Uma enorme expectativa pelo desempenho do ex-coach Pablo Marçal pôde ser acompanhada no Google-BR, no qual a expressão “Marçal ganhou a eleição?” representou 7 das 10 buscas em ascensão junto ao nome do ex-coach nas primeiras horas após o fechamento das urnas. Já no Facebook/Instagram, o nome de Marçal aparece atrelado principalmente ao laudo falso divulgado no sábado. A disputa acirrada pelo 2º turno e a expectativa ainda que frustrada de um apoio de Bolsonaro à Pablo Marçal também mobilizaram apoiadores do candidato. Esse foi o primeiro indício do desapontamento da base bolsonarista com o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Uma análise mais distante do último domingo e dos consequentes resultados eleitorais aponta para uma disputa voraz no campo bolsonarista, o segundo indício desse desapontamento. Em um cenário que é composto por diversos flancos, que vão desde a ausência do apoio de Marçal ao candidato Ricardo Nunes até declarações de Malafaia criticando publicamente Jair Bolsonaro, questionamentos surgem sobre a possibilidade de novas lideranças ocuparem o espaço de liderança neste cluster. Apesar dos embates e questionamentos sobre a ausência de Jair Bolsonaro enquanto liderança nos últimos meses, Marçal e Malafaia recebem críticas de apoiadores do ex-presidente, ainda que apoiadores do ex-coach se manifestem e preguem – ainda que apenas publicamente – um “voto de protesto” no candidato Boulos em SP.
O embate velado entre Nunes e Marçal permanece e ganha espaço na terça (8), desta vez com a declaração pública do ex-coach. Nesse cenário, 35% dos comentários sobre este embate são de usuários que declaram apoio a Boulos por vingança, motivados pela insatisfação com o apoio de Bolsonaro a Ricardo Nunes — o já conhecido e agora repaginado “voto de protesto”. Críticas ao ex-coach e à condução da campanha são realizadas por 25% dos usuários, enquanto a percepção de que a divisão entre os grupos de extrema-direita é exacerbada com a declaração de Marçal representa 20% das ocorrências. Acusações de hipocrisia contra Marçal (15%) dão conta de um “mau perdedor”, enquanto 5% levantam desconfianças sobre as reais motivações para a decisão.
O terceiro indício está na entrevista de Silas Malafaia para Mônica Bergamo e destaca quatro atores: Silas Malafaia, Jair Bolsonaro, Pablo Marçal e Tarcísio de Freitas. Os comentários realizados na publicação oficial no Instagram apontam um viés crítico para a suposta busca de um “novo líder político” por parte do pastor (35% dos comentários). Outros 25% apontam explicitamente para o que consideram ser um “oportunismo político” tendo em vista a “fragilidade atual” de Jair Bolsonaro. Não escapa aos apoiadores bolsonaristas o fato de a entrevista acontecer na Folha (20% dos comentários), nem a percepção de que essa disputa ocorre na esteira do enfrentamento entre Marçal e Nunes em SP (15%). Críticas ao comportamento do pastor “envolvido em política ao invés de focar em seu papel espiritual” representam 5% dos comentários.
Já ao analisarmos a publicação de Carlos Bolsonaro, em que o vereador busca se posicionar sem criticar Malafaia de forma explícita, 35% dos comentários reagem com críticas ao pastor, principalmente por uma percepção de traição contra Bolsonaro. Outros 25% apontam diretamente para Tarcísio e Kassab, criticando Malafaia por se aproximar de “políticos do sistema”. A divisão na direita (20%), o questionamento sobre a lealdade (15%) e questionamentos sobre a saúde mental do pastor (5%) se destacam. Apesar do reduzido volume, publicações e comentários questionam a atuação de Jair Bolsonaro como figura central do cluster bolsonarista, apontando para outros atores como Tarcísio de Freitas e lideranças evangélicas.
O maior engajamento com o tema — ainda que de maneira passiva — levou Bolsonaro a se destacar no primeiro momento pós-eleitoral, ignorando derrotas significativas (Rio de Janeiro) e enaltecendo vitórias localizadas (filhos eleitos vereadores). Já no caso de São Paulo, o sentimento é paradoxal: ao mesmo tempo em que o candidato bolsonarista oficial está no 2º turno, existe uma frustração da base bolsonarista nas redes sociais, que aguardava ansiosamente a oficialização do apoio de Jair Bolsonaro ao candidato Pablo Marçal em um eventual 2º turno — expectativa essa alimentada ao longo do dia pelo próprio ex-presidente.
Enquanto Lula não consegue se desvencilhar do pífio desempenho do PT, Jair Bolsonaro também não conseguiu se esquivar da decepção bolsonarista pela ausência de Marçal no 2º turno da eleição paulistana. Ainda assim, o ex-presidente e sua base nas redes sociais são eficazes em promovê-lo como vencedor na disputa direta contra Lula, contra a esquerda e principalmente contra o PT.
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