Por Fabio Pannunzio
A julgar pelo andar da carruagem da nova comunicação política, o próximo presidente da República não virá da estrutura dos partidos. Virá da internet, o nicho de onde saíram Bolsonaro, Nikolas Ferreira, Pablo Marçal e tantos outros.
É patente que a direita entendeu melhor e tomou as rédeas do processo político, pois seu ressurgimento no Brasil não seguiu o figurino institucional. Essa direita, agora tão empoderada, nasceu de manifestações desprovidas de lideranças formais, nas ruas, em 2013.
Mas e a esquerda, hein?
Nem é preciso ser um expert em marketing político para perceber as dificuldades dos partidos em formar novos líderes. Eles estão defasados no tempo e no espaço das novas mídias. E não têm nem ideia do que será preciso fazer para sair do imobilismo quase catatônico em que se encontram.
Além disso, as estruturas partidárias arcaicas de controle e dominação abrigam o que Max Weber chamou de “inimigo vulgar”.
Disse ele: “Há um inimigo vulgar, muito humano, que o homem político deve dominar a cada dia e a cada hora: a muito comum vaidade. Ela é inimiga mortal de qualquer devoção a uma causa, inimiga do recolhimento e, no caso, do afastamento de si mesmo.”
No campo progressista, não é difícil enxergar os efeitos da vaidade. Os líderes que despontam são tratados como o Pequeno Príncipe tratava a ameaça representada pelos baobás que infestavam o Asteroide B-612: todos precisam ser extirpados antes que suas raízes rachem o planetinha da vaidade.
Graças a isso Lula continua sendo o único recurso contra o avanço do nacional-populismo. Ele é a rosa solitária — talvez mesmo a nogueira preta — sobre cujos ombros recai ainda hoje toda a responsabilidade de nos salvar das garras do fascismo.
É importante observar que, enquanto a direita forma líderes no Instagram, à sombra da roseira progressista nada prosperou nos últimos anos.
Baobás como Flávio Dino, talvez o único quadro viável para enfrentar o bolsonarismo na ausência de Lula, foram sumariamente eliminados. Outros, como Ciro Gomes, degeneraram em ervas-daninhas.
Se você observar bem o resultado desta eleição, vai perceber a dificuldade extrema dos candidatos progressistas em capitalizar a popularidade de Lula. Embora exista, a transferência de prestígio transformado em capital eleitoral não ocorre mais de maneira espontânea.
É hora, então, de começar a olhar para os lados e para a frente, e tomar ciência de que a campanha eleitoral de 2026 já começou. Ela acontece em cada post do antigo Twitter, do Instagram e do TikTok.
É lá que os futuros candidatos estão criando a reputação que, em dois anos, será convertida em votos. É nas redes que está o fulcro da atividade política, não mais nos partidos.
Embora pareça um despautério, o campo progressista está perdendo tempo ao deixar de aprender com a direita como deve ser essa nova forma de fazer política.
A busca por resultado eleitoral há muito não se dá no âmbito das campanhas formais. Ela ocorre todo dia, não mais emoldurada por bordões seculares e discursos empolados, mas na forma de memes, vídeos curtos e frases cortantes. E quem domina essa linguagem, domina o cenário eleitoral.
A língua chula sepultou a oratória. A utopia morreu — agora, o que cria empatia é justamente a distopia. São tempos estranhos, nos quais a novidade imediata soterra as tradições, os emojis ameaçam a comunicação textual e a imagem pobre numa tela de celular é a única janela para um mundo onde não existe mais a verdade, pois cada cidadão é dono de uma verdade individual.
Pois é desse mundo estranho que sairá o próximo Presidente da República. Se as esquerdas não entenderem isso, serão cabalmente derrotadas. Os sinais estão claros, e não apenas no Brasil.
Há gente despontando para assumir o papel de liderar esse processo em todos os quadrantes da internet. É preciso prestar atenção a esses novos líderes, que incomodam tanto os políticos tradicionais. Prestar a atenção não para matar os baobás que brotam, e sim para nutri-los e fortalecê-los
Se nada mudar nesse cenário, confesso: eu já tenho um candidato. Chama-se Felipe Neto. É um fenômeno da internet, mas não tem nada a ver com o limbo político representado pelas subcelebridades da direita. Ao contrário: é uma espécie de flor no pântano das redes sociais.
Não sei se concorrerá ou não — imagino até que essa ideia nem tenha passado pela cabeça dele. Não importa. Se não for um Felipe Neto a vencer a próxima eleição, será um Pablo Marçal, um Nikolas ou outro Bolsonaro.
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