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Por André Graziano*
Nos últimos dias, o bolsonarismo demonstrou, mais uma vez, o que há de pior na masculinidade tóxica – traço essencial do movimento liderado por Jair Bolsonaro. Foram múltiplos exemplos, que culminaram na fala inclassificável do desclassificado Gustavo Gayer (se você não conhece o deputado, pesquise “Gustavo Gayer atropelamento” no Google e veja a ficha de sua excelência).
A fala de Gayer foi uma reação ao discurso do presidente Lula, que deu uma resposta machista, é verdade, à fala potencialmente criminosa de Bolsonaro, que disse que as petistas são “feias” e “incomíveis”. O ex-presidente, aliás, é obcecado com o termo e, a todo momento, classifica a si mesmo como incomível.
Mas o traço mais tóxico de “macheza” que Bolsonaro demonstrou nos últimos dias tem sido pouco mencionado e surgiu na entrevista ao jornalista Léo Dias há pouco mais de duas semanas. A certa altura, Bolsonaro, pai de quatro filhos e uma filha, diz: “Eu nunca dei um beijo num filho meu homem” (nesse momento, Flávio Bolsonaro entra em cena e dá um beijo no rosto do pai). Bolsonaro diz ainda, primeiro gargalhando e depois sério, que nunca disse “eu te amo” para um filho e afirma que é “travado nessa área” pois está prestes a completar 70 anos.
As falas de Bolsonaro podem ser pura bravata (o que combina com ele), mas expõem o que é o modelo ideal de homem defendido por Bolsonaro: bruto, nada afetuoso e imune a sentimentalismos.
No Brasil, metade dos adolescentes meninos entre 15 e 17 anos têm dúvidas do amor paterno, segundo a pesquisa “Meninos: Sonhando os homens do futuro”. Seis em cada dez dizem ter poucas referências positivas de masculinidade em seu cotidiano, mesmo índice dos que apontam o pai como principal referência de masculinidade (e isso não significa uma referência positiva).
Desde pequenos, meninos aprendem a reprimir os próprios sentimentos e afetos, pois isso seria um traço de “fraqueza”. Perpetuar essa máxima, como fazem Bolsonaro e todo o bolsonarismo, é um risco à saúde. Um relatório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) divulgado em 2019 mostra que 20% dos homens das Américas não chegarão aos 50 anos de idade graças a isso. O documento cita comportamentos típicos dessa “macheza”, como violência interpessoal, acidentes de trânsito e alcoolismo. Enfim, são comportamentos que implicam em risco para si mesmos e para outros homens. Não sejamos assim.
*André Graziano é jornalista
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