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10 filmes sobre Cuba para entender o país além dos clichês

De documentários premiados a sátiras políticas, uma seleção de filmes sobre Cuba que revelam o país por dentro, com suas tensões, contradições e resistências
25/06/2025 | 23h44
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Por Leila Cangussu

Se você está acostumado a ouvir sobre Cuba só por manchetes apressadas ou memes políticos, essa lista pode te interessar. Filmes sobre Cuba são muito mais do que entretenimento. Eles ajudam você a entender a vida real na ilha, longe dos filtros ideológicos e das caricaturas simplificadas.

Cuba tem história, tem conflito, tem contradição. E tudo isso aparece no cinema. São produções que misturam crítica, afeto, denúncia, ironia e, principalmente, contexto. Você vai encontrar desde documentários gravados em meio a bloqueios econômicos até ficções que escancaram os limites da censura, da burocracia ou do ideal revolucionário.

A lista a seguir traz 10 filmes sobre Cuba que ajudam a pensar o país de forma mais complexa. Não se trata de exaltar nem demonizar. É pra enxergar. Pra ouvir quem vive lá. E pra entender por que essa ilha caribenha segue sendo foco de debates geopolíticos, culturais e ideológicos há mais de 60 anos.

Uma forma de enxergar além da bandeira de Cuba

Cuba é muito mais do que a imagem congelada de Che Guevara em camisetas. Ver filmes cubanos — ou sobre Cuba — é uma forma de acessar o que a imprensa não mostra: o cotidiano, os conflitos internos, o pensamento crítico e as estratégias de sobrevivência de um povo que vive há décadas sob embargo dos Estados Unidos.

A capital de Cuba é só o começo

Muitos filmes se passam em Havana. Mas não se limitam a ela. Você vai ver também a Cuba rural, o interior empobrecido, a juventude que tenta sair da ilha, os intelectuais que escolheram ficar. A capital de Cuba é cenário político, turístico e simbólico. Mas o país é muito maior do que isso. E o cinema mostra essas outras camadas.

Cinema como forma de resistência

Boa parte dos filmes dessa lista foi feita em condições adversas: censura, orçamentos baixos, limitações técnicas. Mesmo assim, essas obras conseguiram circular pelo mundo, disputar prêmios, provocar reflexões. O cinema cubano é, antes de tudo, uma prática de resistência simbólica.

1. Vai pra Cuba, Eduardo! (2024)

Além dos depoimentos de figuras como Aleida Guevara e Miguel Díaz-Canel, o documentário também registra cenas da vida cotidiana em Cuba, nos bairros populares e nas zonas rurais.

A direção de Juliana Baroni costura imagens captadas em diferentes regiões da ilha com a escuta atenta de Eduardo Moreira, que abandona o lugar de entrevistador para agir como observador.

O filme mostra desde mercados populares até escolas e centros de saúde. Também insere trechos do noticiário cubano e contextualiza a relação da ilha com o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, que foi rejeitado por 187 países na ONU em 2023.

A obra venceu o prêmio de melhor documentário no Los Angeles Brazilian Film Festival, que também premiou nomes como Letícia Spiller e Rodrigo Lombardi.

Disponível na plataforma do Instituto Conhecimento Liberta

2. Soy Cuba (1964)

Filmado logo após a Revolução Cubana, “Soy Cuba” foi concebido para exaltar a aliança política entre Cuba e a União Soviética.

A ideia era criar uma obra propagandística. Mas a linguagem experimental — como a câmera que mergulha numa piscina ou atravessa janelas — transformou o filme em peça artística. No entanto, a narrativa foi criticada por cubanos por apresentar estereótipos do povo local e ignorar nuances sociais. Na URSS, o filme foi acusado de “formalismo” e considerado insuficientemente revolucionário. Durante décadas, ficou esquecido.

Nos anos 90, foi redescoberto com apoio de Guillermo Cabrera Infante e restaurado por Martin Scorsese e Francis Ford Coppola, tornando-se referência estética mundial.

Disponível no YouTube com legendas

3. Morango e Chocolate (1993)

A dupla de diretores — Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío — conseguiu realizar um feito raro: levar às telas um debate sobre sexualidade, censura e intolerância no centro da Havana socialista.

Baseado no conto “O lobo, o bosque e o novo homem”, de Senel Paz, o filme propõe uma reeducação emocional e política entre dois personagens com trajetórias opostas. Lançado em um momento de abertura cultural, ele abriu espaço para discussões mais públicas sobre os direitos LGBTQIA+ em Cuba e foi responsável por ampliar o alcance do cinema cubano no exterior.

Ganhou prêmios em Berlim, Gramado e Huelva, e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Disponível na Amazon Prime Video e no Belas Artes À La Carte

4. Antes do Anoitecer (2000)

A trajetória de Reinaldo Arenas é o fio condutor de uma crítica ao autoritarismo e à homofobia institucionalizada no regime cubano entre os anos 60 e 80.

Arenas foi preso com base em sua sexualidade e por publicar textos críticos fora da ilha. Conseguiu escapar durante o êxodo do Mariel, mas não se adaptou totalmente aos Estados Unidos. Acabou morrendo de AIDS em 1990, aos 47 anos, deixando uma carta-testamento que aparece parcialmente no filme.

“Antes do Anoitecer” tem uma estrutura não linear e usa arquivos reais para costurar a narrativa. Javier Bardem foi indicado ao Oscar pelo papel e venceu o prêmio de melhor ator em Veneza.

Disponível no Star+

5. Comandante (2003)

Filmado em 2002, o documentário de Oliver Stone expõe uma imagem de Fidel Castro que raramente aparece em reportagens. Fidel fala por horas sobre sua infância, sua militância, o triunfo da revolução e os dilemas da construção do socialismo. Também comenta a relação com líderes internacionais e reage às acusações de autoritarismo.

A HBO se recusou a exibir o filme após a execução de três cubanos que tentavam fugir da ilha. Stone voltou a Cuba, gravou mais entrevistas e lançou “Procurando Fidel” em 2004, seguido por “Castro in Winter” em 2012. Juntas, as três obras formam um registro audiovisual único sobre a trajetória do líder cubano.

Disponível para aluguel na Apple TV e plataformas sob demanda

6. Memórias do Subdesenvolvimento (1968)

Considerado o maior filme da história do cinema cubano, “Memórias do Subdesenvolvimento” acompanha a crise existencial de Sergio, um intelectual burguês que permanece em Havana após a saída de sua família para Miami.

O filme usa o ponto de vista desse personagem ambíguo para refletir sobre o processo revolucionário, as desigualdades que persistem e a desorientação da elite pós-1959. Intercala ficção com cenas reais, como o julgamento de contrarrevolucionários e as passeatas populares.

É um retrato político e filosófico da transição entre o velho e o novo, marcado por incertezas, conflitos e contradições internas.

Disponível no YouTube e na Criterion Collection

7. Tarará: a história de Chernobyl em Cuba (2021)

Durante a década de 1990, Cuba recebeu mais de 20 mil crianças e adolescentes vítimas do desastre de Chernobyl. Elas foram acolhidas na comunidade de Tarará, localizada a 20 km de Havana. O programa incluía tratamento médico gratuito, alimentação e educação, em plena crise do Período Especial, quando a ilha vivia sem o apoio da URSS.

O documentário de Ernesto Fontán reconstrói essa história a partir dos testemunhos dos protagonistas — médicos, crianças, voluntários e moradores. Mostra uma dimensão de solidariedade internacionalista construída fora dos holofotes, em um momento de isolamento e escassez.

Disponível no Cubadebate e plataformas associadas ao ICAIC

8. La muerte de un burócrata (1966)

Lançado poucos anos após a revolução, o filme satiriza a burocracia excessiva instalada nas estruturas estatais da nova Cuba.

A comédia acompanha a saga de uma família que tenta exumar o corpo de um parente enterrado com um documento essencial. As idas e vindas nos escritórios públicos e os diálogos absurdos revelam a crítica interna ao funcionamento do sistema socialista.

O diretor Tomás Gutiérrez Alea, um dos principais nomes do ICAIC (Instituto Cubano de Arte e Indústria Cinematográficos), usa o humor como forma de abrir espaço para o debate político e a autorreflexão dentro do próprio processo revolucionário.

Disponível no YouTube e em cinematecas públicas

9. Juan de los Muertos (2011)

Com linguagem pop e estética de filme B, “Juan de los Muertos” constrói uma sátira sobre o colapso político e a manipulação da informação em tempos de crise.

Quando zumbis aparecem em Havana, o governo insiste que se trata de uma revolta armada financiada por estrangeiros. Juan, o protagonista, decide lucrar com o caos.

O filme é uma crítica irônica à censura, à informalidade econômica e à paralisia política, e também marca uma virada no cinema cubano ao dialogar com o gênero do terror cômico. Foi o primeiro longa de zumbis produzido em Cuba e recebeu prêmios em festivais como Fantastic Fest e Goya.

Disponível no Amazon Prime Video e Google Play

10. Una Noche (2012)

Filmado em Havana com atores não profissionais, o longa acompanha três adolescentes que sonham em fugir da ilha.

O roteiro é baseado em relatos reais de jovens que tentaram cruzar o estreito da Flórida em balsas precárias. As filmagens aconteceram em meio a dificuldades logísticas e pressões políticas. Na estreia internacional, dois atores abandonaram a delegação cubana e pediram asilo nos EUA.

O filme mostra os contrastes sociais, o desencanto da juventude e o conflito entre o desejo de partir e a impossibilidade de ficar. Ganhou prêmios em Tribeca por direção, roteiro e atuação.

Disponível no Apple TV e Vimeo On Demand

Cuba é mais do que política

Mas a política está em tudo.

Assistir a filmes sobre Cuba é entrar em contato com decisões que moldaram a vida de milhões de pessoas. Você vê como o bloqueio econômico afeta o cotidiano. Como a revolução mudou relações de classe, trabalho e família. Como a censura aparece nos detalhes. E como a solidariedade internacional se traduz em ações concretas, como o acolhimento de vítimas de Chernobyl.

A política aparece nas escolas, nos mercados, nos hospitais. Nos filmes, isso se revela sem precisar ser dito. Está na forma como as pessoas vivem, no que elas sonham, no que elas deixam de dizer.

Cuba é um lugar real. Com avanços, limites, conflitos. Os filmes ajudam a entender isso sem recorrer a caricaturas.

Se você quer sair da superfície e olhar com mais atenção, essa lista é um bom começo. Assista com curiosidade. Ouça sem pressa. Questione o que te ensinaram.

Expanda o repertório

Além desses filmes, você pode buscar produções como:

  • “Clandestinos” (1987), de Fernando Pérez
  • “Viva Cuba” (2005), de Juan Carlos Cremata
  • “Habanastation” (2011), de Ian Padrón
  • “Numa Escola de Havana” (2014), de Ernesto Daranas
  • “Che” (2008), de Steven Soderbergh

Essas obras tratam de infância, juventude, revolução e dilemas contemporâneos. Cada uma, à sua maneira, ajuda a entender as fissuras e as potências da sociedade cubana.

Quer ver a Cuba real?

O documentário Vai pra Cuba, Eduardo! está disponível na plataforma do Instituto Conhecimento Liberta. Uma produção brasileira, feita com escuta, pesquisa e coragem.

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