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Em ato histórico, 1 milhão de argentinos vão às ruas contra ataque de Milei à Educação

Para justificar os cortes, Milei disse em entrevista que educação pública “não é um direito, porque alguém tem que pagar por isso”
24/04/2024 | 13h58

Mais de um milhão de pessoas se mobilizaram nesta terça-feira (23), em diferentes regiões da Argentina, para exigir um orçamento maior para as universidades públicas e contra os ajustes propostos pelo governo de Javier Milei.

Estudantes, professores e cidadãos de áreas de atuação estiveram presentes na maior mobilização dos últimos anos, considerada histórica.

Os manifestantes protestaram contra o “plano motosserra” de cortes orçamentários promovido por Milei para lidar com a crise econômica. Os cortes têm apertado o setor público, em especial as universidades públicas, que oferecem educação gratuita e dependem do financiamento governamental.

Milei, que já havia antecipado suas intenções durante sua campanha presidencial, questionou a essencialidade da educação pública e gratuita. “Não é um direito, porque alguém tem que pagar por isso ”, justificou durante uma entrevista televisiva.

“É uma máquina que lava cérebros e treina as pessoas em ideias socialistas cujos valores subjacentes são a inveja, o ódio e o ressentimento”, observou na ocasião e repetiu ontem nas redes sociais.

Na mobilização de ontem, a cidade de Buenos Aires foi o epicentro da mobilização, com estimativa de 500 mil a 800 mil pessoas percorrendo o extenso percurso que culminou na lotada Praça de Maio. As informações são do canal C5N.

Estudntes universitários argentinos protestam contra cortes de Javier Milei na Educação

Estudantes universitários argentinos protestam contra cortes de Javier Milei na Educação. Foto: REUTERS/ Martin Villar

Na preparação, centenas de estudantes de diferentes cursos da Universidade de Buenos Aires reuniram-se na Cidade Universitária para fazer uma vigília aguardando o início da marcha.

Por volta das 14h, as ruas ao redor do Congresso estavam repletas de forças de segurança, como prevê o protocolo “anti-piquetes” elaborado pela ministra da Segurança, Patricia Bullrich, e já utilizado na mobilização realizada em janeiro passado e em todos os protestos em torno do Congresso contra o megadecreto do governo e a chamada Lei Omnibus.

Na praça e nas calçadas, centenas de bandeiras de diversas cores políticas, organizações sindicais e movimentos sociais aguardavam a comunidade universitária que chegava. Às 15h30, horário combinado para o deslocamento para a Praça de Maio, a área estava lotada e as ruas paralelas e as que levam ao prédio do Parlamento mostravam apenas centenas de pessoas se aproximando.

Policiais cercaram a fachada do prédio do cinema Gaumont e se espalharam por aquele quarteirão, um dia depois de o Governo anunciar o desmantelamento do Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais (Incaa), em mais uma provocação à cultura. Alguns artistas aderiram ao apelo pela educação e caminharam pelas ruas ao lado de tantos outros.

Os estudantes foram os protagonistas da extensa jornada. Das mais variadas carreiras, de diferentes faculdades e até de instituições privadas, os jovens atenderam ao chamado para o ato.

As universidades de Rosário, Santa Fé, Mar del Plata, La Plata e cercanias de Buenos Aires estiveram presentes e os grupos foram chegando, um após o outro, formando uma coluna interminável na Avenida de Mayo. Em diferentes pontos do país, a imagem se repetiu.

Convocação a eleitores de Milei

“Você pode ter votado neste governo, mas hoje tem que estar na praça de qualquer maneira”, disse Iara, que estudou Economia em uma universidade privada em Buenos Aires e trabalha para uma multinacional do setor de seguros.

“Vim com meus colegas de trabalho, eles deixaram a gente sair mais cedo do escritório”, acrescentou ela.

A grande maioria chegou com um livro nas mãos, aderindo à iniciativa lançada dias antes nas redes sociais. De uma varanda sobre Rivadavia, uma avó jogou alguns livros de sua biblioteca para aqueles que haviam esquecido os seus.

A música “Na Argentina nasci” voltou a ser cantada no país inteiro pela primeira vez desde dezembro de 2022, quando a seleção argentina foi campeã da Copa do Mundo do Catar. Mas em vez de Diego e Lionel, desta vez foi a “terra de Milstein e Houssay”, dois dos cinco ganhadores do Prêmio Nobel e expoentes do alto nível científico do país.

Os profissionais, recebidos de diferentes faculdades privadas, misturaram-se entre os alunos.

Mas também esteve presente, ao longo da tarde e de forma incansável, o grito que convidou a saltar quem não votou em Javier Milei.

“A educação é para criar homens e mulheres livres”, defendeu Adolfo Pérez Esquivel, vencedor prêmio Nobel da Paz de 1980.

O gigantesco ato terminou sem incidentes.

 

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