Nomeado na semana passada como o futuro ministro da Fazenda do novo governo Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) quer mostrar para o mercado que não é um político centralizador como alguns críticos têm apontado. Tanto que ele promete criar um conselho de economistas com linhas de pensamento distintas para ajudá-lo a tomar as decisões quando assumir o cargo. Estão sendo ventilados nomes como de Armínio Fraga, Luiz Carlos Bresser-Pereira, Henrique Meirelles, Persio Arida, Luiz Gonzaga Belluzzo e André Lara Resende, ou seja, alguns deles (Arida e Resende) pais do plano real. O anúncio deve ser feito ainda nesta terça-feira (13).
De acordo com o portal de notícias G1, formar uma espécie de conselho de “notáveis” para a economia é uma ideia defendida por economistas próximos ao PT, como ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Mas esse modelo não é necessariamente novo, segundo o próprio Haddad. “Eu fazia muito isso no MEC [Ministério da Educação], reunia ex-ministros, grandes autoridades da educação. Porque aí você melhora muito o ambiente na tomada de decisão. Facilita no Congresso, na sociedade”, disse Haddad em entrevista ontem (12). “A dimensão política da política econômica também é importante. Precisa aparar arestas, apaziguar o país, dar rumo para as coisas”, completou.
Nos próprios governos petistas a ideia não é nova. No primeiro mandato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), entre 2003 e 2006, o petista se valeu do “conselhão” – instância que reunia representantes de entidades patronais, sindicatos, movimentos sociais, economistas, entre outros. Porém, críticos diziam que a efetividade do grupo é próxima de nula.
Por outro lado, o ex-ministro da Fazenda de Lula, o médico Antonio Palocci, cercou-se de profissionais com perfil bastante técnico, o que foi bem recebido pelo mercado financeiro.
Em seu segundo mandato, (2007-2010) Lula voltou a adotar um conselho, mas com perfil mais enxuto e informal, que era formado pelo então presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, e pelo economista Luiz Gonzaga Beluzzo.
Além de conselho de economistas, Fernando Haddad quer adotar modelo de controle de gastos usado na Prefeitura de SP
Descendente de libaneses, Fernando Haddad é advogado de formação, mas tem mestrado em Economia e Doutorado em Filosofia pela USP (Universidade de São Paulo), instituição na qual também obteve a sua graduação. Na área econômica, teve participação na criação da Tabela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e no projeto que deu origem à Lei das Parcerias Público-Privadas. Na pasta da Fazenda, ele quer usar a sua gestão de finanças em São Paulo como modelo de controle de gastos.
Segundo o jornal O Estado de S.Paulo, o ex-prefeito de São Paulo (2013 a 2016) tem reforçado recentemente a interlocutores que a sua gestão na capital paulista foi marcada não só pela concessão do grau de investimento pela agência internacional de classificação de risco Fitch, mas pela redução da dívida, caixa com recursos para investimentos, atuação do lado receitas, despesas e reestruturação das carreiras.
Em uma dessas conversas em Brasília, Haddad fez questão de reforçar sua origem libanesa, em um contraponto às críticas que vêm recebendo de que seria um ministro da fazenda gastador, um das preocupações dos economistas do mercado financeiro em razão do aumento de gastos já contratado com a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, em tramitação no Congresso com impacto que pode superar R$ 168 bilhões em 2023.
Fontes disseram à reportagem do Estadão que Haddad apontou que, na prefeitura, não tomou medidas populistas, mas fez ações necessárias para tornar o município com capacidade de investimento. O resultado, segundo ele, foi que o governo da cidade se tornou um credor líquido. Ou seja, com caixa maior do que todos os seus compromissos de curto, médio e longo prazo.
Lembrando que, em artigos publicados nos últimos anos, Haddad apontou equívocos feitos no governo de Dilma Rousseff, cujo ministro foi Guido Mantega. As críticas seriam um sinal de que ele não deixaria que os mesmos erros, muito criticados por agentes do mercado financeiro até hoje, não seriam repetidos durante seu mandato na Fazenda.
Após ser nomeado por Lula na última sexta-feira (9), Haddad disse, em rápida entrevista, que o estabelecimento de uma nova regra fiscal, em substituição ao teto de gastos, a retomada de acordos internacionais e a reforma tributária serão as primeiras iniciativas do seu ministério em 2023. “O importante é a gente ter uma agenda para 2023 forte, recuperar os acordos internacionais, que estão parados, sobretudo União Europeia, a questão do arcabouço fiscal e da reforma tributária, como grandes movimentos nossos, faremos todos”, disse Haddad.
Nesta terça-feira, o futuro ministro da Fazenda deve começar a nomear alguns nomes que comporão o seu ministério. Hoje, Haddad se reúne com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e sua equipe, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Redação ICL Economia
Com informações do G1 e O Estado de S.Paulo
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