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Vivian Mesquita

Apresentadora, Repórter e Editora Chefe Executiva com passagens pela Editora Abril, Rede Globo e Canais ESPN Disney. Especialista em esportes de ação em mercado mundial. Profissional com formação consolidada na área de mídia e conteúdo esportivo, com mais de 20 anos de experiência em TV. Relacionamento sólido com a comunidade criativa local, produtoras, talentos, atletas, marcas e mídia. Habilidades em gestão de equipes, processos organizacionais e comunicação. Apresentadora do ICL Notícias - 1ª Edição.

Como a gente segue em frente depois de uma perda?

Eu não sei dizer como é que a gente segue depois de perder alguém que se ama
16/08/2024 | 06h45

Minha mãe me pediu para escrever sobre isso. Nossa família está passando por um luto. “A vovó vai virar estrelinha”! Minha tia de 64 anos, cinco dias antes de morrer, se despediu assim na neta de 7. No dia seguinte ela também se despediu da mãe, de 94, minha avó. Eu estava com elas. “Vivi, como eu vou dizer pra ela que estou morrendo”?

Dia 24 de agosto faz um mês que a tia Angela foi embora. Minha avó tem alguns lapsos de memória, mas na maior parte do tempo está lúcida, nunca vi olhos tão tristes. É antinatural que pais percam seus filhos, não importa quantos anos eles tenham, é uma dor que nem nome tem. Como a gente chama uma mãe que perde um filho?

Tia Angela lutou contra um câncer agressivo por quatro anos. Toda vez que ela vencia um tumor, outro aparecia, mas seguiu até o fim acreditando e desejando a cura. Ela lutou! E mesmo no final, sabendo que seria uma batalha injusta, nunca questionou “por que ela?” “por que com ela?”.

A jornada de descoberta e tratamento da doença foi registrada em vídeo por ela. Me deixou a missão de editar o depoimento como alerta para que a gente preste atenção ao nosso corpo, aos sinais de quando alguma coisa não vai bem.

Eu não sei dizer como é que a gente segue depois de perder alguém que se ama e acho que é algo que a gente não aprende. A morte é um mistério. Acabamos de testemunhar o fim trágico de 62 vidas na queda do avião da Voepass, em Vinhedo. A gente nunca pode medir o tamanho da dor, para mim, como um gás, ela ocupa um espaço inteiro, seja o de uma caixa de fósforos ou um estádio de futebol. Dor não se compara.

Uma mãe enterrou esta semana em São Paulo o filho de apenas 14 anos que tirou a vida por não suportar mais o bullying que sofria na escola. Ele era gay, preto e pobre, uma sentença de morte para o menino. Como essa família se recupera de um fim assim?

Eu não entendo. Tia Angela queria viver mais, o câncer não deixou. Passageiros e a tripulação daquele voo embarcaram cheios de sonhos e projetos a serem realizados. E aquele adolescente não teve tempo de perceber que era amado e que a vida poderia lhe sorrir de volta.

Quem, como e quando se determina o ponto final? Quando a gente deixa de existir para virar saudade.

Me sinto anestesiada ainda. Na última vez que vi minha tia eu disse “até amanhã!”. Ela levantou o braço em sinal de luta e respondeu, “sim, até amanhã!”. Não tem mais amanhã para a gente.

Algumas coisas não podem ser adiadas, palavras e gestos de afeto não devem entrar na lista de “coisas” a serem feitas. Beijos e abraços longos liberam ocitocina e trazem felicidade para ambos, quem dá e quem recebe.

Todas as noites eu beijo meu filho. Na maioria das vezes ele já está dormindo e nem percebe. Tudo bem. Ali é onde me faço lembrar que a vida, mesmo com todas as dificuldades, injustiças e dores, ainda é um presente e eu aceito.

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