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Valdemar Figueredo (Dema)

Idealizador e coordenador desde 2017 do Observatório da Cena Política Evangélica pelo Instituto Mosaico (www.institutomosaico.com.br). Pós-doutorando em sociologia pela USP. Doutor em ciência política (antigo IUPERJ, atual IESP-UERJ) e em teologia (PUC-RJ). Pastor da Igreja Batista do Leme e da Igreja Batista da Esperança, ambas na cidade do Rio de Janeiro.

Silas Malafaia: um pastor de ‘valores’

O empresário Malafaia é um jogador compulsivo que usa igrejas como fichas e blefa quando diz que Deus é o seu fiador
11/09/2024 | 13h35

Do alto da sua arrogância, esbraveja no dia 07 de setembro na avenida Paulista como se fosse imprescindível para a independência do país. No berro, mira as possibilidades de perdão de dívidas e liberação de créditos.

Investe no impeachment do ministro Alexandre de Moraes com a soberba de fazer parecer vocalizar o juízo divino. Ao defender o clã Bolsonaro, está protegendo os seus próprios valores e interesses.

Elenca os supostos crimes de Alexandre de Moraes fazendo uma hermenêutica da Constituição Federal bastante viciada. Exatamente como procede com a Bíblia. Cita artigos da Carta Magna Brasileira como se tivesse algum apreço pela democracia.

Malafaia defendeu a tentativa de golpe do dia 08 de janeiro de 2023. Agora, no dia 07 de setembro de 2024, discursa tentando ganhar no grito a anistia dos patriotas presos que vandalizaram o Congresso Nacional.

O pastor mais influente do país não é de jogar conversa fora. Suas palavras custam caro. Seus valores, inegociáveis. Ou melhor, dependendo do rolo, consegue conversar e até remodelar as suas opiniões. Para essa figura patética do neoconservadorismo, desenrolo vai sempre depender dos valores.

Empreendedor de sucesso, durante os expedientes no escritório traça planos com equipe técnica para aquisição de bens, imóveis e equipamentos. Claro, justifica que tudo é para a glória de Deus e expansão do evangelho. No púlpito, nos dias de culto, divide a fatura com os irmãos.

Aciona estrategicamente os sermões sobre a famigerada lei da semeadura. Ofertas e dízimos são sementes e quando jogadas em terra fértil, prosperam. Participa de campanhas para erguer estranhas catedrais, virar jogos de aposta em que Deus lança os dados. A banca sempre vence.

Malafaia se pronunciou enfaticamente contra o projeto (PL 2234/2022) que legaliza e disciplina os cassinos, bingos e apostas. Segundo o pastor, Deus não aprova jogos de azar. No entanto, deduzimos, não pelo dito, mas, pelo feito, Malafaia admite que exista um tipo de “jogos da sorte” que Deus tolera e até se diverte.

Tais roletas admitidas pelos pregadores da teologia da prosperidade, na versão adaptada por Malafaia como “lei da semeadura”, são rotuladas como desafios de fé.

Testar a sorte na igreja virou uma mania nacional. Nesse contexto, “fazer uma fezinha” ganha contornos inéditos.

O patriota que gritou na Avenida Paulista para blindar o clã Bolsonaro e tentar encurralar os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ficou rico pregando o Evangelho.

Enquanto o mestre de Nazaré anunciou as boas novas de salvação, o pastor da Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC) da Vila da Penha estimula a ascensão da classe média como sinal divino e senha para o domínio das estruturas da República.

Jesus multiplicou pães e peixes. Logo após, operou um milagre, convenceu a multidão a repartir e evitar desperdícios. Organização e método para a partilha. Conversão dos egoístas que resolveram dividir com quem não tinha. O pão de cada dia, segundo Jesus, é nosso.

Quanto aos milagres operados pelo líder máximo da ADVEC: multiplica boletos para os crentes que “fazem uma fezinha” nos cultos e multiplica o patrimônio dos empreendedores do ramo da fé. Dizem que o combinado não sai caro. Será?

Falso profeta vestido de patriota

Permita-me uma citação bíblica. Jesus advertiu para que os seus seguidores não se iludissem com a lábia de falastrões que usam o nome de Deus para promover os seus próprios interesses.

Malafaia é uma farsa tendo como parâmetro o que ensinou Jesus. Pelos seus frutos, sabemos que ele está mais para um viciado compulsivo em “jogos da sorte” do que para o profeta conservador da nação.

Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores. Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? (Mateus 7.15-16).

O bolsonarismo pregado pelo Malafaia não tem nada a ver com Jesus, nega o evangelho, macula a igreja, escandaliza os observadores.

Por que os evangélicos aderem a este tipo de liderança? Líder ríspido que vocifera discurso de ódio tendo a Bíblia como mero adereço. Os leitores da Bíblia não deveriam no mínimo considerar tais comportamentos estranhos?

A tentativa de vergar o Estado para atender aos interesses não declarados de grupos religiosos causa nojo.

Empresários que investem na fé para fazer negócios deviam ser minuciosamente investigados pelos órgãos competentes do Estado, mas, principalmente, investigados pelas congregações locais.

O grande mistério persiste: quais os fatores determinantes para que ovelhas dóceis obedeçam à voz de pastores que em nada, nada mesmo, lembram a voz e a pessoa de Jesus?

 

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