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Quem foi Aristóteles? Conheça um dos maiores filósofos da Grécia Antiga

Saber quem foi Aristóteles é fundamental para compreender a filosofia moderna e seus desdobramentos. Descubra mais sobre o aluno mais famoso de Platão.
13/11/2024 | 16h11

Aristóteles, um dos maiores filósofos da Grécia Antiga e aluno da Academia de Platão, foi um pensador da Grécia Antiga e deixou um legado de muita influência para o pensamento ocidental. Ao criticar as ideias de seu mestre Platão, e apresentar uma abordagem completamente diferente e muito focada na natureza viva, consolidou-se como um dos últimos grandes filósofos gregos e também como o primeiro grande biólogo da Europa.

Por sua abordagem diferente a temas que permanecem relevantes até os dias de hoje, é fácil entender quem foi Aristóteles e porque seu nome e suas ideias continuam atuais até o século XXI . Sua obra abrange diversas áreas do conhecimento, da lógica à física, da ética à política, e sua influência é perceptível em diversos campos do saber, da filosofia à ciência política.

Conhecer quem foi Aristóteles é essencial para quem tem interesse em estudar não apenas a filosofia moderna, já que suas contribuições intelectuais ultrapassam esse campo. Ao analisar os seres vivos e estabelecer a primeira classificação entre eles, Aristóteles plantou a semente para o que seriam os estudos da biologia.

Sua importância foi tamanha que Platão, seu mestre por mais de 20 anos, costumava dizer que a genialidade de Aristóteles era uma das bases de sua Academia.

O afresco pintado por Rafael Sanzio no século XVI retrata Platão (no centro, à esquerda, de vermelho) e Aristóteles (no centro, à direita, de azul) e mostra a importância dos dois filósofos para a humanidade. Crédito: Domínio Público

O afresco pintado por Rafael Sanzio no século XVI retrata Platão (no centro, à esquerda, de vermelho) e Aristóteles (no centro, à direita, de azul) e mostra a importância dos dois filósofos para a humanidade. Crédito: Domínio Público

A biografia de Aristóteles e como surgiu o último dos grandes filósofos gregos

Nascido em Estagira, na Grécia, em 384 a.C., Aristóteles era filho de um médico, que trabalhava para a família real da região que hoje conhecemos por Macedônia. Por esse contato com a profissão do pai, desde sempre, se interessou pela natureza, pela observação e pelo questionamento dos fatos como se apresentavam.

Na adolescência, mudou-se para Atenas, polo intelectual e cultural da época, e ingressou na Academia de Platão, onde teve contato com a Filosofia, Matemática e Geometria, além das Ciências que tanto o fascinavam. Foi nesse momento também que passou a divergir de seu mestre, Platão, ao dedicar seus estudos para a filosofia natural e a percepção por meio dos sentidos.

Após a morte de Platão, e não tendo sido escolhido como sucessor de seu mestre, Aristóteles deixa Atenas para viver em outras cidades. Em 343 a.C. é convidado pelo rei da Macedônia para ser tutor do príncipe, Alexandre – que depois seria conhecido como Alexandre, o Grande.

Ao retornar a Atenas em 335 a.C., funda sua própria escola, o Liceu, onde estudava-se geometria, física, química, astronomia, botânica e matemática, entre outras disciplinas. Porém, com a morte de Alexandre, o Grande, Aristóteles se vê obrigado a deixar Atenas pelo sentimento anti-macedônico.

Embora os registros da época apontem que Aristóteles tenha escrito mais de 200 tratados e manuscritos, apenas 30 sobreviveram aos dias de hoje – e mesmo assim, influenciaram diversas áreas acadêmicas, demonstrando a grandiosidade de quem foi Aristóteles. Ao contrário de Platão, que escrevia de forma quase poética, suas anotações lembraram verbetes de enciclopédia.

Aristóteles e Platão, quando o pupilo supera o mestre

Platão e Aristóteles, dois gigantes do pensamento grego, foram mestre e aluno por cerca de 20 anos em Atenas. Aristóteles dizia que a razão é a característica mais importante do homem, mas precisamos perceber a realidade racionalmente para que ela seja “preenchida”.

Essa é uma das principais diferenças da teoria de Platão, que pregava que as ideias já existem racionalmente antes que sejam percebidas pelos nossos sentidos. As divergências entre os dois podem ser observadas principalmente nas seguintes áreas:

1. A natureza da realidade

Platão defendia o idealismo, apontando que o mundo sensível é apenas uma sombra imperfeita de um mundo de ideias perfeito e eterno – já que seu foco era sempre sair da Caverna. As ideias seriam os verdadeiros objetos do conhecimento e seriam acessíveis através da razão.

Aristóteles acreditava que a realidade é composta pelos objetos sensíveis que percebemos com nossos sentidos, numa clara influência do contato, desde a infância, com as ciências biológicas e a medicina exercida pro seu pai. Para ele, conhecimento se origina da experiência e da observação do mundo real, e a razão é utilizada para compreender e interpretar esses dados.

2. A alma

Platão acreditava na existência de uma alma imortal que habita o corpo e que possui conhecimento inato das ideias perfeitas. Após a morte, a alma retorna ao mundo das ideias.

Para Aristóteles, a alma é uma forma do corpo, e que ela não existe independentemente dele. A alma é a capacidade de pensar, de sentir e de agir, e está intrinsecamente ligada ao corpo. Por sermos criaturas vivas, todos temos a potencialidade das transformações inerentes a nós mesmos.

3. A ética

Platão filosofava sobre uma ética baseada na ideia do Bem, que é a ideia perfeita de justiça e de virtude. A busca pela felicidade se dá através da contemplação do Bem.

Por outro lado, Aristóteles ponderava sobre uma ética da virtude, onde a felicidade é alcançada através da prática das virtudes morais, como a justiça, a coragem, a temperança e a sabedoria. A virtude é o meio-termo entre dois extremos, como a coragem está entre a covardia e a temeridade, e a felicidade seria a integração de três vidas: prazeres e satisfação, como cidadão livre e como pesquisador e filósofo.

4. A política

Platão acreditava que a forma de governo ideal seria aquela em que os filósofos, por possuírem conhecimento do Bem, governam a sociedade.

Aristóteles, por sua vez, acreditava que a participação dos cidadãos na vida política era essencial para o bem comum. Todas as formas de governo – monarquia, democracia e autarquia (governo dos aristocratas) – podem ser positivas, mas demandam atenção. Para o filósofo, o Estado é a forma mais elevada do convívio humano, e sem a política e a sociedade, o homem se torna um ser perdido e inútil.

A política de Aristóteles e sua influência no mundo moderno

Aristóteles elaborou uma teoria política que defendia a forma de governo mista (combinação de elementos da monarquia, da aristocracia e da democracia) como a melhor forma de governo para assegurar a justiça e a estabilidade política. Ele acreditava que a justiça social é essencial para a felicidade dos cidadãos e para a boa organização da sociedade.

É importante ressaltar que, apesar de ter sido um filósofo importante e influente, as ideias de Aristóteles não devem ser utilizadas para defender ideias extremistas ou autoritárias. Aristóteles não era um democrata no sentido moderno do termo, visto que a ideia democracia como a conhecemos só começou a ser construída no século XVIII. A visão da democracia, para Aristóteles, era bastante diferente da democracia representativa que vivemos hoje pois o mundo em que viveu tinha noções de cidadania que não são as mesmas da atualidade.

Estátua de Aristóteles na Universidade de Freiburgo, na Alemanha. Crédito: joergens.mi/ Creative Commons

Estátua de Aristóteles na Universidade de Freiburgo, na Alemanha. Crédito: joergens.mi/ Creative Commons

As influências de Aristóteles na história da humanidade

As obras de Aristóteles sobre ética e política tiveram grande influência no pensamento ocidental. Seus textos foram estudados e reinterpretados por filósofos, teólogos, e líderes políticos ao longo da história, e seu prestígio pode ser percebido em diversos áreas acadêmicas:

  • O Cristianismo e as religiões. O pensamento de Aristóteles foi incorporado pela filosofia cristã medieval, e seus conceitos foram usados para justificar a ordem social e a autoridade da Igreja. Por teorizar que Deus estava no topo da escada natural, Aristóteles ganhou prestígio entre filósofos da Idade Média, mas essa influência nunca pregou uma política teocrática.
  • O Renascimento europeu. Durante o Renascimento, o pensamento de Aristóteles foi reavaliado e reinterpretado, contribuindo para o desenvolvimento do pensamento científico e para o questionamento das autoridades tradicionais.
  • A modernidade e o Iluminismo. As ideias de Aristóteles também influenciaram o pensamento político moderno, especialmente o Iluminismo. Filósofos como John Locke e Montesquieu se inspiraram em Aristóteles para defender a separação de poderes e os direitos naturais do homem.

Atualmente, a obra e as ideias de Aristóteles têm passado por uma apropriação seletiva e distorcida que descontextualiza suas ideias e as utiliza para defender uma agenda política que vai contra os princípios de igualdade e justiça social que marcaram o legado do filósofo.

Por visualizar a natureza de forma hierárquica, dividindo coisas inanimadas e criaturas vivas – e estas com suas próprias classificações – Aristóteles foi usado pela extrema direita para justificar uma suposta superioridade de alguns seres em comparação a outros, como mulheres, pessoas negras ou indígenas e a população LGBTQIA+.

No entanto, essa interpretação é distorcida. Aristóteles, em seus textos sobre ética e política, defendia a justiça como um princípio fundamental para a boa organização da sociedade, e a busca por um sistema político que garantisse a felicidade e o bem-estar de todos os cidadãos.

Sendo o Estado a forma mais elevada do convívio humano e o homem um ser naturalmente político, fica clara a importância da política e do governo para Aristóteles. No entanto, ele nunca defendeu um estado forte e autoritário – ao contrário, sempre destacou que é necessário o equilíbrio para garantir justiça.

Essa interpretação é distorcida, pois Aristóteles defendia a busca por uma forma de governo que garantisse a justiça e a liberdade dos cidadãos por meio do equilíbrio. Ele acreditava que o Estado tem o dever de proteger os direitos e as liberdades individuais, e que o governo deve ser justo e representativo da vontade do povo.

Frases de Aristóteles que ficaram para a história

“O homem é um animal político.”
“A felicidade é o objetivo último da vida.”
“A virtude é uma disposição a agir de acordo com a razão.”
“A justiça é a virtude que consiste em dar a cada um o que lhe é devido.”
“O que nos torna felizes não é o prazer, mas a virtude.”

Saber quem foi Aristóteles também passa pelo entendimento de suas obras literárias

As obras de Aristóteles podem ser divididas entre assuntos abordados.

Lógica Aristotélica

Filosofia da natureza

Filosofia prática

No livro “Ética a Nicômaco”, um dos mais famosos de Aristóteles e que homenageia seu filho,  o filósofo desenvolve sua teoria da ética e da virtude, analisando as diferentes virtudes morais e a importância do desenvolvimento do caráter para a busca pela felicidade.

Em sua obra “Política”, Aristóteles analisa as diferentes formas de governo e defende a importância da participação dos cidadãos na vida política. Ele acredita que a democracia, com suas limitações, é uma forma de governo que possibilita a justiça e a liberdade dos cidadãos.

Por que Aristóteles foi tão importante para a filosofia moderna?

Aristóteles foi um dos maiores pensadores da história da filosofia e deixou um legado que continua a influenciar o pensamento ocidental. Sua obra é um testemunho da importância da razão e do debate na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. Seu pensamento nos convida a questionar as desigualdades e as injustiças que marcam o mundo contemporâneo e a buscar formas de construir um mundo melhor para todos.

Toda a obra de Aristóteles é um testemunho da importância do debate e da reflexão sobre a política. Ao buscar compreender os sistemas políticos de sua época e propor soluções para os problemas da sociedade,  seu pensamento pode nos inspirar a questionar as desigualdades e as injustiças que marcam a sociedade contemporânea e a buscar formas de construir um mundo mais justo e igualitário.

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