Por Karla Gamba
Um dos alvos da operação desta quinta-feira (8), o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, sugeriu infiltrar agentes da Abin em campanhas eleitorais. Heleno disse que chegou a conversar com o então diretor-adjunto da Agência de Inteligência, Victor Carneiro, mas advertiu do risco de que fossem identificados como “agentes infiltrados”.
A Abin era subordinada ao GSI, Ministério comandado por Heleno, que na mesma conversa, evidenciou a necessidade de que órgãos de Estado vinculado ao Governo Federal atuassem para assegurar a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
“Não vai ter VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco em mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, afirmou Heleno, que é general do Exército da reserva.
As falas foram proferidas em uma reunião ocorrida em 5 de julho de 2022, que contou com a presença de diversos investigados alvos da operação desta quinta, além do então presidente Jair Bolsonaro.
Para os investigadores, Augusto Heleno fazia parte do “Núcleo de Inteligência Paralela”, grupo responsável por coletar dados e informações que auxiliariam Jair Bolsonaro a tomar decisões para consumar o Golpe de Estado. Junto com Mauro Cid, que já está preso, e Marcelo Câmara, preso nesta quinta, Heleno também era responsável por monitorar o deslocamento e localização de autoridades, entre elas o ministro do STF, Alexandre de Moraes.
BRAGA NETTO XINGA COMANDANTES QUE NÃO APROVAM GOLPE
Outro general de grande influência no governo de Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto fazia parte do que a investigação chamou de “Núcleo de Oficiais de Alta Patente com Influência e Apoio a Outros Núcleos”. O grupo utilizava a alta patente militar que detinha para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação, visando apoiar ações e medidas que consumariam o Golpe de Estado.
Conversas trocadas por meio do WhatsApp, extraídas do telefone de Ailton Barros, também investigado, mostram a participação e adesão de Walter Braga Netto na tentativa de Golpe de Estado. A atuação de Braga Netto, para os investigadores, incluía providências voltadas para a incitação de membros das Forças Armadas que não estavam coadunadas com as ideias golpistas.
Em diversas mensagens, Braga Netto zomba de militares e chama o então comandante do Exército, general Freire Gomes, de “cagão”:
“Meu amigo, infelizmente tenho que dizer que a culpa do que está acontecendo e acontecerá é do Gen Freire Gomes. Omissão e indecisão não cabem a um combatente”, afirma Braga Netto.
“Então vamos continuar na pressão e se isso se confirmar vamos oferecer a cabeça dele aos leões”, responde o interlocutor.
“Oferece a cabeça dele. Cagão. Em frente à residência do general Freire Gomes agora”, conclui Braga Netto enviando uma foto, aparentemente capturada por aplicativo de geolocalização.
O então comandante da FAB, Tenente-Brigadeiro do Ar Baptista Júnior, que não concordava com o Golpe, também é atacado nas mensagens:
“Senta o pau no Batista Júnior (sic). Traidor da pátria. Inferniza a vida dele e da família dele. Elogia o Garnier e fode o BJ”, afirma Braga Netto.
Garnier era o comandante da Marinha e, ao contrário dos outros dois comandantes, apoiava as ideias golpistas. Ele foi um dos alvos da operação desta quinta.
O envolvimento de oficiais do Exército em reuniões golpistas era frequente. No encontro de julho de 2022, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, admite que a atuação das Forças Armadas nas eleições tinha como finalidade reeleger Bolsonaro como presidente da República. Também é relatado que reuniões semanais eram realizadas com comandantes de Força.
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