O quanto a gente deve — ou não deve — se incomodar com os comentários e críticas que recebemos nas redes? Quanto vale a paz de não se afetar com os julgamentos? Talvez a pergunta mais adequada seja: a gente consegue não se incomodar?
Alguns diriam que a resposta é simples: saia das redes, desligue-se, não exponha a sua vida. Fácil dizer. Difícil é praticar o desapego num tempo em que mostrar é quase respirar.
Posso alegar que vivo da minha imagem — logo, expor minha vida seria quase parte do ofício — mas seria um pouco hipócrita da minha parte. Sou contadora de histórias; é irresistível ter uma ferramenta na mão e não narrar a minha própria travessia. A questão é dosar o que expor e segurar a onda dos comentários maldosos.
Gosto da maneira como a atriz Paolla Oliveira enfrenta isso. Abre uma live, fala do que sente, se humaniza. E, com um sorriso afiado, manda aquele “abraço” aos incomodados. Gosto!
Mas nem sempre é simples. Confesso que a maldade, às vezes, me atravessa e é dolorido. Aquele comentário ácido, gratuito, que não quer somar, só ferir, normalmente chega travestido de opinião, mas fala da sua aparência, idade ou da sua alegria “demasiada” – ainda mais quando vem de outra mulher.
Nesta semana, consegui treinar todos os dias — o que, para mim, é uma vitória. Trabalho em dois lugares, são pelo menos 14 horas de ralação. Postei, orgulhosa, minha conquista. E logo veio acusação: “marketing”. Naquele caso, não era. E se fosse marketing da academia que eu amo, qual o problema? Já fui chamada, “com carinho”, de gorda, progressista maldita, mal amada. Meus amigos e amigas passaram por situações ainda piores, mas o ponto não é a dose do veneno — é o veneno em si e o que ele revela sobre quem o lança.
A trilha do Monte Rinjani, na Indonésia, onde Juliana Marins foi abandonada, agora está recebendo uma enxurrada de turistas depois da morte dela. Ser humano é esquisito. A tragédia atrai. A dor vira espetáculo. Mentiras se espalham mais rápido que verdades. Falhas ecoam mais alto que conquistas. Histórias tristes viralizam com mais força que as felizes. Em qual momento a gente se perdeu tanto, hein?
Coisas simples são imensas — como, por exemplo, cuidar da própria vida sem ferir o outro.