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Além de atos contra ditadura, Lula desiste de museu de memória sobre repressão

Presidente não quer realizar nenhum gesto alusivo aos 60 anos do golpe militar de 1964
20 de março de 2024

Prometido pelo então ministro da Justiça, Flavio Dino, inspirado em museu semelhante em Santiago do Chile, o Museu de Memória e Direitos Humanos, que seria feito no Brasil com memórias da ditadura militar, não deve mais sair do papel. A informação é da TV Globo.

Dino anunciou a ideia de construir um museu como marco dos 60 anos do golpe militar quando estava em Santiago, em setembro de 2023, durante um evento sobre os 50 anos do golpe militar que derrubou Salvador Allende.

A ideia era que o novo museu fosse inteiramente focado no período da ditadura militar, o que ainda não existe no Brasil. Segundo fontes do Ministério da Justiça e do Palácio do Planalto, o projeto não avançou porque o presidente Lula não quer provocar atritos com os militares.

Ao anunciar o museu, Dino disse que a pasta entraria com recursos para executar o projeto. “Nós devemos ao Brasil e vamos pagar essa dívida com a criação de um Museu da Memória e dos Direitos Humanos. O ministro Sílvio Almeida (dos Direitos Humanos), que aqui está junto com o Nilmário Miranda, assessor de Memória do Ministério dos Direitos Humanos, entram com os talentos e capacidade, e o Ministério da Justiça entra com o capital para levar essa ideia adiante.”

A decisão do presidente Lula de não realizar nenhum ato alusivo aos 60 anos do golpe militar de 1964 acabou desautorizando a iniciativa. O Ministério dos Direitos Humanos também havia planejado uma agenda em memória das vítimas no dia 1º de abril, mas o encontro foi cancelado.

Segundo fontes do Palácio do Planalto disseram à TV Globo, o recado para o cancelamento dos eventos não foi dado diretamente por Lula, e sim pelo chefe de gabinete da Presidência, Marco Aurélio Ribeiro, que se reuniu com Silvio Almeida no dia 7 de março.

Não realizar atos governamentais sobre o golpe de 64 vem de um acordo tácito feito pelo presidente com a cúpula militar: as Forças Armadas se comprometem a não realizar nenhuma manifestação para celebrar a data, como ocorria no governo de Jair Bolsonaro, e, em contrapartida, o governo não realiza nenhum ato crítico à ditadura.

O presidente quer que o foco das atenções esteja na tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, e não no regime militar.

Incômodo na esquerda

A posição de Lula tem causado incômodo dentro do PT e de entidades ligadas às vítimas da ditadura. O deputado federal Rui Falcão (PT–SP), um dos amigos mais antigos e conselheiro de Lula, critica a posição do Planalto.

“Não concordo com essa proibição de pessoas do governo de fazer declarações ou atos sobre o golpe. É um erro político e um erro histórico”, disse Falcão.

Já o senador Hamilton Mourão (Republicanos–RS) afirma que a atitude de Lula é correta e concorda com a tese do acordo entre governo e Forças Armadas. “Não tem que ficar voltando ao passado, falando desse assunto. Nós cuidamos do nosso lado e o governo cuida do lado deles.”

Lula tem feito uma série de acenos aos militares para consolidar uma boa relação com a

cúpula das forças. Esse movimento passa por encontros frequentes com a caserna, confraternizações com familiares dos militares e orçamento inflado, inclusive no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), para as três forças.

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