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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Ogun e as tecnologias

Quando as pessoas pensam neste orixá, imediatamente elas remetem a características da belicosidade, ou seja, só o identificam como o guerreiro, senhor de lutas e conquistas a partir da guerra.
21/12/2023 | 21h38

Quando as pessoas pensam neste orixá, Ogun, imediatamente elas remetem a características da belicosidade, ou seja, só o identificam como o guerreiro, senhor de lutas e conquistas a partir da guerra.

Ogun é o senhor da tecnologia, da metalurgia, senhor dos minerais, o que abre picadas onde se pensa ser impossível transpor.

Ele é aquele senhor dos caminhos prósperos (Olonan Ola), ferreiro do universo (Alabedé Orun) que cria as ferramentas para ajudar a humanidade nas suas tarefas diárias, lhes ofertando aparatos e objetos que irão facilitar o cultivo da terra, bem como possibilitar que os seres humanos usem de suas tecnologias nos territórios inóspitos, desbravando e facilitando suas vidas.

Ogun também é um caçador da família dos Odé (caçador), aquele que traz a caça não predatória junto com seu irmão Oxoce para prover o seu povo.

Orixá que é justo e protetor dos seus territórios, bem como de seus cultuadores. Ogun é desprovido de vaidades, orixá do mato e das estradas, aquele que não tem roupa, sua roupa é a nervura da palma do dendê (mariwo).

Tem um cântico que expressa exatamente esta forma de ser de Ogun.

“Ogun co laxó, mariwo ola axó ogun o, mariwo”

Ogun não tem roupa, o mariwo é a prosperidade e a roupa de Ogun

Quando filhos de Ogun veem um trem apitando e correndo sobre nos trilhos, eles saudam Ogun, pois os trens são a representação do transir de movimentos e tecnologias, levando dinâmica e desenvolvimento tecnológico para outras paragens, além de seus trilhos serem de um metal de que Ogun é o senhor, o ferro.

O seu caráter muitas das vezes irascível se dá em função deste Orixá não suportar mentiras, injustiças e traições. Ogun não poupa quem tem desvio de caráter, ele se mostra uma divindade sem dó, nem piedade castigando os violadores destes códigos fundamentais a ele.

Contam que Ogun é um Orixá extremamente protetor dos seus, e todo o mundo sabia deste seu aspecto, portanto, ninguém ousava duvidar do seu jeito de proteger o seu povo e os seus territórios.

Mas havia um outro povo que não tinha consciência da força de Ogun, e muito menos da relação de proteção para com sua comunidade.

Ogun teve que fazer uma viagem, e teria que passar alguns dias fora, e assim ele o fez. O povo que estava ao redor de suas cidade ao vê-lo sair, se aproveitou e conquistou o sua gente.

Quando Ogun voltou, se deparou com a situação em que se encontrava o seu povo, vivendo submetidos aos conquistadores.

Ogun não mediu esforços, bradou alto como um leopardo e avançou com seu facão (Adá) em riste, derrubando os seus inimigos e os conquistando.

Um unico homem que conquistou e venceu mais de cem.

Os conquistados por Ogun, tentaram lhe dizer que não sabiam que aquelas eram suas terras, pois não tinha nenhum sinal que identificasse como sendo seu território. Ogun não aceitou muito bem a justificativa, mas tirou o mariwo de seu corpo e pôs nas portas de todas as casas, sinalizando que alí era território dele e não deveria ser incomodado.

Por isso, em várias comunidade de matriz africana (candomblé), as nervuras de mariwo, estão sobre portas e janelas, informando que é um território de Ogun, e portanto não devem ser violadas.

Os artesãos, ferreiros, cirurgiões, agricultores, açougueiros e outros profissionais que utilizam de ferramentas que ajudam no desenvolvimento tecnológicos da humanidade, bem como materiais cortantes, a principio são adeptos e cultuadores de Ogun, pois Ogun é para o mundo.

As estradas e vias, que levam o homem para as trocas e inter-relações sociais entre territórios, levando e trazendo tecnologias, são estradas do desenvolvimento possibilitado em Ogun.

Ogun é aquele que sempre vem à frente (Asiwaju) com seu facão desbravador trazendo sempre boas novas. Pois esta função de senhor que sempre está frente, foi uma determinação de Olorun (Deus): ele viria à frente abrindo o trajeto para que outros orixás pudessem chegar à terra para orientar e cuidar da humanidade.

Ogun Ie, Mo Ie

Ogun vive, eu vivo!

 

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