O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, saiu do cargo no apagar das luzes de 2024, não sem antes deixar uma herança maldita para seu sucessor, Gabriel Galípolo. Há dez dias na presidência da autarquia, ele terá de publicar uma carta com explicações pela inflação ter ficado fora da meta no ano passado.
Nesta sexta-feira (10), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a inflação oficial do Brasil encerrou 2024 em 4,84%, portanto, acima do teto da meta oficial estipulada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), que é de 4,5%. Em dezembro, puxada pelos alimentos, o indicador avançou 0,52% ante 0,39% em novembro.
A carta escrita por Galípolo é endereçada ao presidente do CMN (Conselho Monetário Nacional), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O colegiado, que também inclui o Ministério do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet) e o Banco Central, é responsável por definir a meta de inflação.
Dos seis anos de mandato de Campos Neto (2019-2024), em três ele não cumpriu a meta de inflação ( (a inflação esteve acima da meta em 2021, 2022 e, agora, em 2024), apesar de dirigir uma política monetária bastante contracionista. Com esse saldo, Campos Neto é o maior descumpridor de metas de inflação desde que esse regime foi implementado.
A inflação fora da meta em 2024 não é uma surpresa. Era unanimidade entre os agentes financeiros que o indicador ultrapassaria o limite permitido. O próprio Banco Central divulgou em dezembro que a chance de terminar acima do teto era de 100%.
A determinação do CMN era que o IPCA chegasse a 3% em 2024. Porém, há um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, sendo 1,5% o piso e 4,5% o teto. Para 2025, a meta é a mesma.
Galípolo terá tarefa árdua em 2025
A ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC aponta que a taxa básica de juros, a Selic, deve chegar a 14,25% ao ano em março. Atualmente, a Selic está em 12,25%, após início do ciclo de alta em setembro.
Como o Copom realizará duas reuniões daqui até março, a previsão indica dois reajuste de 1 ponto percentual.
A taxa básica de juros é a ferramenta usada pelo BC para frear a inflação. Isso acontece porque, com os juros mais altos, o crédito fica mais caro, desacelerando o consumo e a produção. Assim, os preços não aumentam de forma tão intensa. Obviamente, esse modelo é, no conjunto, péssimo para o crescimento da economia e, também, para o aumento da dívida pública.
A mediana dos agentes consultados para o Boletim Focus indica que a Selic fechará 2025 em 15% ao ano.
Indicado pelo presidente Lula (PT) ao cargo, Galípolo é próximo do governo, mas votou em consonância com os demais membros da diretoria do BC, uma postura necessária diante das desconfianças do mercado em relação ao seu nome.
Galípolo está no Banco Central desde 2023, quando assumiu o cargo de diretor de Política Monetária.
Regime de metas
O regime de metas começou em 1999. O Banco Central teve que explicar o descumprimento em 7 anos (2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022), sem contar o texto que virá para 2024.
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