Por Cleber Lourenço
O ICL Notícias teve acesso ao relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), publicado em fevereiro de 2024, que detalha os resultados da auditoria realizada no INSS.
Relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) revela uma série de falhas estruturais e operacionais na gestão do crédito consignado operado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O documento, elaborado a partir de auditoria realizada nos anos de 2022 e 2023, demonstra que milhões de beneficiários foram expostos a riscos de endividamento excessivo, fraudes contratuais e falta de acesso a informações claras sobre os serviços contratados. Ao mesmo tempo, o INSS revela fragilidades em seus mecanismos de controle, rastreamento, fiscalização e transparência.
A auditoria teve como foco a conformidade dos descontos em folha para pagamento de crédito consignado, a fiscalização das instituições financeiras credenciadas, a divulgação de informações ao público e os processos de ressarcimento dos custos operacionais suportados pelo INSS. Entre os achados mais relevantes está a identificação de mais de 600 mil contratos com taxas de juros superiores ao teto legal e 2.812 contratos realizados com beneficiários inelegíveis, contrariando normas atualizadas em 2023.

Previdência social (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
A principal ferramenta usada pelo INSS para operação dos créditos é o sistema e-Consignado, administrado pela Dataprev. De acordo com a CGU, mais da metade dos contratos ativos nessa plataforma continha erros ou dados ausentes.
Em 66,4% dos contratos, não havia informação sobre o valor do IOF cobrado. Em 55,3%, os registros indicavam, erroneamente, que o valor do empréstimo era igual ao total a pagar, simulando uma operação sem juros. Há ainda casos em que o valor liberado era igual a zero ou superior ao valor efetivamente contratado. Isso compromete não apenas a legalidade das operações, mas também a capacidade do INSS de fiscalizar e proteger seus segurados.
A falta de obrigatoriedade, até recentemente, do preenchimento de campos essenciais como taxa de juros anual, Custo Efetivo Total (CET), valor do seguro prestamista e data de liberação do crédito foi apontada como um dos principais gargalos operacionais. A CGU destacou que essas omissões impedem a checagem da legalidade dos contratos e facilitam a cobrança de tarifas indevidas, como a Taxa de Abertura de Crédito (TAC), mesmo nos casos em que essa prática é proibida.

Página 19 do relatório
Outro ponto grave é a ausência de fiscalização rotineira por parte do INSS sobre o cumprimento dos Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) firmados com os bancos. Desde 2020, todas as investigações sobre irregularidades foram iniciadas por terceiros, como órgãos de controle e Ministério Público. Mesmo instituições com convênios rescindidos seguiram tendo contratos averbados entre 2018 e 2020.
Outros pontos da CGU
A CGU também destaca a falta de utilização ativa da plataforma consumidor.gov.br, que registrou, em 2022, o crédito consignado como o terceiro tema com mais reclamações entre pessoas acima de 60 anos. As manifestações mais recorrentes incluíam contratação sem autorização, cobrança indevida de taxas, retenção de valores e venda casada de produtos financeiros.
O Painel de Gestão da Dataprev, criado para agregar dados e apoiar o controle gerencial das operações, apresentava informações desatualizadas e inconsistentes. Em julho de 2023, os contratos mais recentes exibidos datavam de abril daquele ano. O valor total dos contratos ativos registrado no Painel era cerca de 40% menor que o registrado na base do e-Consignado, inviabilizando o uso da ferramenta para fiscalização eficaz.
Tampouco havia divulgação sistemática da lista de bancos e entidades habilitadas a operar consignado junto ao INSS, como exige a IN PRES/INSS nº 138/2022. A lista publicada era de 2022 e não detalhava quais instituições estavam efetivamente operando. O site do INSS também carecia de informações claras para o público sobre condições contratuais, orientações de prevenção a fraudes, formas de reclamação ou meios de consulta aos contratos ativos.
A ausência de uma normatização formal para o cálculo e a cobrança dos custos operacionais do INSS também foi alvo de crítica. Entre 2018 e 2021, os valores cobrados das instituições consignatárias foram apurados com base em metodologia simplificada, sem registro formal dos cálculos, sem planilhas padronizadas e com dados incompletos.
Em 2020, o INSS não contabilizou 37 mil atendimentos presenciais relacionados ao consignado, subavaliando os custos em mais de R$ 11 milhões. Em 2021, a autarquia superestimou em mais de R$ 10 milhões os custos atribuídos à Central 135, após erro na quantificação de atendimentos.
Ao todo, a CGU identificou mais de R$ 1,2 milhão que deveriam ter sido pagos por bancos ao INSS e permanecem em aberto. Não houve registros de cobranças reiteradas nem aplicação de penalidades, indicando falha no acompanhamento de débitos. A falta de regras sobre prazos, penalidades e encargos também compromete a eficácia do ressarcimento.
Diante desse cenário, o relatório apresenta 11 recomendações estruturantes. Entre elas, estão a obrigatoriedade do envio de dados completos pelas instituições financeiras, o aperfeiçoamento das validações no e-Consignado, a criação de uma rotina de análise de risco com base em dados da plataforma consumidor.gov.br, a publicação de relatórios mensais sobre operações e resultados e a normatização dos processos de cálculo, cobrança e monitoramento dos ressarcimentos.
A CGU registrou que, na ocasião, o INSS acolheu as recomendações e informou que traria novas providências no processo de monitoramento.
Pergunte ao Chat ICL
Relacionados
Governo fecha tropa de choque da base na Câmara para CPMI do INSS
Reunião na noite desta segunda (7) definiu titulares e suplentes do governo na comissão, além de esboçar nomes para o Senado
INSS: mais de 2 milhões de aposentados estão aptos a ser ressarcidos
Pagamento por descontos indevidos começam no dia 24 deste mês
Consignado CLT: veja quem tem direito e como solicitar
Nova linha de crédito foi aprovada nesta quarta (2) pelo Senado