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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Delegado próximo a Brazão foi escolhido para investigar milicianos

Ex-segurança de conselheiro do TCE, William Pena Junior comandou Draco durante Caso Marielle
25/03/2024 | 11h43

Por Igor Mello e Karla Gamba

Domingos Brazão, preso ontem sob a acusação de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), conseguiu emplacar um nome de confiança em diversos cargos estratégicos na Polícia Civil, entre eles o comando da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), especializada responsável por investigar milícias e o jogo do bicho. O delegado William Pena Junior foi segurança do conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, segundo investigação da Polícia Federal.

Antes de ser delegado, Pena Junior foi policial penal no Rio de Janeiro e, segundo a PF, foi nessa época que passou a trabalhar com a família Brazão. Já delegado, ele ganhou destaque na corporação nos últimos anos. Assumiu o comando da Draco no primeiro semestre de 2020, pouco mais de dois anos depois do assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes. Na especializada, uma de suas funções era investigar a grilagem de terras e ações clandestinas no mercado imobiliário por milicianos, motivação apontada pela PF para que Domingos e seu irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão, decidissem assassinar Marielle.

Ainda segundo a PF, a ingerência de Brazão continuou catapultando a carreira de Pena Junior até recentemente. Em outubro de 2023, ele foi nomeado subsecretário de Planejamento e Integração Operacional da Polícia Civil — a PF afirma que isso ocorreu por indicação de Brazão. Antes, ele já havia sido nomeado pelo governador Cláudio Castro para comandar o Detro (Departamento de Estradas de Rodagem), órgão responsável por fiscalizar as vans intermunicipais, um dos setores explorados por milicianos no Grande rio.

A proximidade do delegado com o grupo de Brazão é evidenciada por outros fatos. Ele foi sócio de Robson Calixto Fonseca, o Peixe, assessor de Brazão e outro alvo da operação da PF ontem. Segundo as investigações, Peixe foi o responsável por intermediar o convite para que Lessa fosse se encontrar com os irmãos Brazão, ocasião em que recebeu a oferta para cometer a execução.

Nota na íntegra do delegado Willian Pena Júnior:

“É necessário separar os fatos para não haver uma falsa narrativa. Conheço Robson Calixto desde 2001. Fomos concunhados. Eu sequer era policial. E mantemos amizade até os dias de hoje. Eu e minha família somos amigos dele. Tentamos uma sociedade, que durou pouco tempo, em virtude de não ser possível naquela época conciliar minha trajetória com a atividade empresarial. Salvo engano saí da sociedade em 2015. Conheço o Conselheiro Domingos Brazão antes de ser policial, pois parte da minha vida foi em Jacarepaguá. Mas, nunca tive relacionamento íntimo com ele. Conheço também outros conselheiros e deputados. É totalmente equivocada a informação de que fui nomeado por sua indicação. Em verdade, acabei sendo SSPIO por determinado delegado ter sido vetado à época. Mantenho relacionamento com Dr José Renato Torres, quem me nomeou, independente do Conselheiro. O convite, inclusive, foi para outro cargo que não SSPIO. Aliás, graças a Deus nunca precisei de nenhuma indicação política para qualquer cargo dentro da polícia civil. Tampouco sei de onde concluíram que fui segurança de Brazão. Nunca fiz segurança pessoal de ninguém.Minha festa de formatura foi numa casa de festas chamada Lajedo, em Vargem Grande. Mas, já fiz outros eventos (como aniversários) no sítio da famiiia, há muitos anos. Aliás, o local é sempre disponibilizado para inúmeras pessoas conhecidas ou não. Por fim, embora bastante tranquilo, me sinto triste por verificar a tentativa de humilhação e vinculação pública da minha imagem a um fato tão grave. Bastava um telefonema que eu teria explicado minha relação com Robson Calixto, que é de amizade. Como titular da Draco, prendi as maiores lideranças de milícia nos últimos 7 anos. Incluindo, todas as maiores lideranças de Jacarepaguá. E, jamais, precisei ser indicado por alguém para qualquer delegacia ! E por onde passei, exerci bons trabalhos. Essa é a verdade e ela nunca morrerá.”

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