Em meio a acusação da Polícia Federal de que tramava um golpe de Estado junto com aliados militares e civis, o ex-presidente Jair Bolsonaro concedeu ontem entrevista ao telejornal da TV Record. Em cerca de 20 minutos, ele em alguns momentos pareceu admitir a intenção de decretar Estado de Sítio, mas em outros trechos negou ter conhecimento da minuta do golpe. Mais uma vez acusou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de favorecer a esquerda e perseguir a direita nas eleições.
Sobre o trecho do vídeo da reunião realizada em julho para planejar o golpe, em que o general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que infiltraria agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nas campanhas eleitorais de outros partidos, Bolsonaro tentou se isentar. “É um trabalho da inteligência dele, que eu não tinha participação nenhuma”, disse.
Logo no começo da entrevista, Bolsonaro foi chamado a explicar porque havia em sua residência uma cópia da chamada “minuta do golpe”. Na resposta, ele dá a entender que tinha a intenção de sugerir ao Congresso o Estado de Sítio e que isso não pode ser considerado golpe.
“Deixo claro: um presidente não decreta Estado de Sítio. Primeiro ele ouve os conselhos da República, de Defesa, e nesse conselho tem que estar presentes o presidente da Câmara, o presidente do Senado, uma série de pessoas, e depois ele encaminha para o Congresso Nacional aquela minuta, solicitando autorização do Congresso para decretar o Estado de Sítio. Então, isso não é golpe”, afirmou o ex-presidente.
Em outro trecho, porém, ele diz que nunca tinha visto documento com esse teor, até que pediu ao advogado que lhe enviasse a peça que estava no processo.
Bolsonaro também criticou a prisão de Valdemar Costa Neto por posse de arma irregular (ele comparou a situação a alguém que tem carro com IPVA atrasado) e por estar com uma pepita de ouro (“Desconheço qualquer pessoa presa por estar portando uma pepita de ouro por aí”).
Dedicou boa parte do tempo a criticar o TSE e autoridades que não nomeou, mas parecia estar se referindo aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Há uma clara intenção de certas autoridades em Brasília de perseguir a direita”, acusou o ex-presidente.
Reclamou que na campanha de 2022 sofreu várias proibições por parte do TSE, como usar imagens de Lula com falsas acusações de que o petista é a favor do aborto e a favor dos ladrões de celulares, além de dizer mentirosamente que uma visita ao Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, tinha sido organizada por traficantes.
Recorreu a outras fake news. “O TSE fez campanha em 2022 para o jovem se alistar. Sabemos que o jovem vota na esquerda”, comentou, para afirmar a seguir que “houve uma influência” do tribunal no resultado da eleição.
Também rebateu a acusação de estar tramando um golpe e tentou amenizar os crimes atribuídos aos golpistas que invadiram os prédios das sedes dos poderes da República no 8 de Janeiro, mentindo que foram manipulados pela esquerda. “Esse termo ‘golpe de Estado’, ‘abolição do Estado Democrático de Direito’ não é nem equivocado, é um crime falar nisso daí. O pessoal do 8 de janeiro no meu entender foram (sic) levados para uma armadilha da esquerda. Mas o que aconteceu, no meu entender, foi baderna. Ninguém tentou de forma violenta, usando armas”, Argumentou.
Como de outras vezes, negou participação: “Eu não estava no Brasil”.
À pergunta sobre se teme ser preso diante de tantas acusações, Bolsonaro respondeu se vitimizando: “Até você pode ser preso. Não existe mais Estado Democrático de Direito no Brasil”.
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