Por Artur Búrigo
(Folhapress) — As duas mães de uma menina de 9 anos acusam o colégio Elo, em Jaboatão dos Guararapes (PE), na região metropolitana do Recife, de ter obrigado a filha a participar de uma homenagem de Dia dos Pais. O caso aconteceu na sexta-feira (9).
Segundo a jornalista Maira Morais, uma das mães da criança, foi a primeira vez em três anos da filha no colégio que ela foi levada para a cerimônia. Morais afirma que a escola sabe que a criança tem duas mães e diz que nos anos anteriores a menina havia ficado na sala de aula, fazendo atividades com uma professora.
Procurado, o Colégio Elo afirmou que a direção “está apurando os fatos e conversará com as famílias envolvidas para os esclarecimentos e resolução do ocorrido”.
Desta vez, porém, Morais afirma que foi avisada por outra mãe que estava no local que a filha dela havia sido levada para a homenagem. De acordo com o relato, o pedido da criança para permanecer na sala foi negado pela coordenadora.
“A Ana, uma outra mãe que estava presente, viu a situação e colocou ela [criança] no colo durante a apresentação. Mas no final, mais uma vez, ela foi levada por uma funcionária para bater foto com as outras crianças e os pais”, disse a jornalista.
“Foi uma coisa bem constrangedora para ela. Quando a gente fez a matrícula, deixou claro que ela tem duas mães e perguntou como era a política da escola. No Dia das Mães, nós duas participamos e ganhamos presentes”, acrescentou Morais.
Morais afirmou ainda que, quando Nathalia Lins, a outra mãe de sua filha, foi ao colégio entender o que havia acontecido, os funcionários da tarde não souberam dizer, mas ressaltaram que a instituição é “uma escola tradicional”.
“A escola tem que ser um ambiente acolhedor para crianças que também não têm pais. O que quer dizer ser uma escola tradicional? Tradicional [significa que] é obrigatório a criança se apresentar mesmo não tendo um parente, mãe ou pai?”, questiona Morais.
Mães registraram queixa
As duas mães da criança foram à polícia e registraram queixa contra o colégio com base no artigo 232 do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), que prevê detenção de seis meses a dois anos a quem “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”.
A Polícia Civil de Pernambuco afirma que registrou a ocorrência na Delegacia de Crimes contra a Criança e o Adolescente e que iniciou as investigações. Maira Morais afirmou que já está buscando uma nova escola para matricular a filha.
“[O Colégio Elo] Não condiz com o tipo de educação que a gente quer, de que ela seja incluída na sociedade, consiga tratar e debater temas e ser acolhida”, disse a jornalista.
SAIBA MAIS:
Apenas duas capitais brasileiras têm políticas básicas para população LGBTI+
Pergunte ao Chat ICL
Relacionados
Aluna é socorrida em colégio de SP, e família diz que ela tentou suicídio após sofrer racismo e bullying
Família afirma que a garota tentou suicídio após sofrer por mais de um ano com ataques racistas e bullying por parte de um grupo de colegas da escola particular de Higienópolis
Enfrentar violência nas escolas não pode ser responsabilidade só de professores, alerta especialista
Miriam Abramovay defende políticas públicas abrangentes e alerta para o impacto da internet na vida de adolescentes
Mãe relata racismo após aluna negra ser chamada de ‘presidiária’ pela professora
Docente puxou coro na aula questionando se adolescente de 14 anos parecia ou não com uma detenta por calçar chinelos