Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), antidepressivos amplamente prescritos, podem comprometer a capacidade do corpo de regular sua temperatura, aumentando a vulnerabilidade ao calor.
O tema ganhou atenção quando Adelaide Saywell, usuária do TikTok, viralizou ao compartilhar sua experiência com o uso desses medicamentos. Nos comentários, muitas pessoas relataram sentir calor excessivo sem saber que isso poderia estar relacionado aos antidepressivos. Alguns mencionaram até casos graves de insolação.
Saywell, que usa ISRSs há 12 anos, alerta sobre o problema todos os verões. Segundo ela, a resposta do público demonstra uma grande falta de conhecimento sobre esse efeito colateral.
Como os ISRSs interferem na regulação térmica?
Os ISRSs, antidepressivos como Zoloft e Prozac, atuam aumentando os níveis de serotonina no cérebro, ajudando a aliviar os sintomas de depressão e ansiedade. No entanto, essa mesma ação pode afetar o hipotálamo, estrutura responsável por controlar a temperatura do corpo.
De acordo com Pope Moseley, médico e pesquisador da Universidade Estadual do Arizona, o excesso de serotonina pode tornar o hipotálamo menos sensível às mudanças de temperatura, prejudicando a resposta térmica do corpo. Isso afeta mecanismos essenciais, como a transpiração, que é crucial para dissipar o calor.

Pope Moseley, médico e pesquisador da Universidade Estadual do Arizona (Foto: Reprodução)
Enquanto algumas pessoas podem apresentar suor excessivo, levando à desidratação e aumento da temperatura corporal, outras podem ter a transpiração reduzida, dificultando a eliminação do calor. Além disso, os ISRSs podem alterar a percepção de sede e estimular uma maior eliminação de líquidos pela urina, aumentando o risco de desidratação.
A combinação desses fatores pode levar à exaustão pelo calor ou até mesmo insolação, uma condição potencialmente fatal.
Falta de informação sobre o risco
Apesar desse risco, muitos médicos não alertam os pacientes sobre a relação entre os antidepressivos e calor, já que outros efeitos colaterais, como ganho de peso, costumam ser mais abordados. “Não acho que a comunidade médica esteja muito ciente de que isso é um problema”, afirma Laurence Wainwright, professor da Universidade de Oxford.
Nas redes sociais, muitas pessoas compartilham suas experiências com esse efeito colateral. Usuários do Reddit relataram dificuldade em lidar com temperaturas elevadas após o início do tratamento com antidepressivos, com alguns até abandonando atividades físicas devido ao superaquecimento.
Saywell acredita que muitas pessoas simplesmente não sabem que precisam perguntar sobre isso ao médico. “Como devemos saber quais perguntas fazer?”, questiona.
Como reduzir os efeitos?
A psiquiatra Judith Joseph destaca que o superaquecimento pode agravar a ansiedade e a depressão, tornando ainda mais importante o cuidado com a regulação térmica. Algumas medidas para minimizar os riscos incluem:
- Evitar exposição ao sol nos horários mais quentes do dia.
- Manter-se hidratado, ingerindo bastante líquido.
- Evitar bebidas alcoólicas e com cafeína, que podem aumentar a desidratação.
- Priorizar um bom descanso, já que a privação do sono pode agravar os sintomas de transtornos mentais.
Sinais como transpiração excessiva, tontura, cãibras musculares e pulso acelerado podem indicar exaustão pelo calor, sendo necessário buscar um local fresco, descansar e se hidratar. Já sintomas mais graves, como desmaios, vômitos e dificuldade para respirar, podem ser sinais de insolação e exigem atendimento médico imediato.
Apesar do risco, os especialistas reforçam que os antidepressivos continuam sendo essenciais para muitas pessoas. O mais importante é garantir que quem faz uso desses medicamentos antidrepressivos esteja informado e adote cuidados para minimizar os efeitos do calor.
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