Por Chico Alves
Ameaçado de perder o mandato depois de ser levado ao Conselho de Ética por ter retirado à força da Câmara, em abril, um integrante do MBL que o ofendeu, Glauber Braga (PSOL-RJ) reagiu denunciando uma “armação”. A denúncia foi feita ontem, depois que o relator do caso, Paulo Magalhães (PSD-BA), defendeu em seu texto a admissibilidade do processo contra o psolista. Glauber, então, acusou Magalhães de conluio com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), a quem chamou de “bandido”.
Lira afirmou em nota que “xingamentos, ofensas pessoais e agressões são comportamentos incompatíveis com a compostura e com o decoro que se esperam de um integrante da Câmara dos Deputados” e disse que o episódio merece “repulsa”.
Na ação que gerou a denúncia de Glauber Braga ao Conselho de Ética, antes de ser retirado da Câmara o militante do MBL ofendeu a mãe do deputado, que na época estava hospitalizada — ela faleceu no mês seguinte. O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) pediu vista, e a votação do parecer do relator saiu da discussão.
O portal ICL Notícias conversou com Glauber sobre as perspectivas de cassação de seu mandato. Ele disse que não fez acusação a Lira por estar de “cabeça quente”.
“Foi com emoção, mas é isso mesmo. É um bandido que fica manejando bilhões do orçamento pra lá e pra cá. Utilizando isso da maneira mais espúria possível. E aí não tem outra palavra para utilizar”, diz o deputado do PSOL.
ICL Notícias — A decisão do relator, pela admissibilidade do processo, foi surpresa para você?
Glauber Braga — Não me surpreende. Eu já tinha recebido uma informação da influência do Lira sobre o relator. Relator esse que tinha dado o indicativo de voto contrário à representação antes mesmo de ser indicado. Quando ele muda de posição, a informação que eu tinha recebido fica evidente. Então, não surpreende, tem uma influência direta do Lira.
Não é que eu ache isso, eu tenho certeza da influência dele. Lira já tinha dito no plenário da Câmara que em breve eu não estaria mais lá. Depois, em outro episódio no plenário, disse que não sabia nem dos meus processos, tanto é que estavam lá há vários dias e não tinha feito nada. Ou seja, foi um ato falho ou uma ameaça. Se ele nem sabia como é que estava o meu processo, se ele não acompanhava, como é que ele sabia a quantidade de tempo que estava no Conselho de Ética?
Além disso eu recebi uma informação de uma pessoa que disse de maneira precisa que essa modificação de entendimento por parte do relator ia acontecer na sessão de hoje (ontem).
O relator sinalizou que daria parecer a seu favor?
Sim, o relator antes de ser designado tomou a iniciativa de me parar no corredor e se disse muito impactado com o meu discurso e a minha defesa. Falou que eu contasse com ele.
Você acredita que esse parecer tem alguma relação com o caso de Chiquinho Brazão?
Com requinte de crueldade o que eles fizeram? Trocaram a data da leitura do meu parecer para ser no mesmo dia da data do Chiquinho Brazão. É porque eles não tiveram como salvar a família Brazão, por conta do forte apelo popular e da opinião pública. Então, eles usaram também o meu caso para poder dar uma resposta à direita e à extrema direita. É como se ele tivesse equilibrando o jogo: já que não tiveram como evitar a cassação pelo Conselho de Ética de um parlamentar do Centrão e da extrema direita, estavam entregando a cabeça de um parlamentar de esquerda.
Lira deu uma entrevista pro Bial e o jornalista comentou o comportamento dos parlamentares de direita, ele falou que não era só pela direita e mostram exatamente a minha imagem. Ele cita o caso, demonstrando que está trabalhando pessoalmente por essa cassação.
Então eu não tenho dúvida, eu tenho certeza da ingerência dele no caso. As informações que eu recebi só estão sendo confirmadas pelo conjunto de indícios, é exatamente o que está acontecendo.
Você se arrepende de ter chamado Arthur Lira de “bandido” na sessão do Conselho de Ética? Foi reação quando estava de “cabeça quente”?
Foi cabeça quente não. Foi com emoção, mas é isso mesmo. É um bandido que fica manejando bilhões do orçamento pra lá e pra cá. Utilizando isso da maneira mais espúria possível. E aí não tem outra palavra para utilizar a não ser que ele é um bandido que precisa ser enfrentado.
Tem esperança de que a cassação possa ser evitada?
A esperança é a última que morre, mas não tenho nenhuma expectativa com Lira e seus aliados. Aliás, minha expectativa em relação a ele é sempre a pior possível.
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