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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Braço direito de Rivaldo participou de operação em que miliciano o acusou de extorsão

Rafael Macedo foi à casa de Orlando Curicica em ação onde o miliciano diz ter sido extorquido
04/06/2024 | 06h00

Com Igor Mello

O policial civil Rafael Aurélio de Macedo Lopes, tido com um dos homens de confiança do delegado Rivaldo Barbosa, participou de uma operação em 2012 pela qual o miliciano Orlando Curicica acusa Rivaldo de extorsão.

A informação consta no termo de depoimento do ex-chefe da Polícia Civil do Rio, preso no âmbito do Caso Marielle Franco, à Polícia Federal, obtido com exclusividade pela coluna.

Rivaldo entrou no tema espontaneamente logo no início de seu depoimento, prestado ontem. Ele relatou que a operação em questão, realizada no fim de 2012, foi comandada pela delegada Renata Araújo.

Por sua vez, diz que a diligência citada por Curicica na denúncia foi conduzida por Henrique Damasceno — que anos depois seria um dos delegados escolhidos para chefiar as apurações do Caso Marielle.

Rivaldo sustenta que na época da operação estava de licença para tratar de um problema na perna e que não ficou sabendo da participação do policial civil Rafael Macedo — descrito por ele próprio durante o depoimento como “uma pessoa de confiança” — na diligência.

Orlando Curicica foi o responsável por revelar o plano de obstrução arquitetado pelos irmãos Domingos e Chiquinho Brazão — apontados pela PF como mandantes da morte de Marielle Franco (PSOL) — para atrapalhar as investigações, imputando falsamente o crime a Curicica e ao ex-vereador Marcello Siciliano.

Ao ver seu nome envolvido no Caso Marielle, ele procurou as autoridades para denunciar a farsa e revelar esquemas de corrupção na Delegacia de Homicídios — chefiada até 2018 por Rivaldo.

“Houve uma busca e apreensão na minha casa e foi achada uma pistola, só que eu não estava em casa. E eles fizeram contato comigo dizendo que iam botar a responsabilidade da arma na minha mulher. Inclusive está no sistema até hoje esse inquérito, apesar do tempo. Eles me pediram R$ 20 mil pra não imputar à minha mulher a posse da arma. Isso o doutor Rivaldo.  Na época, eu tinha uma Palio preta, eu consegui vender essa Palio preta por R$ 18 mil e mandei esses R$ 18 mil pra DH. O advogado que levou foi o mesmo que levou a minha mulher pra ser ouvida. Enquanto ouviram a minha mulher, houve pagamento da extorsão”, afirmou Orlando Curicica, ao Ministério Público.

Policial citado trabalhava em empresa de Rivaldo

No depoimento, Rivaldo também confirma que Rafael Macedo trabalhava para a empresa Mais I Consultoria Empresarial, que pertence a ele e à advogada Érika Araújo, sua esposa. A PF suspeita que o ex-chefe da Polícia Civil usou servidores e recursos da Polícia Civil para atender clientes de sua empresa.

A declaração representa uma mudança na estratégia de defesa de Rivaldo Barbosa. Até então, seus advogados sustentavam que “nunca houve o emprego” de servidores da Polícia Civil em suas empresas.

O nome de Rafael Macedo aparece diversas vezes em e-mails e mensagens trocados entre a Mais I e a Construtora Calper, um dos principais clientes da empresa. Em um deles, é dito que Macedo e Rivaldo Barbosa receberiam crachás para acesso cotidiano à sede da construtora, mas no caso dos dois o documento não teria identificação.

Como revelou a coluna, para a  PF ““possivelmente essa determinação teve o condão de ocultar o vínculo dos policiais civis com a prestação de serviços para a CALPER, através da empresa por RIVALDO/ERIKA constituída: MAIS I CONSULTORIA”

A Construtora Calper afirma que não mantém relações com a empresa de Rivaldo desde 2017 e que era Érika Araújo o contato com a Mais I Consultoria na prestação de serviços de compliance e gestão patrimonial.

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