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O fenômeno do “pobre de direita” no Brasil levanta várias questões. Como pessoas de classes populares apoiam políticos que favorecem as elites? Essa questão se destacou especialmente com a eleição de Jair Bolsonaro em 2018 e sua votação expressiva em 2022.

A resposta para esse aparente paradoxo pode ser encontrada na forma como o racismo e a moralidade são usados para dividir a classe trabalhadora. Vamos analisar o que está por trás desse comportamento?

Quem é o “pobre de direita”?

O conceito de “pobre de direita” vai além do simples voto em partidos conservadores. Ele envolve uma série de fatores sociais e culturais que moldam o comportamento político de uma parcela das classes populares.

Quando falamos desse perfil de eleitor, é importante não cair na simplificação de que ele vota contra seus interesses. O que está em jogo é um complexo sistema de valores, identidades e medos que guiam suas escolhas, muitas vezes de maneira inconsciente.

Definição e contexto

O “pobre de direita” é o indivíduo de baixa renda que, mesmo vivendo em condições econômicas adversas, apoia candidatos e partidos de direita. Esse apoio parece contraditório quando se observa que a maioria das políticas propostas por esses partidos não beneficia diretamente os mais pobres. No entanto, essa escolha vai além da lógica econômica.

A adesão à direita pode ser motivada por vários fatores. Um deles é a crença em valores como meritocracia, família tradicional e ordem. Esses valores são, muitas vezes, promovidos por lideranças políticas e religiosas que conseguem conectar suas pautas ao cotidiano das pessoas.

Outro ponto é a sensação de que a esquerda, ao defender políticas de inclusão e igualdade, ameaça a “normalidade” ou a estrutura social à qual essas pessoas estão acostumadas.

Perfil demográfico

Nas eleições recentes, especialmente em 2018 e 2022, o apoio de Jair Bolsonaro entre os eleitores de baixa renda, particularmente no Sul e Sudeste, surpreendeu muitos analistas. Esse grupo, composto em grande parte por brancos pobres, foi uma das bases eleitorais mais fiéis do ex-presidente. Para entender esse apoio, é necessário observar a realidade sociocultural dessas regiões.

Os eleitores dessa faixa demográfica tendem a viver em cidades menores ou áreas suburbanas de grandes centros urbanos, onde valores como a defesa da família e a segurança pública têm peso significativo. Em muitas dessas localidades, as igrejas evangélicas têm grande influência sobre a vida das pessoas, contribuindo para a disseminação de uma visão conservadora e moralista.

Montauri, no Rio Grande do Sul, conta com 99,16% de sua população composta por pessoas brancas. Em 2022, dos 1.499 habitantes, 849 votaram em Jair Bolsonaro. Crédito: CNN.

Montauri, no Rio Grande do Sul, conta com 99,16% de sua população composta por pessoas brancas. Em 2022, dos 1.499 habitantes, 849 votaram em Jair Bolsonaro. Crédito: CNN.

Além disso, é comum que esses eleitores se identifiquem com o discurso de combate à corrupção, ainda que as evidências mostrem que as políticas econômicas dos governos que eles apoiam acabam por precarizar ainda mais suas condições de vida.

É como se, ao votar na direita, esses eleitores buscassem reafirmar sua dignidade, mantendo-se distantes dos estigmas de dependência do Estado ou da associação com pautas progressistas, que enxergam como ameaças à sua identidade cultural e religiosa.

Essa combinação de fatores religiosos, culturais e políticos ajuda a entender como o “pobre de direita” se posiciona, mesmo que isso signifique apoiar políticas que aprofundam as desigualdades sociais.

Por que o “pobre de direita” apoia políticas que o prejudicam?

Para entender o apoio de setores populares às políticas que, claramente, não atendem seus interesses, é preciso olhar além do fator econômico. O comportamento do “pobre de direita” está enraizado em uma estrutura mais profunda, que mistura cultura, moralidade e desinformação.

Esses fatores criam uma lógica que, embora contraditória, faz sentido para quem se vê representado por valores conservadores e moralistas, mesmo que isso signifique ir contra suas próprias condições de vida.

Moralismo e valores tradicionais

Um dos elementos mais fortes nesse cenário é o moralismo, amplamente propagado pelas igrejas evangélicas. Para muitas pessoas de baixa renda, essas instituições são uma referência de valores como a defesa da família tradicional, a ordem social e a rejeição de pautas progressistas, como os direitos LGBTQIA+.

Esse conservadorismo moral se sobrepõe às necessidades materiais, fazendo com que essas pessoas vejam no discurso da direita uma proteção ao que consideram mais importante: sua fé e sua estrutura familiar.

O “pobre de direita”, nesse contexto, não está votando apenas em propostas econômicas, mas sim, para manter aquilo que acredita ser essencial para a sociedade. E, quando figuras como Bolsonaro se apresentam como defensores desses valores, eles se tornam uma escolha quase natural, mesmo que a realidade das políticas implementadas prejudique diretamente a vida dessas mesmas pessoas.

Preconceitos culturais e raciais

Outro ponto relevante é a manipulação de preconceitos culturais e raciais. O racismo “cultural” surge como uma estratégia da elite para desviar a atenção das desigualdades estruturais, estigmatizando grupos vulneráveis.

Ao invés de lidar com o racismo “racial” explícito, o discurso da direita recorre a um racismo disfarçado, que estigmatiza nordestinos, negros, pobres e a comunidade LGBTQIA+ como os responsáveis pelos problemas sociais.

Essa lógica perversa faz com que o “pobre de direita” enxergue esses grupos como concorrentes ou ameaças, ao invés de aliados na luta por melhores condições de vida. O foco passa a ser proteger o próprio status, por mais precário que seja, alimentando um ciclo de preconceito e divisão dentro da própria classe trabalhadora.

A influenciadora Jojo Todynho, uma mulher negra, nascida no subúrbio carioca e com uma carreira impulsionada pelo apoio da comunidade LGBTQIA+, fez um desabafo público afirmando que é uma "preta de direita". Crédito: O Globo.

A influenciadora Jojo Todynho, uma mulher negra, nascida no subúrbio carioca e com uma carreira impulsionada pelo apoio da comunidade LGBTQIAP+, fez um desabafo público afirmando que é uma “preta de direita”. Crédito: O Globo.

Desinformação e fake news

A desinformação também influencia no comportamento do “pobre de direita”. O uso de fake news e a manipulação midiática contribuem para a criação de narrativas distorcidas que beneficiam a direita.

Essas falsas informações, amplamente disseminadas nas redes sociais e em alguns veículos de comunicação, constroem uma imagem de que a esquerda representa uma ameaça à moralidade, enquanto a direita seria a salvadora da família e da ordem.

Esse bombardeio constante de desinformação molda a percepção do eleitorado, desviando o foco das causas reais dos problemas sociais. Ao invés de questionar as políticas que aumentam a precarização do trabalho e retiram direitos, o “pobre de direita” acaba votando com base em uma realidade fictícia, na qual seus inimigos são os mesmos que lutam por inclusão e igualdade.

Respeito e autoestima

Para muitos, o apoio às políticas de direita vai além da moralidade ou da desinformação. Trata-se de uma busca por respeito e pertencimento. Alinhar-se com valores conservadores pode ser uma forma de afirmar dignidade em meio a um cenário de exclusão e humilhação social.

A ideia de ser “trabalhador honesto”, de “não depender do Estado” e de “proteger a família” faz com que o “pobre de direita” veja no discurso conservador uma oportunidade de se distanciar dos estigmas que são associados à sua condição.

O fato de a direita promover uma visão meritocrática, ainda que mentirosa, reforça essa busca por validação pessoal e status. Mesmo que as políticas defendidas pela direita não tragam melhorias concretas, o simples ato de se identificar com esses valores traz uma forma de alívio psicológico para quem já se sente marginalizado.

A guerra moral: pobre honesto x pobre delinquente

Um dos discursos mais utilizados pela direita para seduzir o “pobre de direita” é a divisão entre o pobre honesto e o pobre delinquente. Essa retórica funciona como uma armadilha para a classe trabalhadora, impedindo a união dos oprimidos contra as elites.

Divisão que favorece as elites

Essa narrativa funciona como uma cortina de fumaça. Em vez de identificar o verdadeiro inimigo – o sistema econômico que concentra a riqueza e perpetua a desigualdade –, o “pobre de direita” direciona sua raiva para grupos que estão tão marginalizados quanto ele.

Pessoas que dependem do Bolsa Família, jovens negros que enfrentam a violência cotidiana nas periferias e a comunidade LGBTQIA+ se tornam os alvos dessa frustração. Essa fragmentação entre os próprios trabalhadores serve apenas para blindar as elites, que continuam enriquecendo enquanto o foco se desvia dos verdadeiros problemas.

Moralismo como disfarce

Políticos como Bolsonaro utilizam esse moralismo como uma ferramenta poderosa para manipular o eleitorado. Ao enfatizar a defesa da “família tradicional” e a ordem social, eles canalizam o medo e a raiva da população para pautas que não resolvem os problemas reais da vida cotidiana.

O discurso de combate ao “delinquente” – seja o jovem negro, o nordestino ou o ativista LGBTQIA+ – serve para desviar a atenção das políticas neoliberais que precarizam o trabalho e desmontam a proteção social, deixando milhões de trabalhadores mais vulneráveis.

A manipulação das religiões

No meio evangélico, mesmo entre negros e pobres, o apoio a Bolsonaro se justifica em parte pela adesão a um moralismo que prega a defesa da “família tradicional”.

Essa visão não surge do nada. Ela é alimentada por líderes religiosos que promovem um discurso conservador, frequentemente alinhado com a agenda de direita. Pautas como a “ideologia de gênero” são transformadas em ameaças que supostamente colocam em risco a educação das crianças e a estabilidade familiar.

Esse medo fabricado serve como ferramenta política, criando uma barreira que impede o diálogo sobre temas mais urgentes, como a desigualdade social e os direitos trabalhistas.

Teologia da prosperidade e meritocracia

A teologia da prosperidade, que é forte em muitas igrejas neopentecostais, tem um impacto direto nessa adesão ao bolsonarismo. Essa doutrina prega que o sucesso material é um sinal do favor divino, o que reforça a crença na meritocracia.

Os fiéis são incentivados a acreditar que, com trabalho duro e fé, podem superar qualquer adversidade, ignorando as barreiras estruturais que mantêm a maioria presa em condições precárias. Isso desvia o foco das discussões sobre redistribuição de riqueza e justiça social, transformando a religião em um instrumento de conformismo.

A ideia de que cada um é responsável pelo próprio sucesso – ou fracasso – acaba blindando as elites e impedindo que os trabalhadores enxerguem as verdadeiras causas de sua exploração.

Jair Bolsonaro participou ativamente de encontros com a comunidade evangélica durante seu mandato como presidente, onde reforçava o slogan “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” para legitimar a rejeição de pautas progressistas. Crédito: Carta Capital.

O falso moralismo da corrupção

A manipulação da opinião pública é fundamental para compreender o comportamento do “pobre de direita”. A elite utiliza o discurso da corrupção como ferramenta para deslegitimar governos progressistas e barrar políticas de inclusão social.

Ao criar narrativas que ocultam as desigualdades estruturais, esses grupos desviam o foco das reais causas dos problemas sociais, mantendo a população distraída e fortalecendo a manutenção de seus privilégios.

Manipulação da opinião pública

As elites no Brasil têm um controle quase total sobre os principais veículos de comunicação, moldando o que chega à população. A partir daí, constroem narrativas que jogam a culpa das crises e problemas sociais em pautas específicas, desviando o foco da concentração de renda e da exploração dos trabalhadores.

Essa estratégia é fundamental para manter a população distraída, enquanto as decisões políticas continuam favorecendo os mais ricos. Para o “pobre de direita”, essas informações filtradas e manipuladas parecem fazer sentido, reforçando a ideia de que suas condições ruins de vida são causadas por questões morais e não por um sistema econômico desigual.

Narrativa da corrupção

O discurso da corrupção tem sido uma das armas mais eficazes nesse processo. A mídia, controlada pelas elites, perpetua a narrativa de que a corrupção é uma exclusividade dos governos de esquerda.

Historicamente, essa estratégia foi usada contra líderes como Getúlio Vargas, João Goulart, Dilma Rousseff e, mais recentemente, Lula. Em todos esses casos, o uso do rótulo de “corrupto” serviu como justificativa para golpes ou para desestabilizar governos que ameaçavam o status quo das elites.

Enquanto isso, a corrupção dentro dos próprios governos de direita é ignorada ou minimizada. Esse ciclo cria um ambiente em que votar na direita parece uma escolha de “moralidade” e “ordem”, enquanto a esquerda é retratada como sinônimo de desordem e falcatrua, reforçando a imagem de que qualquer tentativa de redistribuir recursos ou expandir direitos sociais está ligada à má gestão ou ao desvio de recursos públicos.

Assim, o “pobre de direita” é levado a acreditar que seu apoio à direita é uma defesa da ética, quando na verdade, está sendo manipulado para não ver as verdadeiras causas dos problemas sociais e, assim, fortalecer a hegemonia conservadora.

A contradição do “pobre de direita”

Uma das maiores ironias do fenômeno do “pobre de direita” é a adesão a políticas que afetam negativamente sua própria vida. Apesar de enfrentar condições econômicas precárias, ele apoia um projeto político que agrava sua situação.

A reforma da Previdência do governo Bolsonaro é um exemplo clássico dessa contradição. Ao dificultar o acesso à aposentadoria, especialmente para trabalhadores mais pobres e informais, a reforma atingiu justamente os que mais dependem do Estado para garantir uma vida digna após anos de trabalho.

Políticas contra os mais pobres

Durante o governo Bolsonaro, houve um aprofundamento no desmonte de políticas públicas que historicamente beneficiavam a população mais vulnerável.

Programas de assistência como o Bolsa Família, fundamentais para milhões, foram atacados e modificados. O Sistema Único de Saúde (SUS), vital para quem não tem plano de saúde privado, sofreu com cortes e negligência. A educação pública, também essencial para a maioria, foi desvalorizada e subfinanciada.

Mesmo com esses ataques diretos às condições de vida dos mais pobres, uma parcela significativa desse grupo continuou apoiando o governo.

Pacientes internados nos corredores do Hospital Regional de Ceilândia, no Distrito Federal. Uma cena que, infelizmente, se repete em muitos outros hospitais do Brasil. Crédito: G1

Manipulação ideológica

A resposta para essa aparente incoerência está na manipulação ideológica. O discurso da direita não se baseia apenas em promessas econômicas, mas em uma guerra cultural que valoriza a moralidade e o “mérito”.

O “pobre de direita” vê no conservadorismo uma forma de dignidade pessoal, alinhando-se com a ideia de “trabalhador honesto”, mesmo que isso não se traduza em melhorias concretas para sua vida. A figura do “cidadão de bem” é construída em oposição àqueles que são considerados “delinquentes” ou “aproveitadores” do sistema, como os que recebem auxílio social ou lutam por direitos.

Isso faz com que o “pobre de direita” se distancie das demandas de sua própria classe, movido por uma identificação moral que mascara os danos materiais causados pelas políticas que apoia.

Essa manipulação ideológica, baseada em valores conservadores e em um falso moralismo, desvia a atenção dos problemas econômicos reais, perpetuando um ciclo onde os mais pobres continuam sustentando governos que aprofundam sua exploração.

Como romper o ciclo?

Diante da complexidade do cenário em que o “pobre de direita” apoia políticas que prejudicam sua própria vida, é necessário pensar em soluções concretas.

A desinformação e a manipulação ideológica são fatores que mantêm esse eleitor preso a uma narrativa que não condiz com sua realidade. Para romper esse ciclo, precisamos focar em duas frentes principais: a educação política e o combate à desinformação.

O problema é estrutural, e a solução não será simples ou imediata, mas é necessário começar agora.

Possíveis mudanças

Programas que incentivem o pensamento crítico são o ponto de partida. Não se trata apenas de ensinar conceitos acadêmicos, mas de tornar claro o impacto real das decisões políticas no dia a dia das pessoas.

É importante que o eleitor perceba que a política não está distante da sua vida. Ela afeta a aposentadoria que ele espera receber, o hospital que atende sua família e a escola que seus filhos frequentam. Através de debates públicos, redes sociais e iniciativas de educação popular, é possível reverter o cenário de alienação e falta de entendimento sobre o sistema que sustenta as desigualdades.

Educação e conscientização

A educação política é o primeiro passo para qualquer transformação social. É ela que possibilita o entendimento das estruturas de poder que perpetuam a exploração e a exclusão.

Por meio de uma educação que valorize a história das lutas de classes, as dinâmicas de dominação e as raízes do capitalismo, os indivíduos podem começar a perceber que as narrativas de mérito, moralidade e “trabalhador honesto” são instrumentos de controle.

Cursos, rodas de conversa e conteúdos acessíveis que expliquem a história da luta de classes e como as elites moldam o discurso público podem ajudar a desconstruir a ideia de que o conservadorismo representa moralidade ou segurança. É importante que as pessoas sejam resistentes às manipulações políticas e capazes de enxergar além das narrativas que beneficiam apenas uma minoria.

Roda de conversa promovida pela Justiça Eleitoral do Tocantins em Gurupi, 2022, incentivou o debate sobre a participação das mulheres na política. Crédito: TRE-TO

Roda de conversa promovida pela Justiça Eleitoral do Tocantins em Gurupi, 2022, incentivou o debate sobre a participação das mulheres na política. Crédito: TRE-TO

Conclusão

O “pobre de direita” é fruto de uma manipulação ideológica que transforma questões sociais e econômicas em uma guerra moral. Mesmo sendo prejudicado pelas políticas que apoia, ele se alinha a valores conservadores acreditando estar do lado certo moralmente. O discurso de Jair Bolsonaro, focado em tradições e religião, fortaleceu esse comportamento, usando moralismo e desinformação para dividir a classe trabalhadora.

Essa contradição é clara em exemplos como a reforma da Previdência, que atingiu diretamente os trabalhadores mais pobres, mas contou com o apoio de muitos deles. A prioridade não é econômica, mas a identificação com o ideal de ser um “trabalhador honesto.”

O desafio é grande. Para romper com essa narrativa, é preciso combater a desinformação e enfrentar o controle ideológico que desvia o foco dos problemas reais, como a concentração de riqueza e a exclusão social. A educação política e a conscientização são ferramentas essenciais para que as pessoas percebam como suas vidas estão conectadas às estruturas de poder e à distribuição de recursos.

Somente com essa desconstrução ideológica será possível promover a união das classes oprimidas e dar o primeiro passo para construir uma sociedade mais justa. O caminho pode ser longo, mas a transformação social começa com a conscientização sobre as verdadeiras causas da desigualdade e da exploração.

 

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