A poucos dias do segundo turno de votação, o Datafolha divulgou nesta quinta-feira (17) pesquisa de intenção de voto para prefeito de Fortaleza em que André Fernandes (PL) aparece com 45%, tecnicamente empatado com Evandro Leitão (PT), que tem 43%.
Se o eleitor da capital cearense escolher Fernandes, além de quebrar a hegemonia da centro esquerda no cargo, estará colocando à frente da cidade um jovem de 26 anos conhecido por discurso golpista, negacionista e pelas mentiras que propaga, algumas que inclusive o levaram a ser condenado na Justiça.
O possível futuro prefeito de Fortaleza ficou conhecido em 2017, quando fez um vídeo ensinando as pessoas a depilar o ânus. O fato foi ironizado pelo presidente Lula, que na sexta-feira (11) discursou no Ceará. “Nós temos que dizer a verdade para o povo. Essa cidade não pode ter um negacionista… que a única virtude dele é colocar na internet as coisas que anda fazendo de depilação”, afirmou, sendo aplaudido pelo público.
Além da depilação anal, André Fernandes é conhecido por uma atuação parlamentar agressiva, cheia de acusações falsas contra os colegas deputados, por mentiras e por incentivo ao golpe de Estado e desrespeito às instituições.
Chegou a ser investigado pela suspeita de instigar os atos de 8 de janeiro, quando bolsonaristas inconformados com a eleição de Lula invadiram as sedes dos Três Poderes em Brasília, mas a Procuradoria-Geral da República depois se manifestou pelo arquivamento do caso.
Subcelebridade
André Fernandes é natural de Iguatu, cidade localizada na região centro sul do Ceará. Filho de um pastor evangélico, antes de ingressar na carreira política, gastava boa parte de seu tempo na produção de vídeos para redes sociais, com conteúdo caracterizado pelo próprio como “zoeira e comédia”. Seu canal no YouTube possui mais de 500 mil inscritos e 143 vídeos.
Em seu vídeo mais antigo na plataforma, datado em 23 de agosto de 2017, Fernandes fala sobre uma reestruturação em seu conteúdo, passando a realizar o que ele considera como “opiniões” sobre atualidades e assuntos diversos. Apesar de dizer no mesmo vídeo que manteria o registro do seu conteúdo antigo que ele diz “não ter vergonha”, Fernandes mantém em seu canal apenas postagens com datas até agosto de 2017, excluindo toda sua produção de anos anteriores — inclusive a cena da depilação anal.
Mentiras contra os colegas
O deputado federal André Fernandes (PL), se destaca na Câmara dos Deputados como um dos principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. Apesar disso, ele chegou ao segundo turno moderando seu discurso e “escondendo” essa aliança na reta final da campanha.
Na eleição de 2018, Fernandes, então com 22 anos, foi o deputado estadual mais votado do Ceará e tornou-se o deputado mais jovem do país.
Pouco mais de um ano depois de assumir na Assembleia Legislativa, ele já acumulava diversas representações contra o seu mandato, protocolados por partidos e parlamentares que o acusavam de calúnia, injúria e propagação de informação falsa.
Em 2019, ele foi condenado a indenizar o seu colega da ALCE, deputado Nezinho Farias (PDT), por ter afirmado na tribuna que ele estaria envolvido com facções criminosas cearenses. Fernandes foi condenado a pagar R$ 8.000 a Nezinho Farias e suspenso por 30 dias por quebra de decoro parlamentar.
Em seguida, o bolsonarista publicou em seu Twitter uma acusação contra o secretário de saúde do estado, Dr. Cabeto, alegando que ele estaria “pressionando os profissionais da saúde para colocarem ‘covid-19’ nos atestados de óbito”. Mais uma vez, não apresentou provas.
Também sem provas, acusou Osmar Baquit, deputado estadual pedetista, de ser aliado de quadrilhas criminosas do interior do estado. Chegou a ser alvo de um abaixo-assinado encaminhado à ALCE por médicos que pediram a cassação do mandato de André Fernandes pela divulgação de fake News sobre a situação da saúde cearense e pela acusação feita ao Dr. Cabeto.
Mais fake news
Em novembro de 2019, o governador do estado Camilo Santana entrou com uma representação criminal contra o deputado estadual, sob acusação de calúnia, difamação e injúria. A representação fala sobre o uso das redes sociais de Fernandes para propagação de notícias falsas. No dia 11 de maio daquele ano, o Instagram classificou uma postagem feita por Fernandes como “informação falsa”. O post apagado pela rede social trazia dados enganosos sobre a saúde do Ceará, afirmando que os casos de mortes por doenças respiratórias em 2019 no estado seriam superiores aos casos de 2020, quando o país estava no meio de uma pandemia.
A desinformação foi desmentida pela Secretaria de Saúde do Estado (SESA), e o deputado falou que a sua equipe teria feito uma “confusão” ao divulgar os dados. A postagem foi compartilhada por seu pai político, o presidente Jair Bolsonaro, que também foi apagada pelo Instagram do perfil do presidente.
No dia 30 de setembro de 2019, Fernandes fez uma retratação pública em seu Twitter, após afirmar que o governador Camilo Santana não teria aderido ao programa de militarização do ensino público.
Na pandemia, Fernandes usou seu tempo de parlamentar em uma caça à supostas irregularidades nos óbitos por covid-19 no estado. Em suas postagens nas redes sociais, como fizeram outros negacionistas, ele propagava que as mortes pelo vírus foram superfaturadas.
O Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará acionou o Ministério Público para investigar possíveis irregularidades. “A ação da entidade também foi impulsionada pela atual discussão na esfera política-midiática, com representantes públicos e profissionais médicos, sobre a possível existência de ‘fake news’ a respeito do assunto. Portanto, a iniciativa do Sindicato pretende esclarecer os fatos e, prioritariamente, proteger e defender os profissionais da Saúde e a Medicina de qualidade” diz um trecho de nota emitida pelo órgão.
Condenações do deputado
Em 2021, o então deputado estadual cearense André Fernandes foi condenado a pagar indenização de R$ 50 mil à jornalista Patrícia Campos Mello, depois de publicar nas redes sociais ataques machistas contra a jornalista da Folha de São Paulo.
A decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo foi assinada pelo juiz Vitor Frederico Kümpel.
Também em 2021, o Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) ingressou com uma ação contra André Fernandes por suposta prática de nepotismo. As investigações apontam que ele indicou dois parentes para cargos no seu gabinete na Assembleia Legislativa.
Ele, inclusive, entrou em acordo com o MPCE, e pagou R$ 1 mil de multa. O acordo foi firmado em 19 de agosto de 2021, pelo juiz da 12ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da capital cearense.
No começo de 2022, uma investigação conduzida pelo MPCE apontou que André Fernandes mantinha uma funcionária fantasma na Assembleia Legislativa do Ceará. À época, ele afirmou em nota que a funcionária precisou cumprir um estágio em uma academia do curso universitário que fazia e que a contratação da funcionária “se deu de forma regular”.
Apesar desse currículo nada favorável, o eleitor de Fortaleza pode transformar Fernandes no prefeito da capital do Ceará.
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