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Eliana Alves Cruz

Eliana Alves Cruz é carioca, escritora, roteirista e jornalista. Foi a ganhadora do Prêmio Jabuti 2022 na categoria Contos, pelo livro “A vestida”. É autora dos também premiados romances Água de barrela, O crime do cais do Valongo; Nada digo de ti, que em ti não veja; e Solitária. Tem ainda dois livros infantis e está em cerca de 20 antologias. Foi colunista do The Intercept Brasil, UOL e atuou como chefe de imprensa da Confederação Brasileira de Natação.

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Paralimpíadas: fulminando a invisibilidade

Serão 4.400 atletas desfilando beleza e humanidade
15/08/2024 | 07h45

Todo ano, há 64 anos, sabemos que poucos dias após o encerramento dos Jogos Olímpicos chegam elas, as Paralimpíadas. O Brasil participa da competição desde 1972 e é uma das grandes potências paralímpicas, com 373 medalhas. Desde os Jogos de Pequim 2008 o país é top 10 entre os mais medalhados.

Paris terá a sua cerimônia de abertura no próximo dia 28 de agosto e verá, até 8 de setembro, uma sequência frenética não apenas de competições, mas de histórias de vida. Um espetáculo, uma ode à existência plena, um show de beleza e humanidade! Mas há algo incômodo.

A versão das Olimpíadas para quem possui deficiência acontece após uma debandada de público, atletas e, principalmente, das estrelas da mídia que cobriram a primeira competição em muitos canais distintos, numa programação de quase 24 horas. A visibilidade, a torcida do público, o conhecimento sobre os e as atletas… nada é o mesmo. Tudo adquire uma aura de anticlímax injusta, pouco inteligente e estigmatizadora, mas muito reveladora das sociedades contemporâneas tão afeitas a padrões excludentes de beleza, feminilidade, masculinidade e de noções falseadas de perfeição.

O curioso é que o lema “citius, altius, fortius”, ou seja, “mais rápido, mais alto e mais forte” nunca teve o seu significado tão em xeque. A discussão sobre, afinal, quais são os limites para quem compete em cada modalidade não pediu licença para invadir os próprios Jogos Olímpicos. Vide toda a polêmica recentíssima que envolveu a lutadora argelina Imane Khelif, uma mulher cisgênero que se viu alvo de uma campanha sórdida apenas porque foge aos modelos estabelecidos sabe-se lá por quem; ou ainda a mesatenista Bruna Alexandre que, amputada do braço direito, usou o esquerdo para fazer história e ser a primeira do país nas duas competições: Olimpíadas e Paralimpíadas.

A guerra está no DNA de ambas, pois na antiguidade grega, os Jogos eram um instante de pausa nas eternas contendas, mas eram dominados pela aristocracia que via neles a chance de exaltar a sua supremacia, em modalidades muito úteis nos campos destas mesmas batalhas.

Por tempos sem conta na história humana, quem não possuía um corpo “perfeito” era alijado do convívio social, condenado a uma vida com limitações muito além das que naturalmente já impunham. Foi para a reabilitação de paraplégicos ex-combatentes na Segunda Guerra Mundial que surgiu, em 1948, a primeira competição internacional organizada para deficientes. O que temos hoje como Paralimpíadas, aconteceu oficialmente em 1960, só depois 17 edições desde os primeiros Jogos de verão, em 1896.

São muitas as histórias que levam a uma deficiência. Algumas envolvem tragédias outras simplesmente estão lá desde o nascimento. Não importa. Não existem dois seres humanos iguais no planeta inteiro. O conceito de normalidade vai sendo encalacrado pela crescente aceitação das diferenças inevitáveis, pela evolução da tecnologia, das ciências médicas, dos estudos do movimento. A inclusão de novas modalidades nos calendários olímpicos também aponta para uma busca de maior contato com as novas gerações e com as formas quase infinitas de manifestações do corpo humano. O limiar onde o esporte toca a arte.

E por falar em arte, os campeões na antiguidade brigavam para vencer, mas também porque esta vitória conferia o direito de ver seus nomes e seus feitos cantados pelos poetas. Não à toa, o calendário do evento Olímpico antigo incluía recitais e debates com filósofos. Está aí algo que seria lindo resgatar, o desejo pela poesia do mundo.

Aqui vai um convite: Vamos torcer pelos atletas paralímpicos com a mesma paixão. Vamos fulminar a invisibilidade.

Jogos Paralímpicos de Paris 2024

  • Abertura: 28/08.
  • Encerramento: 08/09.
  • Número de modalidades: 22.
  • Número de Países: 184.
  • Número de atletas: 4.400.
  • Delegação Brasileira: 254 atletas.
  • Número de Medalhas do Brasil na história: 109 ouros, 132 pratas e 132 bronzes.

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