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O que é Comunismo? Entenda um pouco mais a ideologia da igualdade social

O comunismo, enquanto proposta socioeconômica, busca eliminar desigualdades e promover a justiça social. Saiba mais sobre sua história, ideias e distorções atuais.
06/12/2024 | 01h29

O comunismo é uma ideologia política e econômica que defende a abolição do capitalismo, um sistema de natureza exploratória, focado na propriedade privada – algo que sempre gera desigualdades e injustiças.

No entanto, esses objetivos e o histórico desse movimento foram distorcidos pela extrema-direita para criar narrativas que servem aos seus próprios interesses e deslegitimam a realidade da luta de classes. Ao transformar figuras históricas em vilões, deturpam e diminuem seus legados – o que descredibiliza os ideais de igualdade e justiça social que eram e são o objetivo dessa ideologia.

Para retomar a luta de classes por uma sociedade mais justa, precisamos analisar os documentos, as fontes, os textos e analisar os fatos, evitando negacionismo histórico. Compreender a relevância e o impacto do comunismo para os debates atuais é necessário tanto para aprender as lições e exaltar as conquistas quanto para – com as perspectivas críticas da História – procurar alternativas, escolhas diferentes daquelas que fizemos no passado. Neste artigo, vamos abordar o comunismo, as principais ideias desse modelo político e explicar algumas das distorções adotadas recentemente pela extrema direita no Brasil e no mundo.

Contexto histórico e filosófico do Comunismo

Entender o que é comunismo é analisar o pensamento filosófico e econômico de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), que criticaram ferrenhamente o capitalismo e lutaram uma sociedade sem classes e sem exploração. A teoria materialista da história proposta por eles estabelece que as relações de produção são a base da estrutura social e que a luta de classes é o motor da história.

Estátua em homenagem a Marx (sentado) e Engels em parque de Berlim. Crédito: Márcio Cabral de Moura/ Creative Commons

Estátua em homenagem a Marx (sentado) e Engels em parque de Berlim. Crédito: Márcio Cabral de Moura/ Creative Commons

No livro “Manifesto Comunista”, publicado em 1848, Marx e Engels definiram os princípios básicos do comunismo, incluindo a abolição da propriedade privada e a ditadura do proletariado como etapa de transição para uma sociedade sem classes. Já em “O Capital”, obra de 1867, Marx analisa o funcionamento do capitalismo, expondo a exploração do trabalho e as contradições inerentes ao sistema.

O comunismo, inspirado no pensamento marxista, prometeu uma sociedade igualitária, sem exploração e com distribuição justa da riqueza. Em um mundo marcado por injustiças sociais e desigualdades econômicas, o comunismo surgiu como uma ideologia revolucionária que oferecia uma alternativa ao capitalismo e hoje continua a inspirar partidos políticos, intelectuais e movimentos sociais a transformar a sociedade.

Comunismo e Socialismo, as ideologias inspiradas em Karl Marx

O que é comunismo? Segundo o Dicionário do Pensamento Marxista, comunismo é um sistema socioeconômico que busca eliminar as divisões de classe ao abolir a propriedade privada e estabelecer a propriedade coletiva dos meios de produção.

De acordo com Marx e Engels, ele é uma etapa posterior ao capitalismo, marcada pela ascensão do proletariado ao poder, o que resultaria na transformação completa da sociedade. Essa revolução seria viabilizada apenas quando as condições materiais e históricas fossem favoráveis, envolvendo a união de nações industrializadas e a participação massiva das classes exploradas. No comunismo, a ideia central é acabar com todas as formas de exploração e alienação, criando uma sociedade sem classes.

Já o socialismo, também de acordo com o dicionário, é entendido como uma etapa transitória entre o capitalismo e o comunismo, que busca abolir as classes sociais e as desigualdades econômicas. Ele é caracterizado pela propriedade coletiva ou estatal dos meios de produção, planejamento econômico centralizado e o domínio político exercido por uma classe trabalhadora organizada. O socialismo não tem uma forma fixa e evolui historicamente, sendo constantemente debatido dentro do próprio marxismo, especialmente em relação à sua adequação como caminho para o comunismo.

Segundo o pensamento Marxista, o socialismo é o estado intermediário – de controle do Estado e dos meios de produção pelos trabalhadores – até a implantação do comunismo, que supera totalmente o capitalismo e também inclui a abolição do Estado, da propriedade privada e das classes sociais.

Historicamente, não houve nenhuma nação realmente comunista na história, apenas socialistas. Segundo a teoria, o comunismo transformaria uma nação a tal ponto de não haver a necessidade de Estado, classes sociais ou propriedade privada. A Rússia de 1917 é o caso mais conhecido de nação socialista, mas não se transformou a ponto de ser considerada efetivamente comunista.

Socialismo utópico

O socialismo utópico, a primeira corrente do socialismo, surgiu durante a Primeira Revolução Industrial, antes das Revoluções de 1848. Ele é representado por pensadores como Claude-Henri de Rouvroy (Conde de Saint-Simon), Charles Fourier e Robert Owen. Esses pensadores buscavam propor transformações sociais baseadas em valores de cooperação e harmonia, mas sem reconhecer o papel revolucionário da luta de classes.

Principais ideias do socialismo utópico

  • Claude-Henri de Rouvroy (Conde de Saint-Simon): defendeu que a melhoria das condições das classes mais pobres beneficiaria toda a sociedade. Para ele, o progresso industrial e científico seria a chave para o desenvolvimento social.
  • Charles Fourier: idealizou comunidades autossuficientes (falanstérios), nas quais a cooperação e a eficiência industrial geram felicidade e aumento da produção. Embora essas comunidades não buscassem igualdade absoluta, procuravam reduzir as desigualdades.
  • Robert Owen: propôs que o caráter humano fosse formado pelas circunstâncias sociais. Acreditava que uma sociedade melhor poderia ser criada por meio de comunidades organizadas com base na cooperação e na eliminação do conflito.

Apesar de suas limitações em termos de viabilidade prática e de análise das estruturas de classe, o socialismo utópico lançou as bases para discussões mais profundas sobre justiça social e organização coletiva.

Com o avanço das condições econômicas e sociais no século XIX, surgiu uma abordagem mais crítica e fundamentada do socialismo: o comunismo científico de Marx e Engels. No Manifesto Comunista (1848), eles criticaram o socialismo utópico por ignorar o papel da luta de classes como motor da história e por propor mudanças sem uma análise materialista da realidade.

Comunismo Científico

O comunismo científico, formulado por Marx e Engels, vê o socialismo como uma etapa intermediária rumo ao comunismo. Essa fase é caracterizada pela transição do capitalismo para uma sociedade sem classes, na qual o proletariado controla os meios de produção e o Estado.

No texto Crítica ao Programa de Gotha (1875), Marx descreveu duas fases da sociedade comunista:

  • Primeira fase (socialismo): aqui, o proletariado domina o Estado (ditadura do proletariado) para proteger a nova ordem econômica. A distribuição de bens é baseada no trabalho, e as influências do passado capitalista ainda são evidentes.
  • Fase superior (comunismo): Nesta etapa, o Estado desaparece, e a sociedade opera sob o princípio “de cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades”. As classes sociais deixam de existir, e a produção é completamente socializada.

O socialismo utópico representou o início de uma visão alternativa à sociedade capitalista, enquanto o comunismo científico trouxe rigor teórico e uma estratégia política para a transformação social. Essa evolução do pensamento socialista reflete o aprofundamento das análises sobre exploração, classes e poder, destacando a luta de classes como central para a emancipação humana.

Nomes e símbolos importantes da história do comunismo

Falar do que é comunismo como ideologia e movimento social, é abordar diversas figuras importantes desde seu surgimento. Além dos teóricos, líderes de nações que adotaram o socialismo na esperança de alcançar o comunismo também contribuíram para a história do movimento comunista.

Fundadores e principais teóricos do Comunismo

  • Karl Marx (1818-1883): considerado o pai do comunismo moderno, Marx desenvolveu a teoria materialista da história e a crítica ao capitalismo, que foram fundamentais para o desenvolvimento da ideologia comunista. Suas obras principais incluem “O Manifesto Comunista” (em coautoria com Friedrich Engels) e “O Capital“. Marx viveu na pele a pobreza e as revoluções europeias de 1848 e 1871 – o que impulsionou sua defesa pela mobilização popular para a conquista de direitos e pela revolução.
  • Friedrich Engels (1820-1895): parceiro intelectual de Marx, Engels contribuiu significativamente para o desenvolvimento do pensamento comunista, principalmente com pesquisas que complementaram o trabalho de Marx sobre a situação da classe trabalhadora.

Líderes e figuras importantes dos Estados Comunistas

  • Vladimir Lenin (1870-1924): foi uma das figuras mais importantes da Revolução Russa de 1917, que derrubou a monarquia na Rússia. Lenin adaptou as ideias de Marx à realidade russa e liderou a criação do primeiro Estado socialista do mundo, a União Soviética. Suas obras principais incluem “Que Fazer?” (1902), que marcou um desvio significativo da ortodoxia marxista, e “O Estado e a Revolução” (1917), onde delineou suas ideias sobre o papel do Estado na transição para o comunismo.
  • Joseph Stalin (1878-1953): sucessor de Lenin na União Soviética, Stalin governou o país com punho de ferro por 29 anos. O regime de partido único implementou políticas de industrialização forçada, coletivização da agricultura e repressão política, perseguindo a oposição até em outros países – Trotsky, cotado para suceder Lenin após a sua morte, foi assassinado no México por ordens do próprio Stalin.
  • Mao Tsé-Tung (1893-1976): líder da Revolução Comunista na China, Mao adaptou o marxismo ao contexto chinês, liderando a “Grande Marcha” de 1949 e estabelecendo a República Popular da China. Seu governo foi marcado por reformas agrárias radicais e por campanhas políticas extremamente violentas, como o Grande Salto para Frente e a Revolução Cultural.
  • Fidel Castro (1926-2016): líder da Revolução Cubana, Fidel Castro estabeleceu um regime comunista em Cuba em 1959. Seu governo implementou profundas reformas educacionais, sociais e de saúde.
  • Ho Chi Minh (1890-1969): líder nacionalista e comunista vietnamita, Ho Chi Minh liderou a luta pela independência do Vietnã contra a França e, posteriormente, contra os EUA. Seu governo estabeleceu um regime comunista no Vietnã do Norte após o fim da Guerra do Vietnã e se tornou um símbolo comunista de resistência ao imperialismo.

Conquistas comunistas que inspiraram a humanidade

Apesar das críticas, alguns regimes comunistas conseguiram conquistas significativas em termos de desenvolvimento social e econômico, principalmente na redução da pobreza e da desigualdade.

  • Alfabetização e educação: a URSS e alguns países do leste europeu conseguiram elevar significativamente as taxas de alfabetização e acesso à educação, resultando em um avanço no desenvolvimento humano de suas populações.
  • Saúde pública: muitos países comunistas, como Cuba, implementaram sistemas de saúde pública universais que garantiram acesso à saúde para toda a população. Isso levou a um aumento significativo na expectativa de vida e na melhora das condições de saúde de milhões de pessoas, além de inspirar o mesmo modelo em outros países, como o SUS brasileiro.
  • Reforma agrária: países comunistas realizaram reformas agrárias significativas, redistribuindo a terra para camponeses e melhorando as condições de vida da população rural. Esse modelo de divisão da propriedade agrária também refletiu em políticas públicas de outros países, como o caso do Brasil.
  • Empoderamento feminino: em alguns países comunistas, a igualdade de gênero foi uma prioridade. As mulheres tiveram maior acesso à educação e ao trabalho, quebrando barreiras históricas de discriminação e subordinação.
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra protesta pela retomada das demarcações de terra para a Reforma Agrária. Crédito: Wilson Dias/ Agência Brasil

O movimento dos Trabalhadores Sem Terra, que prega a Reforma Agrária, tem inspiração comunista, pois agrupa as famílias assentadas em cooperativas. Crédito: Wilson Dias/ Agência Brasil

A relevância do Comunismo nos debates e na política atuais

Apesar do fim da URSS e da queda de muitos regimes comunistas no final do século XX, o comunismo continua a ser um tema relevante nos debates atuais. As questões de igualdade social, de distribuição de renda e de controle do poder econômico continuarão a ser centrais nos debates políticos e sociais.

  • Crítica ao neoliberalismo, já que o aumento da desigualdade socioeconômica – em escala global – tem estimulado o debate sobre alternativas econômicas e sociais.
  • Debate sobre o Socialismo, mesmo dentro do Capitalismo. Em um mundo com tantas desigualdades, ideias socialistas têm ganhado força nos últimos anos e influenciado a elaboração de projetos pensados para combater a pobreza e diminuir as desigualdades do mundo.

As principais distorções do comunismo pela extrema-direita

Assim como o faz com Karl Marx, a extrema-direita frequentemente distorce as teorias comunistas, descolando-a da crítica ao capitalismo e associando-as, de forma equivocada, à perda da liberdade individual e da propriedade privada.

Conhecer e entender essas distorções é essencial para retomar as lutas justas , os sentidos históricos mais profundos do comunismo e retomar o debate sobre desigualdade, exploração e a luta por justiça social.

  • Crítica ao capitalismo: muitas observações sobre o comunismo “simplificam” as críticas às injustiças resultantes do acúmulo de capital e se convertem em uma fala contra todo e qualquer tipo de posse e de mercado. Na verdade, o comunismo busca eliminar as desigualdades causadas pelo capitalismo e todos os problemas decorrentes dessa desigualdade. O comunismo não busca eliminar a individualidade, as trocas de mercadorias básicas, o smartphone ou o carro popular conquistado com o esforço de cada um.
  • Revolução socialista: pensando que a injustiça social é uma consequência do capitalismo, a mais valia e o controle dos meios de produção seriam alternativas econômicas mais justas, contribuindo para melhor distribuição da riqueza produzida pelos trabalhadores. . A revolução socialista não é, como distorcido pela extrema-direita, um “salve-se quem puder”, mas um sistema em que o governo central ampara a todos de acordo com suas necessidades e individualidades.
  • Luta de classes: a desigualdade causada pelo capitalismo gerou uma nova divisão hierárquica na sociedade moderna. Para o Comunismo,  a união dos trabalhadores é fundamental para a conquista de mais direitos e o combate às desigualdades – por meio de salários e condições de trabalho mais justas. Infelizmente, a distorção foi tamanha que há quem pense que a luta de classes representaria uma chacina da burguesia.

Como o histórico do comunismo pode nos orientar para o futuro?

O Comunismo, uma ideologia marcada por uma história de conquistas sociais mas também por ímpetos autoritários, nos apresenta um legado complexo e às vezes controverso, como qualquer ideologia. Sua história deve ser analisada de forma crítica e equilibrada, sem simplificações ou ideias preconcebidas.

Compreender essas experiências históricas é fundamental para informar os debates atuais sobre igualdade social, distribuição de riqueza e o papel do Estado na sociedade. A busca por um futuro mais justo e igualitário requer o aprendizado com as experiências do passado, sem se prender à reprodução  de modelos que se mostraram ineficientes, autoritários e perigosos. A trajetória da ideia comunista, no mínimo desde o início do século XIX, vai muito além de uma ou outra experiência autoritária, ela é a luta constante dos povos por autodeterminação, direito à vida, à dignidade, à efetiva fraternidade e liberdade entres os seres humanos.

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