Juliana Dal Piva e Gabriela Varella
O general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e ex-candidato à vice-presidente da República na chapa de Jair Bolsonaro (PL-RJ), será um dos indiciados pela PF (Polícia Federal) no relatório final do inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado após o fim das eleições de 2022.
Braga Netto não foi preso nesta terça-feira (19) porque os investigadores decidiram prender apenas os acusados envolvidos diretamente na execução do plano que visava matar Moraes, Lula e Alckmin. A PF ainda analisa celular e computadores do general apreendidos durante a operação Tempus Veritatis, em fevereiro deste ano, quando o general foi alvo de mandados.
O plano do grupo golpista para matar Lula e Geraldo Alckmin, na época presidente e vice-presidente eleitos, foi arquitetado na casa de Braga Netto em 12 de novembro de 2022. A Polícia Federal teve confirmação sobre a reunião por intermédio de Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que firmou acordo de colaboração premiada.
Segundo a PF, Braga Netto estava presente e também os majores Hélio Ferreira Lima e Rafael de Oliveira. Os dois últimos também foram presos hoje, suspeitos de, junto com o general Mário Fernandes, participarem do plano para matar Alckmin e Lula.
As informações foram confirmadas pelo material apreendido com o general de Mario Fernandes. As emboscadas aos dois ocorreriam em 15 de dezembro.
Operação da PF
A Polícia Federal faz uma operação de busca e apreensão na manhã desta terça-feira (19) sobre o grupo de militares conhecido como “Kids Pretos”. Eles são investigados pela participação na tentativa de golpe de Estado e por um plano para uma emboscada contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), conforme a coluna revelou no dia 12 de novembro. O magistrado foi minuciosamente monitorado pelo grupo. Esse plano faz parte dos preparativos para a tentativa de golpe de estado após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022.
A PF cumpre cinco mandados de prisão preventiva, três de busca e apreensão, além de outras 15 medidas cautelares na ação, batizada de “Operação Contragolpe”. Os alvos são endereços no Rio de Janeiro, Goiás, Amazonas e Distrito Federal. Os militares alvos de prisão são Hélio Ferreira Lima, Mario Fernandes, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo. Também é alvo Wladimir Matos Soares, policial federal.
O monitoramento do ministro Alexandre de Moraes teve início logo após a reunião na residência de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022. A informação consta na decisão que autorizou as medidas cautelares da Operação Contragolpe, deflagrada nesta terça-feira (19/11).
“Os levantamentos iniciais em ‘pontos de interesse’, relacionados ao Ministro ALEXANDRE DE MORAES, sugerem ter contado com levantamentos iniciais realizados por [tenente-coronel] HELIO FERREIRA LIMA e [major] RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA. Essas ações, pelo que se obteve, foram
executadas com a ciência e participação de [ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro] MAURO CID e [ex-assessor de Bolsonaro] MARCELO CÂMARA, fornecendo detalhes da localização do ministro, mediante a arregimentação de fonte humana, que tinha acesso a tais dados, por MARCELO CÂMARA”. O tenente-coronel Helio Ferreira Lima e o major Rafael Martins de Oliveira foram presos na Operação Contragolpe, da PF.
Braga Netto ‘indignado’ com situação política
O general Mario Fernandes, um dos militares presos pela PF nesta terça, chegou a dizer — em 10 de novembro de 2022, ao coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro –, que Braga Netto estava “indignado” e que teria “um apoio mais efetivo” do que o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira.
“Porra, cara, eu tava pensando aqui, sugeri o presidente até, porra, ele pensar em mudar de novo o MD, porra. Bota de novo o General Braga Neto lá. General Braga Neto tá indignado, porra, ele vai ter um apoio mais efetivo. Reestrutura de novo, porra. Ah, não, porra, aí vão alegar que eu tô mudando isso pra dar um golpe. Porra, negão. Qualquer solução, Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta. E, porra, tem que tomar cuidado, cara. Ontem eu fiquei preocupado com a saúde do presidente, cara. Porra, ele (ininteligível) escrota, ele tossindo, porra, ele tem que se cuidar, cara. E levantar a cabeça, porra. Partir pra cima. Ainda que seja caindo, porra, ele vai cair de pé, porra, altivo como sempre esteve. Um abraço, Caveira. Força”, disse, em áudio apontado no documento da PF.
O número de Câmara estava salvo como “Caveira” no celular de Mario Fernandes. “Caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, né, sem quebrar cristais. Então, meu amigo, parti pra cima, apoio popular é o que não falta. E, porra, tem que tomar cuidado, cara. Ontem eu fiquei preocupado com a saúde do presidente, cara”, escreveu.
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