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Angra 2: trabalhador terceirizado se contamina na usina nuclear

Depois do acionamento dos alarmes, peça foi jogada no lixo pelo empregado, para evitar “constatação da irregularidade”
02/12/2024 | 10h45

Por Tania Malheiros — Blog 

Um trabalhador terceirizado, que estava trabalhando no processo da troca de combustível (urânio enriquecido) de Angra 2, foi contaminado durante a “tentativa de remoção” não autorizada de uma peça metálica da tampa de acesso à câmara primária do gerador de vapor da usina nuclear.

O sistema de proteção radiológica da Eletronuclear atuou evitando problema maior. Alarmes automáticos dentro da área de contenção foram ativados e os técnicos iniciaram a investigação identificando contaminação radiológica superficial na parte frontal do corpo e nos braços do trabalhador. Segundo a Eletronuclear, o fato ocorreu na quarta-feira (27). A peça foi confinada como material radioativo.

A investigação também identificou que os alarmes foram ativados devido  à presença do objeto metálico dentro de uma coletora de lixo na sala de descontaminação pessoal.

Após entrevista com os técnicos de proteção radiológica foi constatado que a peça havia sido jogada no lixo, depois do acionamento dos alarmes, pelo empregado terceirizado, na tentativa de evitar a “constatação da irregularidade”.

O profissional temporário foi advertido e desligado da prestadora de serviços contratada para atuar na vigésima parada de manutenção de Angra 2. A Eletronuclear informou que “todos os dispositivos de Proteção Radiológica e ações previstas em procedimentos impediram a extração indevida do material da usina Angra 2, bem como preservaram a saúde do trabalhador autor da ação e dos demais colaboradores”.

Angra 1 em risco por falta de recursos

O Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu uma auditoria nesta quarta-feira (27) que apontou que o programa de extensão da vida útil da usina nuclear de Angra 1 tem “risco iminente de não alcançar seus objetivos em vista da baixa disponibilidade de recursos financeiros”.

Coube à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que mantém as suas atribuições há décadas, embora criticadas desde o acidente com uma cápsula de césio-137, em Goiânia, em 1987: de regular, licenciar e fiscalizar.

Segundo o TCU, o projeto para aumentar a durabilidade operacional da usina por mais 20 anos foi iniciado em 2020 e tem orçamento total de R$ 3,5 bilhões, sendo que apenas R$ 518 milhões já foram executados. Quanto ao restante, a Eletronuclear tem tido dificuldade para viabilizar o financiamento. Na última semana, o governo federal autorizou a prorrogação do funcionamento da planta, cuja licença expiraria no final desse ano, condicionada à conclusão das intervenções necessárias.

Angra 1 (Divulgação)

O processo foi relatado pelo ministro Antonio Anastasia, que afirmou que o risco do programa não ser concluído “poderá levar ao desequilíbrio e a perda de sustentabilidade da própria Eletronuclear”. Ele disse ainda que o desequilíbrio entre despesas e receitas da empresa contribui para o risco, além de carência de recursos técnicos e operacionais dos órgãos reguladores.

A auditoria do TCU também analisou a gestão do Fundo de Descomissionamento das usinas nucleares, que tem como objetivo garantir os recursos necessários para a desativação das usinas quando atingirem o fim de sua vida útil. Segundo o TCU, há divergências de entendimento sobre a tributação do fundo que têm ocasionado impactos econômico-financeiros diretos no caixa da Eletronuclear.

A empresa realizou saque de mais de 10% dos recursos do fundo em abril desse ano e deu a sinalização de que pretende sacar mais de 40% como ressarcimento por encargos tributários. Essa conduta, segundo o relator, “certamente terá impacto à sustentabilidade econômico-financeira do fundo”. O TCU determinou que a Eletronuclear se abstenha de realizar novos saques.

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