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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Não há o que tolerar, há de se respeitar

As ondas de racismo religioso vêm num crescente no mundo
15/12/2023 | 01h43

As ondas de racismo religioso vem num crescente no mundo e em diversas esferas da sociedade, seja na política, no ambiente de trabalho, nas famílias, nas escolas e também no futebol.

Os intolerantes religiosos ou racistas religiosos, se sentem impunes ao cometerem este tipo de violência, violando princípios básicos dos direitos humanos.

Racismo religioso ou qualquer outro tipo de racismo é crime, mas os violadores se sentem blindados por um sistema segregacionista, histórico e estrutural no Brasil. Acham que ao expor seus preconceitos publicamente jamais serão importunados pela lei.

Na Constituição Federal de 1988 (Constituição Cidadã)  reza que Liberdade Religiosa é direito fundamental, mas a premissa não é respeitada por estes violadores.

Não há uma explicação plausível para estes atos, a não ser a total negligência do Estado Brasileiro em punir os crimes contra pessoas de religião de matriz africana e suas comunidades afro-religiosas.

Os casos de violências verbais e físicas vão acontecendo de forma contínua, nada é feito para combatê-las.

O desconhecimento e ignorância acerca das religiões e tradições de matriz africana pela sociedade só corrobora que aos olhos dos preconceituosos seja natural agredir, difamar e ridicularizar culturas distintas das outras ditas hegemônicas.

Há poucas semanas, o jogador de futebol Paulinho, do Atlético-MG, dedicou sua vitória a uma divindade Iorubá do Candomblé (Exu). Sofreu diversos ataques racista nas redes sociais por essa homenagem ao senhor da comunicação, senhor das possibilidades e da dinâmica da vida.

Fica claro e branco como a neve que ser adepto de outra tradição que não seja judaico-cristã não merece reconhecimento, ao ver do racista.

Tantas vezes vimos em redes nacionais de televisão e redes sociais artistas, atletas, políticos e a população comemorar e dedicar a suas divindades cristãs vitórias em suas vidas, sem com isso a sociedade se revoltar e ser agressiva. Mas quando um individuo ou coletivo negro de religião de matriz africana o faz, sofre rejeição social.

Isto é o racismo nosso de cada dia.

O Estado Brasileiro é laico, mas sua estrutura não o é quando não toma providências para coibir estas ações cruéis e desumanas. Aos olhos dos violadores, não somos sujeitos de direitos, continuamos na mesma roda do genocídio de nossas cultura e religiões, sendo negados e invisibilizados por esta ótica.

Emolduro aqui o nosso mestre Abdias do Nascimento, referência de luta por reparação ao povo negro, senador da República e força motriz negra, que nos deixou o principio do Quilombismo. Precisamos reviver Palmares em cada um de nós, para que juntos possamos lutar e combater as diversas formas com que o racismo se traveste para nos atacar em nosso cotidiano.

Políticas públicas são criadas todos os dias, temos diversas leis municipais, estaduais e federais, que deveriam ser cumpridas. Temos uma lei federal 10.639-03 que tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira em todas as escolas, públicas ou privadas, desde o nível fundamental até o médio. Até os dias de hoje não foi aplicada efetivamente, pois o Estado está totalmente aparelhado por agentes públicos neopentecostais fundamentalistas e intolerantes, que não conseguem ver a riqueza da diversidade religiosa  e cultural de que este país é composto.

Todos sabem dos acordos estatais de cavalheiros, mas nada é feito como reparação à desdita histórica na contemporaneidade negacionista.

Tradição e religião de negro, inferior, primitiva, demoníaca, estes são os adjetivos a nós imputados. Todos sabem, todos ouvem, todos observam, mas todos nos negam o direito de denunciar e buscar os nossos direitos. Somos objetos, ainda somos coisificados, sem conseguir ver uma luz no fim deste túnel de impunidades.

MAS E DAÍ!

Pois é, nos sentimos de novo “largados à própria sorte”, reflexo histórico de um país escravocrata, racista e patriarcal, herança maldita da colônia que só lega a violência.

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