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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Centrão governista desbanca grupo de Lira na liberação de emendas

Grupo liderado por PSD e MDB já recebeu R$ 2 bilhões, enquanto blocão de Lira ficou com R$ 1,5 bilhão
05/06/2024 | 07h00

Por Igor Mello

Após o racha que dividiu o Centrão em dois blocos parlamentares em 2023, o grupo mais alinhado ao governo — composto por PSD, MDB, Republicanos e Podemos — vem desbancando o blocão de Arthur Lira na liberação de emendas individuais. É o que mostra cruzamento de dados exclusivo feito pela coluna.

Até agora, os deputados do Centrão governista conseguiram liberar o pagamento de R$ 2 bilhões em emendas — quase 30% dos aproximadamente R$ 6,9 bilhões a que esses parlamentares têm direito no orçamento de 2024.

O valor fica bem acima dos R$ 1,5 bilhão distribuído para o blocão de Lira — que só recebeu 24% dos R$ 6,25 bilhões aprovados para este ano. Os dados são do Siop (Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento).

PSD é o partido mais fiel do Centrão

Os dois grupos concentram os principais candidatos à sucessão de Arthur Lira na presidência da Câmara dos Deputados. Do lado do Centrão governista há pré-candidatos como Marcos Pereira (Republicanos-SP), 1º vice-presidente da Câmara, Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Antônio Brito (PSD-BA).

Em seu grupo, Lira tem Elmar Nascimento (União Brasil-BA) como seu preferido para assumir o comando da casa. Dr. Luizinho (PP-RJ), líder do PP na Câmara, corre por fora.

O privilégio na liberação de emendas tem como contrapartida o apoio a Lula no plenário. Monitoramento feito pelo jornalista Tiago Mali no site Poder360 mostra que o PSD entrega quase 73% de seus votos ao governo.

O Republicanos vota com o governo em 68,9% das discussões, enquanto o MDB integra a base em 67,5% de seus votos. O patamar é um pouco superior aos 65% de apoio entregues pelos PP. O União Brasil, que acumula ministérios, só dá 60% de seus votos a Lula.

A mesma tendência se confirma, com ainda mais força, quando o enfoque são os parlamentares mais agraciados com a liberação de emendas pelo governo. Dos 51 deputados que receberam 50% ou mais dos recursos que indicaram até aqui, 23 são do Centrão governista. O blocão de Lira, por sua vez, conta com 14 nomes no topo do ranking.

O campeão de agraciados é o PSD, de Gilberto Kassab, que tem 11 desses parlamentares — entre eles o campeão, Ricardo Silva (SP), que teve 90,5% da verba liberada, e o terceiro colocado, Otto Alencar Filho, que já obteve a liberação de 67,7% dos recursos que indicou.

Dois cariocas do PSD, ligados ao prefeito Eduardo Paes (PSD-RJ), também foram afagados pelo governo: Pedro Paulo e Daniel Soranz fecham o top 10. Paes é próximo de Lula e uma das principais apostas do presidente para ter aliados no comando de capitais importantes.

Em comparação, a federação encabeçada pelo PT — composta também por PCdoB e PV– tem apenas 12 deputados na lista dos mais lembrados pelo governo.

Emendas somam quase R$ 50 bilhões

A liberação de emendas individuais — que somam R$ 25 bilhões em 2024 — é apenas um microcosmo da disputa por recursos no Congresso. Além delas, deputados e senadores têm acesso a emendas de comissão, na prática as substitutas do orçamento secreto de Bolsonaro, que receberam um aporte de R$ 15,3 bilhões. Há ainda as emendas de bancadas estaduais, que garantem outros R$ 8,5 bilhões. Com isso, o Congresso controla hoje quase R$ 50 bilhões em ano de eleições municipais.

Por isso, a liberação de emendas tem sido um motivo constante de embates entre o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e a articulação política do governo, centralizada na figura do ministro Alexandre Padilha, titular da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência.

Lira tenta manter o poder de distribuir e liberar esses recursos — função terceirizada para ele e outros caciques do Congresso durante o governo Bolsonaro — enquanto Padilha assume a determinação de Lula de manter no governo a decisão de quem e quando atender com o destravamento dos recursos.

 

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