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Xico Sá

Escritor e jornalista, faz parte da equipe de apresentadores do ICL Notícias. Com passagem por diversas redações e emissoras de tv, ganhou os prêmios Esso, Folha, Abril e Comunique-se. Participou de programas como Notícias MTV, Cartão Verde (Cultura), Redação Sportv, Papo de Segunda (GNT) e Amor & Sexo (Globo). É autor de Big Jato (Companhia das Letras) e A Falta (Planeta), entre outros livros. O colunista nasceu no Crato, na região do Cariri cearense, e iniciou sua trajetória profissional no Recife.

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O cavalo-de-pau do Merval

Manobra política de emergência salvaria o país, segundo presidente da Academia Brasileira de Letras; mensagem golpista seria do mercado financeiro
08/01/2025 | 13h43

Na véspera da vitória da atriz Fernanda Torres, do filme “Ainda estou aqui”, no Globo de Ouro, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Merval Pereira, assinou um artigo em O Globo que empolgou seguidores da extrema direita e deixou a esquerda assombrada — sob a desconfiança de que seria uma senha golpista para incentivar reviravolta política no país.

“No mundo financeiro, acredita-se que só um ‘cavalo-de-pau’ pode nos salvar. Uma maneira delicada de dizer que só um outro governo, não esse, colocará o país nos trilhos novamente”, escreveu o imortal.

Celebrado em páginas, posts e colunas de representantes da extrema direita bolsonarista — na coluna de Rodrigo Constantino na Gazeta do Povo, por exemplo —, o artigo de Merval é lastreado na lenga-lenga fiscal dos banqueiros e assessores de imprensa da Faria Lima.

Cheio de dedos, tal e qual um manipulador de marionetes, o acadêmico traz a definição do dicionário Aurélio para cavalo-de-pau: “é uma manobra de emergência que consiste em fazer um veículo inverter de direção, mediante a aplicação súbita de freios”.

Depois de firmar sua metáfora lúdica e equina, o conselheiro editorial do grupo Globo lembra e associa o presidente Lula ao que ele classifica como “derrocada do governo Dilma”. Para quem sabe o que ocorreu politicamente em 2016, em manobras operadas por Michel Temer, Eduardo Cunha & grande elenco, a abordagem do imortal soa até como uma certa nostalgia do golpe que derrubou a presidenta.

Por mais metafórico que seja, o cavalo-de-pau não marcharia pelos caminhos e vias democráticos. Poderia ser algo brusco, como na definição do dicionarista Aurélio (ex-ocupante da cadeira 30 da ABL), poderia ser algo bem ao gosto do golpismo da extrema direita — não à toa a recepção festiva nos veículos e influenciadores bolsonaristas.

Não seria este mortal e mundano cronista, nem mesmo em delírio póstumo qual Brás Cubas, a criatura mais indicada para aconselhamento semântico ao presidente da Academia Brasileira de Letras. Mais zelo com a Democracia, no entanto, pode ser um modesto pedido de qualquer cidadão comum. Cavalo-de-pau nunca vai nos salvar.

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