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Selic contribui para encarecer ainda mais juros do cartão de crédito e do cheque especial em janeiro

Dados de relatório da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado mostram que juros do cartão de crédito para quem atrasa o pagamento pode chegar a 182% ao ano, enquanto o do cheque especial, a 132%
27/03/2023 | 15h49

Estrangulado pelo desemprego – ou pelo emprego de má qualidade – e perda de renda nos últimos anos, o brasileiro muitas vezes não consegue se dar conta do efeito dominó da Selic, a taxa básica de juros da economia, sobre a sua vida. Como o próprio nome já diz, a taxa básica, atualmente em 13,75% ao ano, é usada como referência para todas as outras que permeiam a economia brasileira. Quando está alta, os juros encarecem junto, principalmente aquele crédito facilmente disponível pelos bancos: o cartão de crédito e o cheque especial.

Esses dois, aliás, são os grandes vilões do bolso do brasileiro, que muitas vezes não tem a noção do tanto que lhe é cobrado na fatura. Ambos formam a modalidade de crédito que mais cresceu em janeiro em relação ao mesmo período de 2022. Os dados são do relatório de acompanhamento fiscal da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal, publicado em 15 de março.

Tanto o cartão de crédito quanto o cheque especial dispensam a burocracia exigida pelas demais linhas de crédito. Por essa razão, na hora do aperto grande parte dos brasileiros recorre aos dois, o que acaba virando uma bola de neve e fazendo com que muitos engrossem a lista de devedores.

Ambas as modalidades têm as taxas de juros mais altas do mercado. Conforme o relatório do IFI, quem atrasa o cartão de crédito, por exemplo, pode pagar 182% ao ano (se parcelar o pagamento) ou 411% ao ano (se entrar no rotativo).

Por sua vez, os juros do cheque especial podem chegar a 132% ao ano. Não existe investimento que chegue a esse percentual. Portanto, entrar no cheque especial é um péssimo negócio.

De acordo com reportagem do site G1, as porcentagens equivalem às taxas médias de juros de janeiro, divulgadas pelo Banco Central. Ou seja, existem taxas mais baixas e muito mais altas nessas modalidades, algumas podendo chegar a mais de mil por cento ao ano.

Essas são algumas das razões que têm levado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e integrantes da sua equipe a criticarem o patamar atual da taxa Selic. Recentemente, empresários, como Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e até economistas internacionais renomados têm criticado o atual patamar dos juros no Brasil, os mais altos do mundo.

Trata-se de um remédio amargo adotado pelo capitalismo mais ortodoxo, muito ruim para fazer a economia crescer, pois, além de prejudicar o bolso do brasileiro, também torna mais caro os investimentos para as empresas.

Selic: brasileiro acaba recorrendo a crédito com juros caro para pagar outras dívidas. Mercado de trabalho ruim contribui para situação

Não foram somente os juros e o cheque especial que subiram no Brasil. O efeito cascata também atingiu outras linhas de crédito em janeiro, como o empréstimo com garantia de imóveis e de veículos.

Já as linhas consideradas mais seguras, como o crédito consignado — que tem taxas de juros mais baixas por já ser descontado da folha de pagamento — e os financiamentos de veículos e imobiliário, subiram abaixo da média no mês (17,7% para pessoas físicas).

Dados do Banco Central publicados pelo site G1 mostram como ficaram as taxas em janeiro ante o mesmo mês de 2022:

Cartão de crédito rotativo: 51%
Cartão de crédito parcelado: 41,1%
Cheque especial: 19,6 %
Empréstimo consignado: 16%
Empréstimo não consignado: 15,8 %
Crédito imobiliário: 14,1%
Aquisição de veículos: 7,3%

Mas o quadro mais triste dessa situação é que boa parte dos brasileiros, vítimas do mercado de trabalho precarizado, também acaba recorrendo às modalidades mais caras de linhas de crédito para pagar outras dívidas. É o que o relatório do IFI detecta quando faz uma comparação de 12 meses.

Como grande parte deles não tem carteira assinada e os bancos estão muito mais criteriosos para conceder crédito, muitos não conseguem recorrer a linhas de empréstimos mais baratas, como o consignado. A isso se soma o aumento da inadimplência e do comprometimento da renda das famílias brasileiras.

Basicamente, o relatório mostra que o brasileiro está trabalhando para pagar dívidas, uma das reclamações de Lula a respeito da política monetária do Banco Central, que justifica o atual patamar da Selic à inflação. Mas, como mostram os dados, não há inflação de demanda no país, porque ninguém está comprando. E, assim, a economia não cresce.

Para ajudar os brasileiros que não estão dando conta de pagar suas dívidas, o governo está preparando o Desenrola Brasil, o qual, em um primeiro momento, pretende ajudar a sair do sufoco cerca de 40 milhões de brasileiros com dívidas de até R$ 5 mil.

Ainda segundo o BC, o volume de dinheiro gasto com cartão de crédito por famílias que ganham até 2 salários mínimos disparou entre 2021 e 2022, tempo que coincidiu com a pandemia de Covid-19. O estoque emprestado para famílias que ganham de 1 a 2 salários mínimos aumentou 77% entre janeiro de 2021 e dezembro de 2022, passando de R$ 48,4 bilhões para quase R$ 85,9 bilhões.

Redação ICL Economia
Com informações do G1

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