Não que elas tenham escolhido a guerra, certamente. Foram lançadas no caos sem fim desde a mais tenra idade. Cuidam de irmãos, tios, primos e, claro, dos filhos. Maternam em condições sociais um tanto contrárias às éticas do cuidado, até mesmo avessas a elas.
Mães vivem e morrem numa guerra sem fim. Não foi à toa que a consolidação do “Dia das Mães” veio da atuação de uma mulher que literalmente viveu a guerra, perdeu 9 filhos e cuidou de feridos.
Foi durante a violência da Guerra de Secessão (1861–1865) — ou Guerra Civil Norte-Americana — que Ann Maria Reeves Jarvis (1832–1905) criou uma série de clubes comunitários para valorização do trabalho de cuidado exercido pelas mulheres.
Para além de cuidar dos feridos de uma guerra que matou mais de 700 mil norte-americanos, Ann lutava constantemente contra as altas taxas de mortalidade infantil, ensinando à comunidade as noções básicas de higiene e saneamento, organizando redes de remédio e assistência social.
Diante do legado de luta de Ann Maria Reeves Jarvis, sua filha — Ann Jarvis (1864–1948) — levou adiante a ideia de um feriado de conscientização do trabalho de cuidado das mães e das mulheres em geral. Diante da mobilização das mulheres lideradas por Ann Jarvis (a filha), o Presidente Woodrow Wilson decretou, em maio de 1914, o feriado nacional de celebração das mães.
Vitória do legado de luta e trabalho de cuidado das mulheres? Ann Jarvis percebeu que não… afinal, não demorou muito para que a “mão invisível do mercado” usasse a data de celebração do dia das mães para um culto ao consumo e, principalmente, um culto de invisibilização do trabalho de cuidado exercido pelas mulheres.
A própria Ann Jarvis tentou “revogar” o feriado em nome das justas lutas pelos direitos das mulheres. Em todo caso, como disse Ann, muitas e muitos de nós só queremos, nesse “dia das mães”, ter um lugar para voltar. Um lugar reconhecido (e remunerado) de amor, afeto e cuidado.
As mães nascem, vivem e morrem em guerra. Cuidam dos seus e dos outros. Cuidam como podem e para além do que podem. Estão sempre na mortalha da guerra e do luto, na Rua, no Trabalho, em Casa, em Gaza ou no Rio Grande do Sul.
As mães querem creches, querem saúde pública, querem vale-alimentação, querem mais do que presentes e louças (que continuam a lavar quase sempre sozinhas), querem paz, pão, terra, querem que seus filhos não morram num mundo invariavelmente cheio de guerras.
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