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Por Gustavo Cabral *

Nos últimos anos, a coqueluche tem emergido como um desafio de saúde pública global, com aumentos significativos de casos reportados em várias regiões do mundo. O Ministério da Saúde (MS) alerta para a crescente incidência da doença, que tem preocupado autoridades de saúde devido ao impacto nas populações vulneráveis e na saúde pública em geral.

Num cenário global, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), o número de casos de coqueluche na Europa tem alcançado níveis alarmantes. Entre janeiro e março de 2024, mais de 32 mil casos foram registrados, superando o total de todo o ano de 2023. Esta tendência indica um ressurgimento significativo da doença na região, apesar dos esforços contínuos para controlá-la.

Na Ásia, particularmente na China, a situação não é menos preocupante. Segundo um estudo publicado no Journal of Infection, os casos de coqueluche atingiram picos altíssimos, com quase 40 mil casos reportados tanto em 2022 quanto em 2023. Este aumento substancial reflete um desafio contínuo para os sistemas de saúde da região, que buscam implementar estratégias eficazes de prevenção e controle da doença.

O Brasil não está imune a essa tendência global preocupante. O MS tem observado um aumento significativo no número de notificações de coqueluche em todo o país. Essa elevação nos casos levanta preocupações sobre a eficácia das campanhas de vacinação e a necessidade de intensificação das medidas preventivas.

A coqueluche é altamente contagiosa e pode representar um risco significativo, especialmente para crianças não vacinadas ou com imunidade comprometida. Os sintomas iniciais podem ser facilmente confundidos com os de um resfriado comum, o que pode dificultar o diagnóstico precoce e o tratamento adequado da doença.

Portanto, é crucial que todos nós nos empenhemos para garantir que as estratégias de controle e prevenção sejam eficazes. Em uma era de disseminação de desinformação sobre vacinas, enfrentar esse desafio se torna ainda mais difícil, exigindo um esforço coletivo e contínuo.

Não podemos subestimar a importância das autoridades de saúde pública em adotar medidas robustas para conter a propagação da coqueluche. Isso inclui a promoção da vacinação universal, especialmente entre crianças pequenas e grupos de alto risco, uma iniciativa na qual o MS tem desempenhado um papel crucial.

Além disso, é essencial continuar educando a população sobre os sinais e sintomas da doença para facilitar um diagnóstico precoce e um tratamento adequado. Reforçar a vigilância epidemiológica é fundamental para monitorar de perto a incidência da doença e responder prontamente a surtos locais.

A cooperação internacional também desempenha um papel crucial na troca de informações e na implementação de melhores práticas para enfrentar o desafio global da coqueluche de maneira eficaz e coordenada.

Reitero a importância de todos nós nos engajarmos nessa luta, especialmente em tempos em que a desinformação tem levado à queda nas taxas de vacinação. Compartilhar informações precisas sobre uma doença que é prevenível por meio de uma vacina eficaz e segura é essencial para proteger nossa comunidade e nossas crianças.

Com isso, vamos abordar questões importantes, como: o que é coqueluche? Quais os fatores de risco? Como ocorre a transmissão? Tem vacinas disponíveis? etc.

A coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetellapertussis, amplamente disseminada pelo mundo. Seu sintoma característico são crises de tosse seca que também podem afetar a traqueia e os brônquios.

Em crianças menores de seis meses, a doença pode resultar em complicações graves, às vezes fatais se não tratadas adequadamente. A imunidade contra a coqueluche em crianças é adquirida através da administração das três doses da vacina, com reforços recomendados aos 15 meses e aos 4 anos. A falta de vacinação é um dos principais fatores de risco para a doença.

A coqueluche se propaga principalmente através do contato direto de indivíduos infectados com pessoas não imunizadas, transmitida por meio de gotículas expelidas durante tosses, espirros ou ao falar. Embora menos comum, a contaminação também pode ocorrer por contato com objetos recentemente contaminados com secreções de portadores da doença.

O período de incubação, ou seja, o tempo decorrido entre a exposição da pessoa à bactéria causadora da coqueluche e a manifestação da doença, varia consideravelmente, geralmente de 5 a 10 dias, mas pode se estender de 4 a 21 dias e, excepcionalmente, até 42 dias.

O diagnóstico precoce da coqueluche apresenta desafios significativos devido à semelhança inicial dos sintomas com resfriados e outras doenças respiratórias. A presença de tosse persistente e seca é um indicativo forte, mas para confirmar o diagnóstico, os médicos frequentemente solicitam exames específicos, como coleta de material da nasofaringe para cultura bacteriana ou PCR em tempo real. Exames complementares como hemograma e radiografia de tórax também podem ser realizados para auxiliar no diagnóstico.

O tratamento da coqueluche envolve principalmente o uso de antibióticos, que devem ser administrados sob supervisão médica especializada, ajustados conforme as características individuais de cada paciente. É crucial buscar assistência médica assim que surgirem os primeiros sinais e sintomas da doença, garantindo um diagnóstico preciso e o início imediato do tratamento adequado.

Em casos de crianças diagnosticadas com coqueluche, é comum que recebam cuidados hospitalares, especialmente devido à gravidade dos sintomas nessa faixa etária, que podem representar risco de complicações sérias.

Para prevenir complicações graves e tratamentos intensivos da coqueluche, é crucial buscar a vacinação. A vacina é a melhor defesa contra doenças infecciosas como a coqueluche. A preocupação com a circulação global da doença aumenta devido à globalização, com eventos como os Jogos Olímpicos de Paris em breve, o que pode facilitar a propagação da doença.

O aumento de casos na Europa ressalta a importância de medidas preventivas rigorosas para evitar impactos na saúde pública mundial. Vacinar crianças não apenas protege individualmente, mas também contribui para a segurança coletiva, transmitindo a mensagem de que a vacinação é segura e salva vidas.

*Imunologista PhD e Coordenador de Pesquisa no Departamento de Infectologia e Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP, para o desenvolvimento tecnológico de vacinas aplicadas contra Covid-19, Chikungunya, Zika e Dengue vírus.

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