Por André Uzêda
O comitê de campanha de Guilherme Boulos (PSOL) ingressou com uma representação na Justiça Eleitoral pedindo esclarecimentos ao Datafolha. O questionamento é sobre a primeira pesquisa divulgada pelo instituto no segundo turno, no dia 10 de outubro, que indicou uma diferença de mais de 22% entre o psolista e Ricardo Nunes (MDB) na disputa pela prefeitura de São Paulo.
Além da enorme distância na intenção de voto (33% x 55%), o Datafolha também apontou uma larga rejeição do eleitorado contra Boulos, de 58%. Nunes aparece com 37% neste mesmo quesito.
Os números do Datafolha foram os que apresentaram maior índice, tanto em diferença de voto quanto em rejeição, em comparação com os demais institutos de pesquisa.
A campanha de Boulos questiona a metodologia utilizada pelo Datafolha, pontuando que o instituto “não foi transparente” e que há dúvidas sobre “possíveis ajustes”, que favoreceriam o atual prefeito.
A principal crítica é que os resultados brutos da pesquisa indicam um cenário que não se confirma quando os números foram consolidados, o que configuraria uma “fraude estatística”.
Vale explicar que toda pesquisa de intenção de voto faz uso de um expediente chamado de “ponderação”, usado para calibrar as amostras finais. Estes são índices usados para corrigir eventuais distorções que a pesquisa de campo apresenta ao fim da coleta de dados — como, por exemplo, ter uma amostra com mais mulheres que homens, muito diferente do universo retratado.
O ponto é que o critério de uso da ponderação precisa ser detalhado no ato de registro da pesquisa. Geralmente, são de gênero, idade e escolaridade.
A campanha de Boulos mostrou que o Datafolha aplicou uma ponderação que não havia sido registrada na Justiça Eleitoral. O critério escolhido foi perguntar ao eleitor em qual candidato ele havia votado no primeiro turno.
Os dados brutos do Datafolha indicam que, quando os entrevistadores foram às ruas, 15% dos entrevistados afirmaram ter votado em Pablo Marçal. Como nas urnas, o candidato do PRTB teve 23% dos votos, a ponderação corrigiu este índice para cima, modificando a amostra final.
Internamente, o comitê de Boulos interpreta o ato como “uma gambiarra eleitoral”, e atribui a ela a mudança dos dados da pesquisa, incluindo o índice de rejeição do deputado federal do PSOL.
“Ao ponderar os dados para aproximar os resultados da declaração de voto no primeiro turno dos resultados das urnas, todas as demais respostas foram ponderadas também, gerando grandes mudanças nos resultados ponderados divulgados em relação aos que seriam obtidos pela aplicação das ponderações dos dados demográficos”, diz trecho do pedido do comitê de Boulos ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP).
Pelos dados brutos da pesquisa, a diferença entre Nunes e Boulos era de 10,5% pelos dados de campo. Com o uso da ponderação, esse dado saltou para 22,1 pontos percentuais de diferença. Isso no cenário estimulado, quando o pesquisador indica ao eleitor os nomes dos candidatos em disputa.
Na pesquisa espontânea, quando os eleitores informam em quem vão votar, sem que o pesquisador indique os nomes, outra distorção aparece. A diferença salta de dois pontos percentuais na coleta para 12 pontos no resultado final.
Resposta do Datafolha sobre questionamento do Comitê de Boulos
O ICL Notícias teve acesso à resposta dada pelo Datafolha ao Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. No texto, assinado por Luciana Chong, diretora-geral do Datafolha, contesta a “inexistência de qualquer favorecimento a uma candidatura em detrimento de outra”.
Chong diz ainda que as pesquisas do Datafolha foram realizadas e divulgadas de maneira correta e citou também o “zelo pela metodologia científica, independência e transparência” que marcam os 39 anos de história do instituto.
Sobre a falta de transparência alegada pela campanha de Boulos, a diretora-geral do instituto argumenta que o Datafolha “disponibiliza integralmente, em seus relatórios, os resultados com bases originais e ponderados de suas pesquisas eleitorais”, se notabilizando como o único instituto a adotar tal procedimento.
“Isso torna possível o escrutínio público e o pedido de esclarecimentos de partidos e demais interessados em seus resultados, como é o caso do objeto de origem deste esclarecimento”.
Em entrevista à Folha de S. Paulo, do qual o instituto Datafolha faz parte do mesmo grupo, Chong disse que a Justiça Eleitoral não exige que todas as variáveis sejam indicadas ao registrar o levantamento, de acordo com atualizações feitas em fevereiro deste ano.
“No meu entendimento, não era mandatório incluir esse dado [uso de ponderação sobre voto passado] no registro. O que o instituto faz a mais [do que o TSE exige] para melhorar sua pesquisa é uma questão interna”, pontuou.
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