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Quem é o comandante que assumiu o Bope após operação com morte em festa junina no RJ

Tenente-coronel Marcelo Corbage já foi investigado por corrupção e teve empresa envolvida em caso de racismo
20/06/2025 | 17h28
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Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo

A operação policial ocorrida durante uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, zona sul do Rio de Janeiro, provocou mudanças no comando do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Com a exoneração do coronel Aristheu de Góes Lopes, o tenente-coronel Marcelo Corbage assumiu a tropa de elite da Polícia Militar fluminense. Corbage já foi alvo de uma investigação por corrupção e teve uma empresa de segurança envolvida em um caso de racismo.

Durante a ação, o office boy Herus Guimarães Mendes da Conceição, de 24 anos, foi morto, e outras cinco pessoas ficaram feridas. Os policiais chegaram à comunidade por volta das 3h da manhã do dia 7 de junho, um sábado, quando acontecia uma festa junina com quadrilhas de diversas regiões da cidade.

A repercussão negativa levou o governador Cláudio Castro (PL) a afastar os policiais envolvidos, bem como os superiores que autorizaram a operação. Em publicação na rede social X, Castro afirmou estar “indignado e triste” com o desfecho letal da ação.

A troca no comando do Bope foi anunciada dois dias depois e confirmada pela assessoria da Secretaria de Estado da Polícia Militar (SEPM) à reportagem da Ponte. Questionada sobre o histórico de Corbage e os critérios para sua nomeação, a SEPM não respondeu integralmente aos questionamentos.

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Marcelo Corbage é o novo comandante do Bope no Rio de Janeiro (Foto: Divulgação/PMERJ)

Afastado do Bope e investigação por corrupção

Em 2015, Corbage foi afastado do Bope e investigado sob suspeita de desviar dinheiro de uma facção criminosa. A investigação foi aberta após denúncia anônima recebida pelo Disque-Denúncia, logo após uma operação no Morro da Covanca, na zona oeste do Rio.

Segundo uma testemunha, seis policiais militares — entre eles Corbage — teriam apreendido R$ 1,8 milhão dos traficantes. No entanto, ao registrarem a ocorrência na delegacia, nenhuma quantia foi apresentada. Na mesma ação, quatro pessoas foram mortas.

A Corregedoria da PM realizou buscas na sede do Bope, inspecionando armários usados pelos agentes. Também foram cumpridos mandados de busca nas casas de alguns envolvidos. Nessas diligências, foram encontradas armas irregulares e dinheiro em espécie.

O Inquérito Policial Militar (IPM) foi concluído no ano seguinte e encaminhado à Auditoria de Justiça Militar do Estado do Rio de Janeiro (AJMERJ). De acordo com a SEPM, não foram encontrados indícios de crime ou transgressão disciplinar por parte de Corbage.

Racismo em shopping e empresa irregular

Cinco anos depois, em 2020, Corbage voltou a ser citado em uma nova polêmica. Funcionários da empresa de segurança Moura Corbage Serviços Gerais, da qual ele era sócio, abordaram um jovem negro no shopping Ilha Plaza, na Ilha do Governador. O entregador foi ao local para trocar um relógio que havia presenteado ao pai, mas foi retirado da loja por dois policiais militares que atuavam para a empresa. Um deles teria apontado uma arma contra o rapaz.

O chefe da segurança do shopping declarou à Polícia Civil que a empresa prestava “apoio de inteligência” aos vigilantes e porteiros. Os funcionários da Moura Corbage atuavam à paisana e estavam armados. Na época, Corbage trabalhava no Centro de Instrução Especializada e Pesquisa Policial (CIEsPP), responsável por treinamentos em técnicas de controle de multidões e uso diferenciado da força. Reportagem do jornal Extra revelou que a Receita Federal identificava Corbage como sócio da empresa.

Embora o Código Penal Militar permita que oficiais sejam sócios de empresas, eles não podem administrá-las. O chefe da segurança do shopping, no entanto, afirmou que Corbage era o responsável direto pela empresa — o que configuraria violação da norma.

O jornal O Globo também revelou que a empresa não possuía autorização da Polícia Federal para prestar serviços de segurança armada, o que é obrigatório para esse tipo de atividade. Dessa forma, a empresa atuava de forma irregular.

A Ponte encontrou ativa, na base da Receita Federal, a empresa Prisma Gestão de Segurança e Serviços — nome fantasia então vinculado à Moura Corbage. Atualmente, ela é registrada sob o nome Impetus Facilities e tem como administradora Priscila Moura Corbage. Marcelo Corbage não aparece mais no quadro societário. A empresa atua com seleção e gerenciamento de mão de obra, segurança e monitoramento eletrônico.

Antes de assumir o Bope, Corbage comandava o 22º BPM, que atende à região do Complexo da Maré.

Críticas de movimentos sociais

Para Fransérgio Goulart, coordenador da Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), a mudança no comando do Bope não representa uma transformação real na política de segurança pública. Segundo ele, o problema é estrutural e institucional, não individual.

“O problema do Bope é para que ele serve, o que ele representa dentro dos territórios de favelas. Não se trata de fulano A, B ou C. As atrocidades, as violações vão continuar. É indiferente. Porque a responsabilização não vai para um governador, não vai para a própria instituição”, afirma.

Goulart define Corbage como uma figura controversa: “É alguém que nem deveria estar ali, mas é como o Estado funciona. Troca-se um violador por outro violador e a máquina de produzir morte continua. Essa é a lógica”, completa.

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