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A violência contra Cíntia Chagas e o sadismo de ‘progressistas’

Notícia de que influenciadora bolsonarista denunciou ex-marido, deputado estadual do PL, causou regozijo em algumas pessoas supostamente de esquerda
11/10/2024 | 08h51

Por André Graziano*

Não tenho apreço algum por Cíntia Chagas. A influenciadora, professora de português, se apresenta nas redes sociais como uma pessoa classista, pedante e, apesar de professora de língua portuguesa, cheia de preconceitos linguísticos.

Ganhou destaque por barbaridades como dizer que beber cerveja é deselegante especialmente para mulheres, criticar o feminismo e debochar de quem não se atém à forma culta da gramática. Tornou-se, por isso, uma queridinha do bolsonarismo — e a recíproca é verdadeira.

Mas tudo isso não importa quando Cíntia Chagas é vítima de violência doméstica. Chega a ser revoltante pessoas com posições progressistas fazerem chacota da situação, apontando falas problemáticas (para dizer o mínimo) de Cíntia para, em outras palavras, mostrarem que “ela encontrou o que procurava” ou, pior, que “mereceu”. É sadismo.

Detalhe: em 10 de outubro, um dia após a denúncia de Cíntia ter sido publicada, celebramos o Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher. O suposto agressor, ex-marido de Cíntia, é o deputado estadual por São Paulo Lucas Bove (PL), que nega as acusações.

O regozijo de alguns nas redes sociais contrasta, inclusive, com o posicionamento da Coalizão Nacional de Mulheres, que reúne lideranças feministas e que se manifestou em solidariedade à influenciadora, ou com a bancada do PSOL na Assembleia Legislativa de São Paulo, que quer a cassação de Bove.

Em 2023, dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostraram que 1.463 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil – um caso a cada seis horas. Além disso, 3.181 apresentaram queixas de violência. Entre janeiro e junho de 2024, segundo o Monitor de Feminicídios no Brasil, elaborado pelo Laboratório de Feminicídios no Brasil (Lesfem), houve 905 mortes com indícios de feminicídio e 1.102 tentativas.

Por que não perguntamos em quem essas vítimas votaram? Quais são suas posições políticas e ideias sobre feminismo? O que pensam sobre o papel do homem e da mulher na “edificação de um lar”? Porque não importa! Nenhuma bolha social ou política tem o monopólio da violência contra a mulher.

Há quase um ano, escrevi no ICL Notícias que o machismo tem vida própria em todos os espectros políticos, mesmo que o bolsonarismo se alimente dele. (Seu amigo progressista também pode ser um agressor de mulheres). Na ocasião, algumas pessoas de esquerda apontavam correlação entre a posição política de Alexandre Correa e as acusações de agressão que sua ex-mulher, Ana Hickmann, fez contra ele.

Desde então, ficou claro que o problema da violência contra a mulher não é exclusivo da direita (vide as acusações contra o ex-ministro Silvio Almeida, que afirma ser inocente). Mais importante ainda, todas as mulheres devem ser protegidas de violência física, sexual e psicológica, seja qual for seu posicionamento político, sua filosofia de vida ou o que pensa sobre feminismo. Sobre a Cíntia Chagas, só nos resta prestar solidariedade.

* André Graziano é jornalista e gerente de mídias sociais do ICL Notícias

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