Você já deve ter escutado ou visto em algum filme norte-americano a frase “combater os vermelhos”, “combater o comunismo” ou algo parecido, né? Pois bem, foi no período da Guerra Fria que esse estereótipo nasceu e, até hoje, a extrema-direita utiliza deste período como uma ferramenta para deslegitimar a esquerda com argumentos vagos e fora de contexto histórico.
Não apenas deslegitimar, mas contar uma narrativa falsa ao omitir o papel desumano das ditaduras militares apoiadas pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria. É preciso entender que, embora não tenha ocorrido um confronto militar direto entre Estados Unidos e União Soviética, a rivalidade teve impactos globais manifestando-se em conflitos por terceiros, corrida armamentista, disputas tecnológicas e repercussões ideológicas.
O que foi a Guerra Fria?
A Guerra Fria foi o confronto político e ideológico que polarizou o mundo em dois grandes blocos: o capitalismo e o comunismo. Travada logo após a segunda guerra mundial, entre 1947 e 1991, a Guerra Fria resultou em uma série de pequenos conflitos em diferentes regiões do mundo que tiveram o contato indireto dos EUA e da União Soviética através do fornecimento de armamentos, treinamento militar e até financiamento monetário.
O apoio dessas duas potências dependia de que lado o conflito estava – se era a favor de causas capitalistas, o país (ou o conflito) poderia contar com o apoio dos Estados Unidos; porém, se as causas eram a favor da agenda da esquerda, a União Soviética estava lá para apoiar.
Apesar de nunca ter acontecido um confronto direto entre americanos e soviéticos, principalmente devido ao risco de destruição em larga escala do planeta uma vez que estamos falando sobre um período pós Hiroshima (1945), a Guerra Fria teve diversas consequências para o mundo que conhecemos hoje.
O marco inicial da Guerra Fria
O contexto histórico é o mundo pós Segunda Guerra Mundial: nele, a ascensão da União Soviética incomoda os Estados Unidos que temem perder sua influência na Europa Ocidental e passa a influenciar um discurso de polarização contra os soviéticos.
Apesar de existirem debates sobre o início da Guerra Fria, historiadores dizem que o pontapé inicial foi o discurso feito por Harry S. Truman, presidente dos Estados Unidos em 1947. Nesse pronunciamento ao Congresso, Truman apresentou o que ficou conhecido como “Doutrina Truman”, uma política externa que declarava o compromisso dos Estados Unidos em conter a expansão do comunismo.
Porém, Stalin já tinha feito algo parecido um ano antes. Em fevereiro de 46, no primeiro discurso pós-guerra de Stalin, o mesmo fez uma menção às mazelas do capitalismo e disse que outras “catástrofes militares” eram inevitáveis por causa do capitalismo. Mais especificamente, Stalin diz que o desenvolvimento irregular dos países capitalistas iriam repercutir em sérios conflitos e que os mesmos usariam das forças das armas para mudar a situação.
A corrida armamentista
Entre as diversas consequências da Guerra Fria, a corrida armamentista foi a principal delas. O cenário pós Hiroshima fez, ao mesmo tempo, as pessoas temerem, mas também desejarem o poder do uso de armas nucleares. Foi neste momento que os Estados Unidos e a União Soviética começaram uma corrida para a criação de mísseis intercontinentais e submarinos nucleares cada vez mais potentes com o intuito de dizimar um ao outro.
A Crise dos Mísseis de 1962, também conhecida como a Crise dos Mísseis de Cuba, foi o mais próximo que o mundo chegou de um conflito nuclear direto. Resumindo, este episódio refere-se ao momento em que a União Soviética apoiou a derrubada de Fulgencio Batista, se aproximou de Cuba, outro país rival dos Estados Unidos, e transportou mísseis nucleares para o território cubano.
A corrida espacial
As corridas tecnológicas, espaciais e armamentistas entre Estados Unidos e União Soviética eram, resumidamente, batalhas de desenvolvimento entre países. Se um lançava algo inédito, o outro país faria melhor e maior em seguida. Assim aconteceu até durante a corrida espacial: a União Soviética saiu na frente ao lançar o primeiro satélite, o Sputnik, em 1957, e ao enviar o primeiro homem ao espaço em 1961.
No ano seguinte, os Estados Unidos responderam com a criação da NASA em 1958 e, em 1969, marcaram um feito histórico ao enviar os primeiros astronautas à Lua, durante a missão Apollo 11. Mais do que avanços científicos, a corrida espacial representava uma competição que teria apenas um vencedor: o socialismo ou o capitalismo.
Colonialismo cultural e a Guerra Fria
Colonialismo cultural é a imposição de uma cultura dominante sobre outras pelos meios de comunicação, educação e até mesmo políticas de consumo.
Com os Estados Unidos e a União Soviética competindo pela supremacia global não apenas no campo militar e econômico, mas também cultural, ambas as potências buscavam expandir suas influências culturais para consolidar suas ideologias. O objetivo da Guerra Fria, mas também utilizando do conceito de colonialismo cultural, era convencer outros países a se alinharem com seus modelos de sociedade – o capitalismo ou o socialismo.
Fim da Guerra Fria
A queda da Guerra Fria começa em 1980 com o governo de Mikhail Gorbachev e suas políticas de reestruturação econômica e abertura política. Esses projetos culminaram para a desintegração do socialismo e dois eventos consequentes: a Queda do Muro de Berlim em 1989 e o fim da União Soviética em 1991.
A queda do Muro de Berlim, entretanto, representou o símbolo visível do colapso dos regimes socialistas no Leste Europeu. Após esse evento, os governos socialistas foram sendo derrubados um a um, culminando na unificação das duas Alemanhas em outubro de 1990 e o fim da União Soviética em 1991.
Resumo da Guerra Fria
Dois anos após o desfecho da Segunda Guerra Mundial, em 1947, a União Soviética e os Estados Unidos procurando obter a maior hegemonia ideológica e econômica, travam um período de tensão geopolítica. O conflito é chamado de Guerra Fria porque não houveram combates diretos entre as novas superpotências, apesar de ter acontecido diversos conflitos e corridas em busca de desenvolvimento tecnológico, espacial e armamentista. Aqui tem um resumo para você conferir:
A Guerra Fria e os dias atuais
Embora o conflito da Guerra Fria tenha terminado em 1991, as consequências da Guerra Fria atravessam o cenário global até os dias atuais. Aqui estão os principais tópicos:
OTAN
Criada durante a Guerra Fria, a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) existe até hoje. Com o objetivo de fornecer apoio e defesa militar entre seus membros, hoje a OTAN conta com a participação de 32 países, entre eles: Albânia, Alemanha, Bulgária, Canadá, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Finlândia, Suécia, Eslovênia e Estônia.
Armas nucleares
A corrida armamentista resultou em verdadeiros arsenais nucleares e apesar do Tratado de Não Poliferação Nuclear ter sido assinado por todas as partes, a evolução armamentícia que esse período teve ressoa nos dias atuais e ainda é uma tremenda preocupação.
Desigualdades econômicas e ideológicas
A Guerra Fria confirmou o que já existia, mas não tinha nome: a polarização ideológica e a divisão de países que pensam diferente. Muitos países que se aliaram à União Soviética da época sofrem retaliações econômicas e dificuldades sociais até hoje.
Avanços tecnológicos
Querendo ou não, a evolução tecnológica impulsionada pela corrida tecnológica da Guerra Fria possibilitou que satélites, computadores, celulares e diversos outros meios que um dia foram criados para facilitar o sistema dos militares, hoje fazem parte do nosso dia a dia.
As ideologias reacionárias da Guerra Fria
O discurso anticomunista propagado durante a Guerra Fria moldou ideologias e discursos políticos que ainda são usados para deslegitimar movimentos progressistas e populares. Isso é visível em debates políticos e culturais em diversos países e no Brasil não é diferente, a extrema-direita usa de suas meias narrativas para criar cenários irreais e desincentivar o que hoje em dia mais se aproxima do comunismo de 1947: a luta pela equidade social.
Porém, a extrema-direita, no entanto, insiste em resgatar a retórica do “inimigo vermelho”, ignorando as nuances históricas e os recortes dos problemas atuais. É preciso nos questionarmos se essa abordagem não serve como cortina de fumaça para desviar o foco de questões mais urgentes – como a concentração de riqueza, a precarização do trabalho na escala 6×1 ou até o avanço de políticas neoliberais que apenas incentivam desigualdades.
Em suma, a Guerra Fria não é apenas um capítulo do livro de história ou um tópico para estudar para o ENEM, mas um fenômeno que continua a moldar o presente através das repercussões globais, sejam físicas ou intelectuais. Afinal, é preciso desconstruirmos os mitos e estereótipos que foram construídos ao longo das décadas e buscar uma compreensão mais profunda do passado para garantirmos nosso futuro com mais justiça, igualdade e pensamento crítico.
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