direito ao aborto, questionado pela Suprema Corte.
*Com Brasil de Fato e AFP
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