Lynn Margulis e Dorian Sagan, notáveis cientistas, no conhecido livro Microcosmos (1990), afirmam com dados dos registros fósseis e da própria biologia evolutiva que um dos sinais do colapso próximo de uma espécie é sua rápida superpopulação.
Tal colapso pode ser verificado com micro-organismos colocados na Placa de Petri (placas de vidro sobrepostas com colônias de bactérias e nutrientes). Por uma espécie de instinto, pouco antes de atingirem as bordas da placa e se esgotarem os nutrientes, as espécies se multiplicam de forma exponencial. E, de repente, todas morrem. Nós não estaríamos nesta rota de crescimento exponencial da população humana e expostos a desaparecer? Os dados apontam para essa eventualidade.
A humanidade precisou de um milhão de anos para chegar em 1850 a um bilhão de pessoas. A marca de 2 bilhões foi atingida em 1927. Em 2023, chegamos aos 8 bilhões. Estima-se que por volta de 2050 alcançaremos a meta limite de 10 a 11 bilhões de habitantes. Isso significa que a humanidade aumentou em 1 bilhão de habitantes a cada 12 a 13 anos, em um crescente de fazer pensar.
É o triunfo inegável de nossa espécie. Mas é um triunfo que pode ameaçar a nossa sobrevivência no planeta Terra, por efeito da superpopulação e por termos ultrapassado em 64% a capacidade de regeneração do planeta vivo, a Terra.
Para a humanidade, comentam as autoras, em consequência do crescimento exponencial da população, o planeta Terra pode mostrar-se como uma Placa de Petri. Com efeito, ocupamos quase toda a superfície terrestre, deixando apenas 17% livres – apenas por essa parcela ser inóspita como os desertos e as altas montanhas nevadas ou rochosas.
Lamentavelmente, segundo vários cientistas, inauguramos uma nova era geológica, o antropoceno. De homicidas, etnocidas e ecocidas nos fizemos biocidas, pois somos os que mais ameaçam e destroem a vida da natureza. Sabemos pelas ciências da vida e da Terra que todos os anos desaparecem, naturalmente ou pela agressão humana, centenas de espécies, após terem vivido milhões de anos sobre o planeta.
A extinção de espécies pertence à evolução da própria Terra que conheceu pelo menos seis grandes misteriosas extinções em massa. Notórias são as do Devoniano, há 370 ou 360 milhões de anos, que varreu do mapa cerca de 80% de todas as espécies, e aquela do Permiano, há 250 milhões de anos, também chama de “A Grande Morte”, na qual 95% dos organismos vivos foram extintos. A última, a sexta, está ocorrendo a olhos nus sob o antropoceno no qual nós, humanos, segundo o grande biólogo falecido E.O. Wilson, extinguimos entre 70 mil e 100 mil espécies de organismos vivos.
O fato é que a superpopulação humana tocou nos limites da Terra. Conheceríamos também nós, o mesmo destino das bactérias dentro da Placa de Petri, que alcançado um ponto alto de superpopulação, de repente, acabam morrendo?
Pergunta-se: será que no processo evolucionário não chegou a nossa vez de desaparecer da face da Terra? A hipótese de que o planeta habitado de forma tão acelerada por tantos bilhões de humanos e se ter tornando, efetivamente, uma Placa de Petri, ganha todo o sentido.
Somente que, desta vez, a extinção não seria por um processo natural, mesmo que misterioso, mas pela própria ação humana. Nossa civilização industrialista e sem coração, no afã de poder e de dominação, criou algo absolutamente irracional: o princípio de autodestruição por vários tipos de armas letais de toda a vida e também da nossa.
Já temos feito o pior: quando o Filho de Deus se incarnou em nossa carne quente e mortal, nós o rejeitamos, o condenamos por um duplo juízo, um religioso e outro político e o assassinamos, pregando-o na cruz fora da cidade, como sinal de maldição.
Depois desse ato nefasto e ominoso, tudo é possível, até a nossa própria autodestruição. Exterminar a nós mesmos é menos grave que matar o próprio Filho de Deus que passou por este mundo somente fazendo o bem. “Veio para o que era seu e os seus não o receberam”, constata com infinita tristeza o evangelista João (Jo 1,11).
Mas consolemo-nos: ele ressuscitou, mostrou-se como o “o ser novo” (novissimus Adam: 2Cor 15,45), já livre de ter que morrer e na plenitude de sua humanidade. Seria uma revolução na evolução e a amostragem antecipada do fim bom de toda a vida.
Para os professantes da fé, cremos e esperamos que o Spiritus Creator ainda possa iluminar as mentes humanas para que se conscientizem do risco de desaparecer e acabem voltando à racionalidade cordial, sabendo recuar e definindo um caminho de amorosidade, de piedade e de compaixão para com todos os seus semelhantes, para com a natureza e para com Mãe Terra. E, então, teríamos ainda futuro. Assim, o queremos e o queira também o Criador.
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