O Brics, grupo que reúne originalmente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, deve mesmo manter a proposta de criar um sistema para uso de moedas locais no comércio entre os países do bloco, para fugir das volatilidades do dólar em suas negociações. Com isso, o fórum de emergentes pretende ignorar as ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar os países em 100%. As informações são do blog do jornalista Jamil Chade, no site UOL.
Segundo o blog do também comentarista do ICL Notícias, negociadores do Brics realizam uma reunião em Brasília, que teve início na terça-feira (25) e termina nesta quarta-feira (26), ocasião em que o assunto foi abordado. A determinação é de ignorar as ameaças de Trump e seguir com a ideia defendida pelo Brasil. Aliás, o nome do presidente norte-americano sequer teria sido pronunciado na reunião.
Em meados deste mês, Trump disse que os países do Brics poderiam enfrentar sobretaxas de 100% “se quiserem brincar com o dólar”. “Se alguma negociação for concretizada, será uma tarifa de 100%, pelo menos”, disse ele em resposta a uma pergunta sobre o tema.
A ideia é defendida pelo presidente Lula (PT) desde que assumiu o seu terceiro mandato. O país ocupa a presidência rotativa do Brics desde 1º de janeiro.
Na semana passada, a informação já havia sido confirmada pelo secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Mauricio Lyrio, que é o negociador-chefe do Brasil no Brics.
“É algo que já se desenvolve no Brics desde 2015 e nós continuamos a avançar, até porque o uso de moedas locais já é praxe no comércio bilateral entre membros do Brics. Vários membros já usam moedas locais no seu comércio bilateral, o que continuará no período da presidência brasileira”, declarou.
Além de Brasil, Rússia, Índia e China, África do Sul, em janeiro de 2024 aderiram ao grupo como membros plenos Egito, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Etiópia e Irã.
Ao contrário do que diz Trump, Brics não “está morto”
A ideia original do bloco era criar uma moeda comum alternativa ao dólar nas negociações. Mas o secretário do Itamaraty justificou que, neste momento, o Brics não discutirá a criação da divisa. “Não há acordos sobre o tema e também porque é muito complexo este processo. São economias grandes. Esse não é um tema fácil de administrar e, obviamente, há outras maneiras de redução de custos de operação. Tem a ver com a lógica interna do Brics”, afirmou.
Todavia, o assunto pode voltar à pauta no futuro. “Nada impede que os presidentes discutam a possibilidade, em um horizonte mais distante”, disse.
Na semana passada, o presidente norte-americano chegou a afirmar que o Brics estava “morto” depois de suas ameaças de sanções contra quem marginalizasse o dólar.
“Brics morreu no momento que eu mencionei isso”, afirmou.”Se eles brincarem, não terão comércio conosco”, insistiu. “O que vocês acham que vai acontecer?”, questionou.
O encontro que acontece em Brasília foi aberto pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, no Palácio do Itamaraty.
Apesar de manter a proposta de criação de um sistema comum, o grupo quer evitar que o assunto ganhe escala para um embate diplomático e comercial com o governo norte-americano.
Hoje, o Brasil já exporta mais aos parceiros do Brics do que aos EUA e Europa juntos. Em 2023, por exemplo, o país exportou US$ 120 bilhões às economias emergentes, ante US$ 83 bilhões aos mercados europeus e norte-americano.
Enquanto Trump quer usar o dólar como instrumento de poder, o Brics quer ampliar o uso de moedas locais para tornar o comércio entre os países em desenvolvimento “mais eficiente” e “mais seguro”.
Outro enfoque do Brasil será o de mostrar que o processo será conduzido por bancos centrais e pelos ministérios das Finanças, e não a partir de posições ideológicas.
Cúpula
A Cúpula dos Líderes do Brics acontecerá nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro.
As cinco prioridades que serão levadas ao encontro de dois dias são: cooperação em saúde, financiamento de ações de combate à mudança do clima; comércio, investimento e finanças do Brics; governança da inteligência artificial; e desenvolvimento institucional do Brics.
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