Fico me perguntando onde é a zona do ser? Pois a zona do não ser eu já descobri!
A eterna busca por uma vida digna, sem tantos entraves estruturais em decorrência do racismo e colonialidade, nos leva a pensar que não há como ter um acordo para que pessoas negras ou afrodescendentes vejam qualquer perspectiva de mudanças sociais em seu modo de viver.
Se é que existe um modo de viver que não seja afetado pelas intervenções cotidianas do racismo que nos ataca, nos imobilizando e não deixando que pensemos que somos merecedores de algum tipo de dignidade.
Como sair destes tentáculos que nos envolvem, justificados por todo um projeto bem arquitetado que nos leva a pensar que não existe uma zona do ser para a população negra no mundo.
Mesmo quando pessoas negras ascendem socialmente, são alertadas de que estes espaços não são seus, a cultura hegemônica desenhada e projetada não inclui essas pessoas como parte desta construção, já que não é pensada para elas.
Ora, ledo engano se iludir que em algum momento estes espaços nos serão ofertados como reconhecimento e legitimidade, pois no inconsciente de nós negros é a conquista de algo que não tem um referencial histórico cultural destes corpos enquanto parte constitutiva.
A invisibilidade, negação e inferiorização de uma afrofilosofia, cultura negra, economia negra jamais foi tida como algo que pudesse ter importância para um grupo seleto, colonial de poderio econômico e que se põe como determinante universal de seres superiores, de que nós não fazemos parte.
Esta psicologia, cultura e filosofia colonial, está entranhada em nossos corpos e mentes negras, mesmo quando temos algum tipo de mudança e mobilidade social, é sempre baseado no que o outro pensa como ascensão dentro de um “status quo”. O pensamento sobre estas questões está engessado em uma única forma/forma e não temos como escapulir deste circulo viciante de um único pensar.
Com não há reflexo, sentimos muitas vezes que não somos merecedores destes lugares, o espelho é turvo e quebrado, fica fragmentado, algo está faltando ou sobrando.
Não participamos deste constructo, os blocos que erigiram este castelo não foi pensado para nos alojar, muito ao contrário, apesar de termos sido nós a mão de obra escravizada que o construiu!
Há um ranço psico inconsciente que nos faz ter sentimentos de rejeição a estes castelos ilusórios, ou em uma afropsicoinconsciência ancestral que nos faz lembrar que esta é a zona que não faremos parte, esta é a zona do não ser!
Quando penso em um poder negro, em nenhum momento penso em usar como parâmetro o poder branco, busco sempre estratégias e articulações que me tirem deste labirinto sem saída, procuro uma zona do ser em que a violência do racismo e a colonialidade não esteja à espreita, pronta a me dar o bote.
É uma tarefa árdua, mas instigante. Quase como uma utopia. Mas como estou em busca, é sinal de que há alguma maneira de achá-la, nem que seja em minha mente negra que busca o meu ser.
Sim, acredito que só pelo fato de existir já estou em vantagem. A bolha não me tirou a potência de pensar belicamente, é preciso resistir para reexistir neste mundo de moer mentes, moer gente, moer gente negra.
Nos sentimos culpados por ter um carro novo, comprar uma casa nova ou apartamento, por nos graduarmos, pós graduarmos — negro distinto dos seus.
Culpados por ascender, em uma zona que não há o ser negro, que não é o seu território, o seu afro meio ambiente.
Irão me perguntar, onde é o lugar do negro?
O lugar dos negros, negras, negres é onde ele possa dizer “este é o meu lugar”, sem determinação, sem ir numa direção, que ele não tenha escolhido e construído.
Talvez aí sim tenhamos a nossa zona do ser e possamos deixar Fanon mais afrotranquilo e menos afropessimista, como eu estou me sentido no momento.
Em busca da zona do ser!
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